Aos que acompanham o LITERATO DO VALE e que gostariam de ver a série de poemas "P"EM PEDRINHAS na intregra e outras séries de poemas visuais que ainda estão por vir do poeta Julio César, confira no endereço www.brutoabrupto.blogspot.com.br.Lá vocês poderam conferir o trabalho de outros poetas como:Fernando Campos, Ana Luci, Osvaldo Matsuda, e Nestor Rocha.
jacatirão estóra muito
um senhor bateu palmas na porta de casa
queria um serviço
procurei
podia ser lenha pro fogão?
acertamo
queria um real "pra tomar café'
não tinha
ofereci o café
fiquei sabendo
que o jacatirão é uma lenha que estora muito
déco
agora 8 e 35
28/11/2009
sete barras
queria um serviço
procurei
podia ser lenha pro fogão?
acertamo
queria um real "pra tomar café'
não tinha
ofereci o café
fiquei sabendo
que o jacatirão é uma lenha que estora muito
déco
agora 8 e 35
28/11/2009
sete barras
cigarras
as cigarras cantam
agora
incessantemente
começaram no final de novembro
era pra ser em setembro
das 5 e meia até pouco prás 6
ficam o dia inteiro fazendo não sei o quê
voltam com o príncipio da noite
ficam até pouco depois das 8
tem algumas que cantam
solitárias
meio locas
de madrugada
déco
agora/8 e 12
28/11/2009
sete barras
agora
incessantemente
começaram no final de novembro
era pra ser em setembro
das 5 e meia até pouco prás 6
ficam o dia inteiro fazendo não sei o quê
voltam com o príncipio da noite
ficam até pouco depois das 8
tem algumas que cantam
solitárias
meio locas
de madrugada
déco
agora/8 e 12
28/11/2009
sete barras
Miracatu, riquezas em versos
Magistral mãe,mágica
Majestosa, meiga
Matas,mato,madeira
Morros, montanhas
Mensagens, melodias,memórias,mistérios
Muito mais motivos
Modificam minha mente
Metáfora? Métrica? Miragem? método? Milagre?
Movimenta multidões,
Mistura,modifica,muda mundos,
Multiplica maravilhas,
Misteriosa,magnífica,
Miracatu.
Intenso interesse
Inclusive idéias iluminadas,idôneas
Imensa imaginação,inconfundível
Impecável inconstância
Impossível indagar "in-versos"
Índios,indivíduos,infâncias,influências
Incomparável,inigualável,incrível,
Inegavelmente ideal.
Riquezas raríssimas
Ricas reservas,
Relevante relevo
Rios,rebentos,ribeiras,poças,raízes,
Ruas,ramagens,rosas,
Razões reais,reflexões rápidas
Resultados? Reconhecimentos,recompensas.
Roteiro? Retornar,reciclar,reagir,reaproximar,reviver.
Relíquia,raridade.
Abraçar aquela antiga amiga
Abraçar aquele antigo amigo
Aliás,aqueles arredores ajuntam alegrias,
Adubar aquela árvore ainda adolescente
Atenção,assim avançamos,
adiquirimos amizades,aplausos,
Àquela área aprazível,autêntica.
Célebre cenário:cores,céus,cipós,capins,calor,chuva,
Caminhos,canções,carícias,consciência
Complexas culturas,costumes,crenças,...
Caipiras cultivam, criam crianças contentes, com carinho
Coincidência? Constante clima carinhoso,
Confortável caráter coerente.
Ah!Ano após ano
Amanhecer ao abrigo abundante
Ar,água,árvores,artes,acalantos,amores
Aprender a apreciá-la,aplaudi-la
Apenas anexar amores,adrenalina,adjetivos
Alguns amavios,amiúde agradecimentos.
Trilhas,tribos,troncos,tabaréus,tradições
Talento tangível:textos,tintas,tambores
Tem tanta técnica,tendências,táticas
Torlerar,traçar tonalidades
Turistas,trabalhadores
Transmitir,transferir,transportar teorias
Tornar tudo tipo ternura
Temos tanto tempo
Ter...triunfar!
Usar,usufruir,utilizá-la
Uma unidade útil
Utilizando uma união universal,
Utopia? Urgência única!
PEQUENO
( JOHNNY DE OLIVEIRA ALVES )
Majestosa, meiga
Matas,mato,madeira
Morros, montanhas
Mensagens, melodias,memórias,mistérios
Muito mais motivos
Modificam minha mente
Metáfora? Métrica? Miragem? método? Milagre?
Movimenta multidões,
Mistura,modifica,muda mundos,
Multiplica maravilhas,
Misteriosa,magnífica,
Miracatu.
Intenso interesse
Inclusive idéias iluminadas,idôneas
Imensa imaginação,inconfundível
Impecável inconstância
Impossível indagar "in-versos"
Índios,indivíduos,infâncias,influências
Incomparável,inigualável,incrível,
Inegavelmente ideal.
Riquezas raríssimas
Ricas reservas,
Relevante relevo
Rios,rebentos,ribeiras,poças,raízes,
Ruas,ramagens,rosas,
Razões reais,reflexões rápidas
Resultados? Reconhecimentos,recompensas.
Roteiro? Retornar,reciclar,reagir,reaproximar,reviver.
Relíquia,raridade.
Abraçar aquela antiga amiga
Abraçar aquele antigo amigo
Aliás,aqueles arredores ajuntam alegrias,
Adubar aquela árvore ainda adolescente
Atenção,assim avançamos,
adiquirimos amizades,aplausos,
Àquela área aprazível,autêntica.
Célebre cenário:cores,céus,cipós,capins,calor,chuva,
Caminhos,canções,carícias,consciência
Complexas culturas,costumes,crenças,...
Caipiras cultivam, criam crianças contentes, com carinho
Coincidência? Constante clima carinhoso,
Confortável caráter coerente.
Ah!Ano após ano
Amanhecer ao abrigo abundante
Ar,água,árvores,artes,acalantos,amores
Aprender a apreciá-la,aplaudi-la
Apenas anexar amores,adrenalina,adjetivos
Alguns amavios,amiúde agradecimentos.
