Se não se olha para o lado

Que saco tudo isto, uma espécie de tédio este lugar,
Não se vê graça em quase nada
Talvez o mundo pareça não suportar mais as coisas
As mesmas músicas a quase todo momento:
“eu quero êxtase”.
As pessoas sem saber o que fazer.
Só se ouve falar nas desgraças do mundo
“Quatro cavaleiros andarão pela terra,
mas ainda não será o fim”
“não sei aonde faltará água”
“alimentos transgenicados em outros
não tão mesmos metamorfosearão seu ambiente
seja gástrico ou vegetal.”
“gatos e cachorros invadem cidades
e é preciso vasectomisá-los”
mas quando eles não conseguirem nascer mais
o humano morrerá de tanto estar sozinho.
Até aonde procurará ele companhia
para o seu espírito solitário?
No além dos aléns das estrelas?
Com quantas máquinas procurará
nos confins do universo o seu “próximo” animal?
-Que brilho solitário brilhará
em seus olhos, alma andante.
Não pode mais ver seu reflexo no olho de um outro?
“assim será o fim”?
uma busca de nós nos outros que já se foram
deixando para a posteridade uma eterna procura.
Estamos sozinhos aqui?
Se não se olha para os bichos...
se não se conversa com as plantas e os bichos,
do mais pequeno voador aos sumidos desprezíveis,
os sapos, quero-quero, jequitibá, gavião pombo
e garrancho, tié fogo e preto, traíra, cará, queima-campo, raposa,
sem-fim, fogo-pagou, juriti, lagarto, embaúva, saúva,
cateto, pia-cobra, jaguatirica, saracura, lambari,
robalo, sobe-serra, tuvira, urubu, jararaca, quati,
mão-pelada, sairinha, arapuá, piolho de cobra...
e tantos outros, porque ainda estão todos aqui.

déco
Araraquara 09-08-1999
(do livro Vento Caminhador)

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