O homem que queria ser Deus

Sempre achar que pode fazer.
De quem é esta idéia
a inventar inventos de invenções?
Quem planta melhor que a mãe da planta?
Quem tira o sal da água salobra
até que ela se torne remanso
melhor que o caminho suave das nuvens
que deságuam em nascentes
através do colo das folhas
banhada pela fria chuva
até que de novo se tornem mar?
De quem é esta idéia que diz
que mata mais do que a própria morte,
que descobrirá a origem e o fim de tudo quanto há,
que matará e depois ressuscitará os que já morreram
assoprando-lhes soluções eletro - químicas
no momento de sua clonagem?
Para quê tantas besteiras?
Se a vida brota sem nenhum esforço de nossa parte,
que ela ultrapasse a própria vontade de viver
e a morte venha de forma digna
pois só assim podemos encontrar quem já se foi
Que as mães árvores, as grandes mães,
nunca deixem de semear suas sementes
que a semente quando estiver na terra
floresça a esperança.
Que a terra possa novamente
acolher aqueles que dela queiram participar
que as matas cresçam a ponto de romper
as cercas e fronteiras para que a onça do mato
possa correr a sua corrida de soslaio.
Que o sangue dos avós dos avós
que em nós vive possa ser ouvido
em pedido de conselho
para que nos mostre como viveu aqui
por tanto tempo
muito antes do encontro com as grandes
plantações e as imensas criações de gado
que financiam as motoserras
na ânsia de alimentar com madeira
o povo predador ávido de ganâncias.
Busquem nos berços da natureza,
onde ainda nascem sementes,
e peçam-lhes uma muda
depois espalhem-nas por toda à parte
que a vida, por si, se espalhará.
Deixe as que nascer crescer e soltar
seus frutos para que alimentem os que sentem fome.

déco
Araraquara 09-08-99

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