Trilhas,tribos,troncos,tabaréus,tradições
Talento tangível:textos,tintas,tambores
Tem tanta técnica,tendências,táticas
Torlerar,traçar tonalidades
Turistas,trabalhadores
Transmitir,transferir,transportar teorias
Tornar tudo tipo ternura
Temos tanto tempo
Ter...triunfar!
Usar,usufruir,utilizá-la
Uma unidade útil
Utilizando uma união universal,
Utopia? Urgência única!
PEQUENO
( JOHNNY DE OLIVEIRA ALVES )
não me canso de falar da falta de memória
fiquei só pensando só na falta da memória
o Júnior não se lembra
que foi ele quem não deixou
o povo virar o carro de som da CUT
com uma família,
pai motorista mãe e filhinho em dia de parque,
dentro
na paralização da BR 116
quando o Raul Gutierrez morreu
lá na saída de Miracatu.
o Júnior só gritou só na hora certa:
"não vai virá essa porra não"
a árvore que plantei
me contaram que foi alguém
que tinha passado por ali
anos antes
que tinha deixado uma muda
conversando fiquei sabendo
de coisas que tinha feito
e que eram bem importantes
falou tanto do galo
que se esqueceu
que aquilo foi o mínimo,
ainda bem,
que tinha acontecido.
ouvi dizê que o que era falado
parece que tinha caído do céu
e o Serjo já escreveu maisou menos desse jeito
deco
agora/10 prás 11/
27/11/2009
sete barras
o Júnior não se lembra
que foi ele quem não deixou
o povo virar o carro de som da CUT
com uma família,
pai motorista mãe e filhinho em dia de parque,
dentro
na paralização da BR 116
quando o Raul Gutierrez morreu
lá na saída de Miracatu.
o Júnior só gritou só na hora certa:
"não vai virá essa porra não"
a árvore que plantei
me contaram que foi alguém
que tinha passado por ali
anos antes
que tinha deixado uma muda
conversando fiquei sabendo
de coisas que tinha feito
e que eram bem importantes
falou tanto do galo
que se esqueceu
que aquilo foi o mínimo,
ainda bem,
que tinha acontecido.
ouvi dizê que o que era falado
parece que tinha caído do céu
e o Serjo já escreveu maisou menos desse jeito
deco
agora/10 prás 11/
27/11/2009
sete barras
Dia da Consciência Negra
20 de Novembro
O dia da Consciência Negra
Em alguns lugares
Até é feriado...
Mas o que é Consciência Negra?
Seria a Consciência dos Negros?
E qual é o dia da consciência Branca?
Que seria a Consciência dos brancos?
Afinal, o que é Consciência Negra?
Para mim, consciência significa conhecer,
Significa ter consciência, ter saber,
Quer dizer, que negro tem que ter dia,
Para ter consciência, ter saber...
Todos os dias têm que ser de consciência,
Não apenas os dias Vinte de Novembro!
Todos os dias deviam ser de Consciência,
De todas as raças, de todas as cores...
Raças e cores deviam saber,
Que todas as raças são todos irmãos,
Que todas as cores são de uma origem só,
Que a consciência deve ser uma só.
Vinte de novembro reforça a lembrança,
Que cada um de nós é apenas criança
A gritar um grito pela liberdade
Lá dentro da senzala que somos nós mesmos.
Vinte de novembro reforça a consciência
De que precisamos deixar de ser escravos...
Deixar de ser escravos do Sinhô Preconceito
Deixar de ser escravos da Sinhá Ignorância,
Precisamos soltar os grilhões de nossas almas,
E nos libertar do Sinhô Ódio, do Sinhô Egoísmo,
Senhores que hoje tem nomes diferentes,
E que continuam a escravizar nossas vidas...
Vinte de Novembro vem nos lembrar,
Que somos todos quilombolas em nós mesmos,
Zumbi é a Consciência que grita por liberdade,
Que apenas vamos encontrar na Consciência...
Somos todos tripulantes sofredores,
Dentro do mesmo navio negreiro.
Consciência é uma só.
Negros somos todos nós.
QUEREMOS LIBERDADE!!!
Autor: Lazaro Nascimento
O dia da Consciência Negra
Em alguns lugares
Até é feriado...
Mas o que é Consciência Negra?
Seria a Consciência dos Negros?
E qual é o dia da consciência Branca?
Que seria a Consciência dos brancos?
Afinal, o que é Consciência Negra?
Para mim, consciência significa conhecer,
Significa ter consciência, ter saber,
Quer dizer, que negro tem que ter dia,
Para ter consciência, ter saber...
Todos os dias têm que ser de consciência,
Não apenas os dias Vinte de Novembro!
Todos os dias deviam ser de Consciência,
De todas as raças, de todas as cores...
Raças e cores deviam saber,
Que todas as raças são todos irmãos,
Que todas as cores são de uma origem só,
Que a consciência deve ser uma só.
Vinte de novembro reforça a lembrança,
Que cada um de nós é apenas criança
A gritar um grito pela liberdade
Lá dentro da senzala que somos nós mesmos.
Vinte de novembro reforça a consciência
De que precisamos deixar de ser escravos...
Deixar de ser escravos do Sinhô Preconceito
Deixar de ser escravos da Sinhá Ignorância,
Precisamos soltar os grilhões de nossas almas,
E nos libertar do Sinhô Ódio, do Sinhô Egoísmo,
Senhores que hoje tem nomes diferentes,
E que continuam a escravizar nossas vidas...
Vinte de Novembro vem nos lembrar,
Que somos todos quilombolas em nós mesmos,
Zumbi é a Consciência que grita por liberdade,
Que apenas vamos encontrar na Consciência...
Somos todos tripulantes sofredores,
Dentro do mesmo navio negreiro.
Consciência é uma só.
Negros somos todos nós.
QUEREMOS LIBERDADE!!!
Autor: Lazaro Nascimento
Fusquinha branco
Um dia
Meu fusquinha parou de rodar.
O motor pifou.
A nossa viagem terrestre acabou.
Naquele dia
Teve início a viagem mítica.
Meu fusquinha parou de rodar.
O motor pifou.
A nossa viagem terrestre acabou.
Naquele dia
Teve início a viagem mítica.
A consciência Branca da Globo
Não havia data melhor. Em plena semana da Consciência Negra, a teledramaturgia global reafirma, mais uma vez, a pura reprodução de imagens, palavras e ideais racistas em horário nobre.
Ao elencar a atriz negra Thaís Araújo para protagonista de sua novela das nove, a TV Globo, através de seu funcionário Manoel Carlos, parecia querer responder ao Estatuto da Igualdade Racial idealizado pelo movimento negro que não seria necessário estabelecer cotas para atrizes e atores negros; bem, parece não ter sido à toa que justamente no momento de uma decisão histórica quanto ao conteúdo do referido Estatuto, a Globo tenha lançado ao ar duas novelas com protagonistas negras, atrizes que inclusive têm uma postura racial condizente às suas trajetórias, como são Thaís Araújo e Camila Pitanga. Nas entrelinhas, previa-se uma forjada justificativa à sociedade das "desnecessárias" cotas raciais para os meios de comunicação, já que este espaço vem sendo ocupado pelo núcleo negro da Globo. Convenhamos, uma jogada de mestre; assim, evita-se o "mal maior" para a Consciência Branca do comando global, que é obedecer a lei e fazer cumprir os direitos da pessoa, da população e dos povos negros.
Pois então que nesta semana, no capítulo que foi ao ar na noite do 17 de novembro, com precisão cirúrgica o autor desenhou a cena mais representativa possível da ópera racista contra o verdadeiro protagonismo negro. A suposta protagonista da novela, a personagem de Helena, após ser retirada de seu núcleo familiar negro para transitar exclusivamente num núcleo branco e assim ser sujeita a traições e humilhações, é posta de joelhos diante de uma de suas antagonistas brancas - já que, para uma negra, não basta uma só antagonista, devendo vir elas em número de três: a amante do marido, a filha mimada e infantilizada do marido e a ex-mulher do marido. Não apenas de joelhos, deve pedir perdão de cabeça baixa; não apenas de cabeça baixa, sob o olhar duro e inflexível de sua então dominadora; não apenas isso, como se já não fosse o bastante, deve pedir perdão e ter por resposta uma bofetada no rosto. Para finalizar a cena, a personagem desabafa com uma das melhores amigas que "devia ser assim".
A idéia de protagonista negra, na Globo, enfim foi definida claramente. Uma heroína que, se inicialmente surgia diante de um drama familiar, afirmando um núcleo negro protagonista, como âncora, marco e raiz, veio sendo reduzida dramaturgicamente a pobre vítima de suas três antagonistas brancas, tendo estas enfim recebido mais espaço de visibilidade que a suposta protagonista. O papel, de central, tornou-se periférico, apoio para a virada de jogo das outras atrizes, que passam a receber os aplausos da população e das "críticas" noveleiras de plantão, prontas para limar a atriz negra por seu papel "sem graça".
Ou talvez, pensa o autor que pode salvar o papel de Helena pondo-a no lugar em que acha pertencer à mulher negra. Agora sim, a Globo assinou embaixo de suas verdadeiras posturas ideológicas - mais diretamente, de seu racismo.
Rebeca Oliveira Duarte
Advogada e Cientista Política do Observatório Negro
"Não me digas que não podes; querendo Deus e dando-te coragem, poderás."
(Sócrates, em Platão, "Teeteto")
Rebeca Oliveira Duarte
Observatório Negro
Rua do Sossego, 253 - sala 02 - Boa Vista
Recife-PE - CEP 50.050-080
F: 00 55 81 34231627/94211435
observatorionegro@gmail.com
_________________________
Ao elencar a atriz negra Thaís Araújo para protagonista de sua novela das nove, a TV Globo, através de seu funcionário Manoel Carlos, parecia querer responder ao Estatuto da Igualdade Racial idealizado pelo movimento negro que não seria necessário estabelecer cotas para atrizes e atores negros; bem, parece não ter sido à toa que justamente no momento de uma decisão histórica quanto ao conteúdo do referido Estatuto, a Globo tenha lançado ao ar duas novelas com protagonistas negras, atrizes que inclusive têm uma postura racial condizente às suas trajetórias, como são Thaís Araújo e Camila Pitanga. Nas entrelinhas, previa-se uma forjada justificativa à sociedade das "desnecessárias" cotas raciais para os meios de comunicação, já que este espaço vem sendo ocupado pelo núcleo negro da Globo. Convenhamos, uma jogada de mestre; assim, evita-se o "mal maior" para a Consciência Branca do comando global, que é obedecer a lei e fazer cumprir os direitos da pessoa, da população e dos povos negros.
Pois então que nesta semana, no capítulo que foi ao ar na noite do 17 de novembro, com precisão cirúrgica o autor desenhou a cena mais representativa possível da ópera racista contra o verdadeiro protagonismo negro. A suposta protagonista da novela, a personagem de Helena, após ser retirada de seu núcleo familiar negro para transitar exclusivamente num núcleo branco e assim ser sujeita a traições e humilhações, é posta de joelhos diante de uma de suas antagonistas brancas - já que, para uma negra, não basta uma só antagonista, devendo vir elas em número de três: a amante do marido, a filha mimada e infantilizada do marido e a ex-mulher do marido. Não apenas de joelhos, deve pedir perdão de cabeça baixa; não apenas de cabeça baixa, sob o olhar duro e inflexível de sua então dominadora; não apenas isso, como se já não fosse o bastante, deve pedir perdão e ter por resposta uma bofetada no rosto. Para finalizar a cena, a personagem desabafa com uma das melhores amigas que "devia ser assim".
A idéia de protagonista negra, na Globo, enfim foi definida claramente. Uma heroína que, se inicialmente surgia diante de um drama familiar, afirmando um núcleo negro protagonista, como âncora, marco e raiz, veio sendo reduzida dramaturgicamente a pobre vítima de suas três antagonistas brancas, tendo estas enfim recebido mais espaço de visibilidade que a suposta protagonista. O papel, de central, tornou-se periférico, apoio para a virada de jogo das outras atrizes, que passam a receber os aplausos da população e das "críticas" noveleiras de plantão, prontas para limar a atriz negra por seu papel "sem graça".
Ou talvez, pensa o autor que pode salvar o papel de Helena pondo-a no lugar em que acha pertencer à mulher negra. Agora sim, a Globo assinou embaixo de suas verdadeiras posturas ideológicas - mais diretamente, de seu racismo.
Rebeca Oliveira Duarte
Advogada e Cientista Política do Observatório Negro
"Não me digas que não podes; querendo Deus e dando-te coragem, poderás."
(Sócrates, em Platão, "Teeteto")
Rebeca Oliveira Duarte
Observatório Negro
Rua do Sossego, 253 - sala 02 - Boa Vista
Recife-PE - CEP 50.050-080
F: 00 55 81 34231627/94211435
observatorionegro@gmail.com
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Maria Chules Princesa
Maria Mereciana foi uma das filhas de Bernardo Furquim fundador da
comunidade quilombola de São Pedro as margens do Rio Ribeira de Iguape.
Segundo a fala era uma negra alta de muita coragem e valentia. Casou-se com
gente lá de Nhunguara, era afamada pelo seus dotes de luta, pelos serviços de parteira e benzedeira. Usava sempre um facão de 20 polegadas, caçava e atirava melhor que qualquer homem,ouvia-se sempre relatos de que com maestria e destreza ela enfrentara no mato sozinha uma vara de ferozes porcos do mato.
Como a tradição naqueles tempos aos sábados era dia de visita em casa de parentes , também era dia em que os homens reuniam-se na verada do alambique lá na beira do rio, estavam sempre em corriolas a conversar, isso era
de costume, como era também de tradição o desafio de aloitamento, onde um desafiava o outro para uma brincadeira onde travava-se uma peleja de esquivas,
com movimentos rasteiros e de equilíbrio.
Num desses dias Mereciana chegou onde os homens estavam reunidos debaixo de uma bela árvore, montada em seu cavalo chamado “corrupio”, lá eles estavam
aloitando, quando ela começou a desafiar os homens, aloitou com um rapaz
e lhe deu uma rasteira,desafiou um outro e o venceu com um solavanco com os pés no peito do infeliz, até que ela desafiou um homem que poucos conheciam
por ali e ele numa distração de Mereciana lhe jogou areia nos olhos cegando-a
momentaneamente, aproveitando-se para derrubá-la e humilhá-la zombando
de sua coragem.
Ela manjou bem ele e disse:
- Voismecê me derrubô hoje e eu já to de pé, mas amanhã quando eu te derrubá
voimecê num há de si levantá.
O tempo correu igual as águas do Ribeira quietas e ligeiras,após uma caçada das boas Mereciana havia matado dois bons porcos do mato e através de uma outra negra ofereceu um quarto do bicho ao homem desconhecido que a expusera a dolorosa humilhação na beira di rio. O homem aceitou a gentileza e não se fez de rogado. Só que a partir desse dia o rapaz passou a sofrer de uma estranha enfermidade, caindo de cama, sua pele enrugou e escamou , tal qual um sapo, o
homem agonizou durante vários meses, tempo em que Mereciana estava lá pras
bandas das terras de Caiacanga. Meses depois , ao retornar a região a negra soube da enfermidade do homem e como sua fama de rezadeira e benzedeira era
muito grande atendeu pedido de uma parente do acomedido que fosse fazer uma
visita e rezasse por ele.
Mereciana foi ,chegou até o casebre o quarto esta cheio de visitas, a negra pediu que todos se retirassem. Ela então se aproximou da cama e colocando as mãos sobre a testa do homem ordenou que a doença o libertasse.
Nesse momento dizem que um vulto cinzento desceu do céu e o vento varreu a casa toda, arrebentou as tramelas das janelas e portas e “penteou” todo o matagal que beirava o rio, e depois ouviu-se um som de um mergulho na água,
a tal criatura desapareceu, e o homem levantou-se conversando como se nada
tivesse acontecido.
A figura de Maria Mereciana é tão popular entre as comunidades de quilombo de
Eldorado que a escola da comunidade de André Lopes homenageou-a dando nome a primeira escola quilombola de São Paulo “ Maria Chules princesa”.
Julio Cesar da Costa
Lendas de quilombo
ACADEMIA VALERRIBEIRENSE DE LETRAS
Uma foto histórica: nasce a Academia Valerribeirense de Letras.
No último sábado, dia 31 de outubro, no Auditório do KKKK, em Registro, escritores, poetas e jornalistas do Vale do Ribeira participaram do I Encontro Literário que teve por objetivo discutir a fundação da Academia Valerribeirense de Letras e a publicação de uma antologia literária a ser lançada na Bienal do Livro de São Paulo, em agosto do próximo ano.
Participaram do encontro cerca de trinta futuros acadêmicos, entre os quais, Jehoval Júnior, Osvaldo Matsuda, Paulo de Castro Laragnoit, Julio Silva, Roberto Fortes, Júlio César da Costa, Lázaro Nascimento, Luiz dos Passos, Luiz Marco, Marcos Mendes, Deco, Lelis Ribeiro, Paloma dos Santos, Laerte Araujo, Josué Valentim, Cláudia Oliveira Hengler, Marcelo Plácido, Adail Alves de França Júnior, Wanderson Vieira Lopes, Erich Villas Boas, Sônia Maria Pedroso dos Santos, José Carlos de Alencar Júnior, Johnny de Oliveira (Pequeno), Genésio Júnior e Tiago Marques de Oliveira.
Também já confirmaram a participação na Academia Valerribeirense de Letras os seguintes nomes: Filomena Aparecida da Silva (Filó), Sesary Roberto de Oliveira, José Vicente Carneiro Filho, Mônica Bockor, Camilo Aparecido Almeida, Janaína Barbosa, Renato Cavalheiro, Luciano Vitor Dias Liberato, Jack Sawyer, Hadasa, Edson Feitosa de Lima, Selmo Mimo de Oliveira, Hermann Wolpert, Ídolo de Carvalho, Nestor Rocha, Álvaro Ribeiro Domingues, Antônio Lara Mendes, Gastão Ferreira, José Sant´Anna Xavier e Lauriano dos Santos.
O próximo encontro dos literatos será na Expovale, em Registro, quando os futuros acadêmicos terão à sua disposição um estande onde serão expostos os seus trabalhos literários.
Fonte: Blog Alfarrábios de Roberto Fortes
No último sábado, dia 31 de outubro, no Auditório do KKKK, em Registro, escritores, poetas e jornalistas do Vale do Ribeira participaram do I Encontro Literário que teve por objetivo discutir a fundação da Academia Valerribeirense de Letras e a publicação de uma antologia literária a ser lançada na Bienal do Livro de São Paulo, em agosto do próximo ano.
Participaram do encontro cerca de trinta futuros acadêmicos, entre os quais, Jehoval Júnior, Osvaldo Matsuda, Paulo de Castro Laragnoit, Julio Silva, Roberto Fortes, Júlio César da Costa, Lázaro Nascimento, Luiz dos Passos, Luiz Marco, Marcos Mendes, Deco, Lelis Ribeiro, Paloma dos Santos, Laerte Araujo, Josué Valentim, Cláudia Oliveira Hengler, Marcelo Plácido, Adail Alves de França Júnior, Wanderson Vieira Lopes, Erich Villas Boas, Sônia Maria Pedroso dos Santos, José Carlos de Alencar Júnior, Johnny de Oliveira (Pequeno), Genésio Júnior e Tiago Marques de Oliveira.
Também já confirmaram a participação na Academia Valerribeirense de Letras os seguintes nomes: Filomena Aparecida da Silva (Filó), Sesary Roberto de Oliveira, José Vicente Carneiro Filho, Mônica Bockor, Camilo Aparecido Almeida, Janaína Barbosa, Renato Cavalheiro, Luciano Vitor Dias Liberato, Jack Sawyer, Hadasa, Edson Feitosa de Lima, Selmo Mimo de Oliveira, Hermann Wolpert, Ídolo de Carvalho, Nestor Rocha, Álvaro Ribeiro Domingues, Antônio Lara Mendes, Gastão Ferreira, José Sant´Anna Xavier e Lauriano dos Santos.
O próximo encontro dos literatos será na Expovale, em Registro, quando os futuros acadêmicos terão à sua disposição um estande onde serão expostos os seus trabalhos literários.
Fonte: Blog Alfarrábios de Roberto Fortes
TENHO VERGONHA
TENHO VERGONHA
Por ser honesto e acreditar no bem,
Por trabalhar, por merecer meu pão
Por crer em Deus e no que Dele vem
Por muito errar e por pedir perdão...
Por tudo isso eu me sinto um tolo...
Pela ganância que não mora em mim
Por não comprar e me trocar por ouro
Tenho vergonha de ter sido assim...
E mais vergonha por ter me calado
Na hora triste da corrupção...
De ficar mudo e não ter falado
Ao ser roubado como um cidadão...
Tenho vergonha dos falsos amigos
Que me conhecem e apunhalam tanto
Tenho vergonha de guardar comigo
Restos de sonhos e meus desencantos!
Querem que eu parta e não vou embora
Eu amo muito esse nosso chão...
Querem que cale nesse momento agora
Querem que eu traia o meu coração...
Tenho vergonha porque sou honesto
Tenho vergonha de amar demais...
Tenho vergonha e me sinto um resto
De tantas coisas que não vejo mais!
Gastão Ferreira
Crônica - Olhares de um poeta
Através dos encantos da visão, com a lente fixa aos intentos que me cerca, tenho movido corações pra um olhar sublime e terno diante das imagens cintilantes captadas por uma pessoa que vive a chorar em meio às tempestades que tentam naufragar este poeta sonhador...
Não sei até quando o coração deste sonhador vai agüentar bater forte no peito aflito e angustiado pelas marcas do tempo. Contudo, procuro me abster das magoas deixadas num rastro sem igual e caminharei como um vencedor por ter chegado até aqui, mesmo que com cicatrizes perpétuas.
Magoas que está sempre a porta querendo adentrar e fazer seu ninho eterno em um coração que luta com todas as forças pra não ser engolido pelo mundo da desigualdade. Vivo talvez pela poesia não escrita que vem direto das alturas em forma de alento pra uma alma cansada e muitas vezes irritada com tantas pisadas por um mundo desigual e mesquinho.
Oh!!! minha alma, até quando viverás este martírio dentro de si por não encontrar a esperança que tanto espera... até quando viverás o drama de uma mente perplexa pelas feridas causadas pela vida errante que tens vivido. Tu que desejas viver uma vida de alegrias... encontra-se a mercê das lágrimas que vivem a rolar dos olhos de quem sempre acredita no melhor. Tu que deitas nas noites intermináveis e levantas pelas manhãs sempre na espera de um novo dia radiante de felicidade, mas de repente as mesmas frustrações de anos de buscas não alcançadas tendem a bater a porta do coração dizendo que tudo não passa de uma mera ilusão. Tu que não consegues entender o porquê de tantas surras, já que procuras levar apenas aos corações paz, amor, alegria, e desejas com todo ímpeto a justiça aos injustiçados. Não entende tudo isto? Mas uma coisa é certa, oh minha alma!!!
A alegria chegará e fará de ti regozijos de quem sempre lutou por esperar o grande dia... por mais que o inimigo lhe diga ser uma utopia, Deus lhe diz, ser real e verdadeiro. E este grande dia já está às portas... Chegou o momento que todas as armas do inimigo estão a cair por terra e a vitória para ti é certa, e todo o teu choro se converterá em bonança e muitas felicidades por ter passado o inverno álgido no calabouço assombroso de teu cérebro febril.
Deus é fiel !!!
Luiz Marco
Não sei até quando o coração deste sonhador vai agüentar bater forte no peito aflito e angustiado pelas marcas do tempo. Contudo, procuro me abster das magoas deixadas num rastro sem igual e caminharei como um vencedor por ter chegado até aqui, mesmo que com cicatrizes perpétuas.
Magoas que está sempre a porta querendo adentrar e fazer seu ninho eterno em um coração que luta com todas as forças pra não ser engolido pelo mundo da desigualdade. Vivo talvez pela poesia não escrita que vem direto das alturas em forma de alento pra uma alma cansada e muitas vezes irritada com tantas pisadas por um mundo desigual e mesquinho.
Oh!!! minha alma, até quando viverás este martírio dentro de si por não encontrar a esperança que tanto espera... até quando viverás o drama de uma mente perplexa pelas feridas causadas pela vida errante que tens vivido. Tu que desejas viver uma vida de alegrias... encontra-se a mercê das lágrimas que vivem a rolar dos olhos de quem sempre acredita no melhor. Tu que deitas nas noites intermináveis e levantas pelas manhãs sempre na espera de um novo dia radiante de felicidade, mas de repente as mesmas frustrações de anos de buscas não alcançadas tendem a bater a porta do coração dizendo que tudo não passa de uma mera ilusão. Tu que não consegues entender o porquê de tantas surras, já que procuras levar apenas aos corações paz, amor, alegria, e desejas com todo ímpeto a justiça aos injustiçados. Não entende tudo isto? Mas uma coisa é certa, oh minha alma!!!
A alegria chegará e fará de ti regozijos de quem sempre lutou por esperar o grande dia... por mais que o inimigo lhe diga ser uma utopia, Deus lhe diz, ser real e verdadeiro. E este grande dia já está às portas... Chegou o momento que todas as armas do inimigo estão a cair por terra e a vitória para ti é certa, e todo o teu choro se converterá em bonança e muitas felicidades por ter passado o inverno álgido no calabouço assombroso de teu cérebro febril.
Deus é fiel !!!
Luiz Marco
Na escuridão do pensamento
Na escuridão do meu cérebro febril;
trago lembranças sórdidas do meu viver
quão a uma criança indefesa aos infortúnios.
A cobardia invadia minha alma,
tentando roubar-me o mais precioso;
o intelecto da vida humana.
Sinto através do tempo a maldade tentando
Arrancar de minhas entranhas
o perfume suave do amor.
Mas, esta essência do amor,
tem esquadrinhado o meu ser,
tornando-me capaz de viver sempre o impossível.
Vi-me fisicamente acorrentado no calabouço espantoso,
nos esgotos e na lama que a vida me conduziu,
anestesiado pelos icebergs na alma.
Mas com a certeza de um lindo raio de sol aquecer-me.
Quando criança, um mal trapilho,
pé descalço no chão de barro.
Queimado do sol abrasador,
rastelando folhas secas pelo chão,
ou cortando lenha com machado,
para o jantar a luz de velas.
Às vezes vivendo por viver,
mas no agente da alma,
uma esperança no porvir.
A vida me proporcionaria muitas intempéries.
Mas a chama do querer inundou meu coração
com grandes realizações, trazendo-me o
luminoso sol da justiça sobre minha existência.
Sei que havia dois caminhos para uma escolha,
por motivos da infelicidade; mas Deus brioso e Santo,
proferiu evidências ao amor.
Trazendo o bálsamo da ternura sobre minha alma cansada.
Hoje a emoção faz parte de minha vivência,
tenho compreendido o verdadeiro sentido de viver,
sonhar, superar os traumas das noites sombrias,
sob um luar dourado no lacrimejar de minha alma.
Hoje deslumbro como herói, os marasmos vividos
em minha infância e juventude.
Tenho galgado com amor, coragem e determinação
Todos os acabrunhamentos nesta rica história de vida.
Porfiarei para sempre este amor intenso que me faz feliz.
Querer é poder!...
Luiz Marco
trago lembranças sórdidas do meu viver
quão a uma criança indefesa aos infortúnios.
A cobardia invadia minha alma,
tentando roubar-me o mais precioso;
o intelecto da vida humana.
Sinto através do tempo a maldade tentando
Arrancar de minhas entranhas
o perfume suave do amor.
Mas, esta essência do amor,
tem esquadrinhado o meu ser,
tornando-me capaz de viver sempre o impossível.
Vi-me fisicamente acorrentado no calabouço espantoso,
nos esgotos e na lama que a vida me conduziu,
anestesiado pelos icebergs na alma.
Mas com a certeza de um lindo raio de sol aquecer-me.
Quando criança, um mal trapilho,
pé descalço no chão de barro.
Queimado do sol abrasador,
rastelando folhas secas pelo chão,
ou cortando lenha com machado,
para o jantar a luz de velas.
Às vezes vivendo por viver,
mas no agente da alma,
uma esperança no porvir.
A vida me proporcionaria muitas intempéries.
Mas a chama do querer inundou meu coração
com grandes realizações, trazendo-me o
luminoso sol da justiça sobre minha existência.
Sei que havia dois caminhos para uma escolha,
por motivos da infelicidade; mas Deus brioso e Santo,
proferiu evidências ao amor.
Trazendo o bálsamo da ternura sobre minha alma cansada.
Hoje a emoção faz parte de minha vivência,
tenho compreendido o verdadeiro sentido de viver,
sonhar, superar os traumas das noites sombrias,
sob um luar dourado no lacrimejar de minha alma.
Hoje deslumbro como herói, os marasmos vividos
em minha infância e juventude.
Tenho galgado com amor, coragem e determinação
Todos os acabrunhamentos nesta rica história de vida.
Porfiarei para sempre este amor intenso que me faz feliz.
Querer é poder!...
Luiz Marco
IMAGENS DO "1º ENCONTRO LITERÁRIO REGIONAL"
FOTO DE TODO GRUPO
FOTO DE TODO GRUPO
FOTO DE TODO GRUPO
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ROBERTO FORTES(IGUAPE) E LUIS PASSOS(CAJATI)
OSVALDO MATSUDA ( MIRACATU)
BANCADA COM PRODUÇÕES DOS ESCRITORES
JEHOVAL JUNIOR (MIRACATU)
FOTOS DE LUIS MARCO
FOTO DE TODO GRUPO
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ROBERTO FORTES(IGUAPE) E LUIS PASSOS(CAJATI)
OSVALDO MATSUDA ( MIRACATU)
BANCADA COM PRODUÇÕES DOS ESCRITORES
JEHOVAL JUNIOR (MIRACATU)
FOTOS DE LUIS MARCO
O Pássaro Encantado
Linda manhã de sexta-feira Santa, festa cristã de muita importância. Dia que Nosso Senhor morreu para resgatar a humanidade pecadora. Dia de ficar em casa, de ir à Igreja, à procissão, dia de rezar.
O céu, azul de brigadeiro, riscado vez ou outra pelas frenéticas andorinhas, em contraste (ou em complemento?) com o verde azulado do morro do Pitione, resumiam em grande estilo o cenário paradisíaco.
Como sempre fazia em dias desse tipo, Nelson, abrindo a janela de seus aposentos no velho sobrado da Tia Eunice, de fronte ao rio Ribeira, diz para si: - Que dia para uma boa caçada!
A caminho da padaria do Seu Romeu, a barriga rosnando feito um cachorro de agosto, encontra o amigo Zeca, companheiro de pescarias e caçadas: - Dia, Zeca. Vamos pro Pitione caçar uns macucos? Que o que! Zeca, católico fervoroso, balançando a cabeça para ressaltar a importância de suas palavras: - De jeito maneira! Hoje é sexta-feira santa. Nada se pode matar. É pecado grave... Anos de purgatório...
Nelson, que nunca fora tão temente das normas religiosas, nem insistiu. Já na padaria, a fome lhe incomodando as entranhas, fez seu pedido: - Dia, Seu Romeu. Me veja um pingado, um bolo de roda pra agora e mais dois pro almoço. Também metade de uma coruja, uma bengala e duzentas gramas de mortadela da boa. Hoje vou almoçar no mato, entre um tirinho e outro. Pelo menos na janta, como melhor. Hoje, tá com jeito da caçada ser das boas...
Seu Romeu, arregalando os olhos: - Caçada? Hoje? Dia da morte de Cristo, nosso Senhor? Não pode, seu Nerso. É contra as leis da Santa Igreja. Dá um azar danado!
Nelson, já meio cabreiro, mas com muito mais teimosia do que ponderação, tomou de suas coisas e partiu de volta à pensão.
Conferindo a munição, a Winchester 22 desmontada na mochila de lona verde, da cor do mato, os pios de madeira pra chamar a bicharada, o cantil de alumínio que conservava a água fresca por horas, o limão vermelho pra gotejar na água e matar a sede de verdade... tudo em ordem.
Na saída, Dona Eunice, vendo o soldado partindo para a guerra tão disposto, indagou: - Isso não é roupa de ir à Casa de Deus, Nelson. O Senhor Jesus merece mais respeito. Se arrume direito, homem. Ponha o terno que passei ontem à noite e a calça de linho cinza. E engraxe os sapatos também. Tire essas botas fedorentas... - Não vou pra igreja, Dona Eunice, cortou o Nelson já impaciente. Vou pro mato buscar um bom nambu ou macuco pra comermos na janta. Quando tinha fome, o senhor Jesus também comia. E só não ia caçar macuco porque não tinha uma Winchester igual a minha... E lá se foi, o caçador, pros rumos da ponte para atravessar o Ribeira e se embrenhar na mataria. Dona Eunice nem disse palavra, apenas benzeu-se com o sinal da cruz três vezes o voltou-se para seus afazeres, indignada.
O céu, azul de brigadeiro, riscado vez ou outra pelas frenéticas andorinhas, em contraste (ou em complemento?) com o verde azulado do morro do Pitione, resumiam em grande estilo o cenário paradisíaco.
Como sempre fazia em dias desse tipo, Nelson, abrindo a janela de seus aposentos no velho sobrado da Tia Eunice, de fronte ao rio Ribeira, diz para si: - Que dia para uma boa caçada!
A caminho da padaria do Seu Romeu, a barriga rosnando feito um cachorro de agosto, encontra o amigo Zeca, companheiro de pescarias e caçadas: - Dia, Zeca. Vamos pro Pitione caçar uns macucos? Que o que! Zeca, católico fervoroso, balançando a cabeça para ressaltar a importância de suas palavras: - De jeito maneira! Hoje é sexta-feira santa. Nada se pode matar. É pecado grave... Anos de purgatório...
Nelson, que nunca fora tão temente das normas religiosas, nem insistiu. Já na padaria, a fome lhe incomodando as entranhas, fez seu pedido: - Dia, Seu Romeu. Me veja um pingado, um bolo de roda pra agora e mais dois pro almoço. Também metade de uma coruja, uma bengala e duzentas gramas de mortadela da boa. Hoje vou almoçar no mato, entre um tirinho e outro. Pelo menos na janta, como melhor. Hoje, tá com jeito da caçada ser das boas...
Seu Romeu, arregalando os olhos: - Caçada? Hoje? Dia da morte de Cristo, nosso Senhor? Não pode, seu Nerso. É contra as leis da Santa Igreja. Dá um azar danado!
Nelson, já meio cabreiro, mas com muito mais teimosia do que ponderação, tomou de suas coisas e partiu de volta à pensão.
Conferindo a munição, a Winchester 22 desmontada na mochila de lona verde, da cor do mato, os pios de madeira pra chamar a bicharada, o cantil de alumínio que conservava a água fresca por horas, o limão vermelho pra gotejar na água e matar a sede de verdade... tudo em ordem.
Na saída, Dona Eunice, vendo o soldado partindo para a guerra tão disposto, indagou: - Isso não é roupa de ir à Casa de Deus, Nelson. O Senhor Jesus merece mais respeito. Se arrume direito, homem. Ponha o terno que passei ontem à noite e a calça de linho cinza. E engraxe os sapatos também. Tire essas botas fedorentas... - Não vou pra igreja, Dona Eunice, cortou o Nelson já impaciente. Vou pro mato buscar um bom nambu ou macuco pra comermos na janta. Quando tinha fome, o senhor Jesus também comia. E só não ia caçar macuco porque não tinha uma Winchester igual a minha... E lá se foi, o caçador, pros rumos da ponte para atravessar o Ribeira e se embrenhar na mataria. Dona Eunice nem disse palavra, apenas benzeu-se com o sinal da cruz três vezes o voltou-se para seus afazeres, indignada.
O cheiro do mato fazia bem. Era como um perfume para Nelson. Quanto mais se distanciava da cidade mais em casa se sentia. Na estradinha da antiga usina, a caminhada rendia. Passo a passo a montanha azulada passava a um verde profundo, vez ou outra, salpicado de outros tons, revelando a diversidade de árvores da floresta. Com a distância cada vez maior da cidade um silêncio incomum foi cercando o caçador que estava acostumado a trocar os barulhos urbanos pelos sons da natureza.
No interior da mata, à sombra fechada dos garacuís, das perobas, dos arapassus, das imensas figueiras, andava camuflado, sem produzir ruído algum. Os pés, protegidos pelas insubstituíveis Verlon, como os de um felino, acariciavam o chão de folhas e gravetos secos. Nada se ouvia. Nada mesmo. Cadê a bicharada? Nem borboleta voava. Nem pernilongo, mutuca ou borrachudo. Atravessando um riachinho pedregoso, onde aproveitou para banhar o rosto e a cabeça e abastecer o velho cantil, também não viu nada. É comum nesses riachinhos achar pitus, barrigudinhos ou girinos. Mas, estranhamente nada se movia nem na água, nem na terra e nem no céu.
Por vários quilômetros de silenciosa caminhada, nada se viu. Em toda sua vida de mil e uma caçadas, jamais o Pitione, com sua mata exuberante, deixou que voltasse pra casa sem um inhambu, alguns macucos, urus ou jacus. Até bichos de porte eram abundantes como macacos, veados, antas, jaguatiricas e toda a rica fauna da mata atlântica.
Já se ia pelas tantas da tarde. Os bolos de roda e a coruja, ingeridos e digeridos, não mais ocupavam espaço na mochila que permanecia vazia.
Em outro córrego, agachado a espremer o último limão no cantil, o silêncio é enfim quebrado. Um alvoroço de asas no topo de uma guaricica bem copada lhe chamou a atenção. Lentamente virou-se a buscar com os olhos atentos a posição do bicho. Que maravilha! Mas, que pássaro é aquele?! - pensou consigo. Em tantos anos de mato nunca havia visto nada parecido. Do porte de um gavião-índio, mas de plumagem branca, imaculada. Pousado na galharia, como a se mostrar de propósito, com o peito estufado e a cabeça bem erguida.
Nelson, por instantes, ficou a admirar a ave rara que mais parecia a visagem de um anjo de tão grande brancura e tamanho. Não voltaria de mãos abanando, de mochila murcha, de Winchester fria. Posicionou-se para o disparo, disfarçado de folhagem a menos de quinze metros; os olhos fixos, a mão esquerda firme a sustentar a arma; a mira no peito desafiante, o dedo no gatilho esperando a ordem superior... Paaaahhh! Em meio à fumaça os olhos surpresos ainda fitavam o animal que fez um leve movimento de cabeça, parecido com um "não". E não mesmo; não errava um tiro daquele. Impossível. E por que o bicho não voou? Por que ainda estava lá a lhe provocar a ira? Manejou com destreza a arma e engatilhou outra bala... Paaaahhh! Inacreditável. Agora a ave, a lhe zombar, abre as asas, esticando ao extremo uma e depois a outra, a espreguiçar-se. Mais uma manobra e... Paaaahhh!
A ave então, para provar-lhe ser de verdade, lança de vôo, despencando em sua direção e, como um caça (e não uma caça), quase lhe toca o chapéu numa rasante, pousando em seguida num imenso jataizeiro. Agora de costas, o pássaro abre novamente as asas e assim permanece formando, contra a luz, o desenho de uma cruz, como a que sustentou nosso Senhor Jesus Cristo na sexta-feira da paixão. Seu Mido, de vidro riscado por tantas quedas, e pulseira vermelha para nunca ser perdido, avisou-lhe às horas: três da tarde, pontualmente.
Jogando a mochila nas costas com a espingarda já desmontada a preencher-lhe o farto espaço, Nelson garrou o rumo da cidade...
- Ainda dá tempo de pegar a Missa das seis!
No interior da mata, à sombra fechada dos garacuís, das perobas, dos arapassus, das imensas figueiras, andava camuflado, sem produzir ruído algum. Os pés, protegidos pelas insubstituíveis Verlon, como os de um felino, acariciavam o chão de folhas e gravetos secos. Nada se ouvia. Nada mesmo. Cadê a bicharada? Nem borboleta voava. Nem pernilongo, mutuca ou borrachudo. Atravessando um riachinho pedregoso, onde aproveitou para banhar o rosto e a cabeça e abastecer o velho cantil, também não viu nada. É comum nesses riachinhos achar pitus, barrigudinhos ou girinos. Mas, estranhamente nada se movia nem na água, nem na terra e nem no céu.
Por vários quilômetros de silenciosa caminhada, nada se viu. Em toda sua vida de mil e uma caçadas, jamais o Pitione, com sua mata exuberante, deixou que voltasse pra casa sem um inhambu, alguns macucos, urus ou jacus. Até bichos de porte eram abundantes como macacos, veados, antas, jaguatiricas e toda a rica fauna da mata atlântica.
Já se ia pelas tantas da tarde. Os bolos de roda e a coruja, ingeridos e digeridos, não mais ocupavam espaço na mochila que permanecia vazia.
Em outro córrego, agachado a espremer o último limão no cantil, o silêncio é enfim quebrado. Um alvoroço de asas no topo de uma guaricica bem copada lhe chamou a atenção. Lentamente virou-se a buscar com os olhos atentos a posição do bicho. Que maravilha! Mas, que pássaro é aquele?! - pensou consigo. Em tantos anos de mato nunca havia visto nada parecido. Do porte de um gavião-índio, mas de plumagem branca, imaculada. Pousado na galharia, como a se mostrar de propósito, com o peito estufado e a cabeça bem erguida.
Nelson, por instantes, ficou a admirar a ave rara que mais parecia a visagem de um anjo de tão grande brancura e tamanho. Não voltaria de mãos abanando, de mochila murcha, de Winchester fria. Posicionou-se para o disparo, disfarçado de folhagem a menos de quinze metros; os olhos fixos, a mão esquerda firme a sustentar a arma; a mira no peito desafiante, o dedo no gatilho esperando a ordem superior... Paaaahhh! Em meio à fumaça os olhos surpresos ainda fitavam o animal que fez um leve movimento de cabeça, parecido com um "não". E não mesmo; não errava um tiro daquele. Impossível. E por que o bicho não voou? Por que ainda estava lá a lhe provocar a ira? Manejou com destreza a arma e engatilhou outra bala... Paaaahhh! Inacreditável. Agora a ave, a lhe zombar, abre as asas, esticando ao extremo uma e depois a outra, a espreguiçar-se. Mais uma manobra e... Paaaahhh!
A ave então, para provar-lhe ser de verdade, lança de vôo, despencando em sua direção e, como um caça (e não uma caça), quase lhe toca o chapéu numa rasante, pousando em seguida num imenso jataizeiro. Agora de costas, o pássaro abre novamente as asas e assim permanece formando, contra a luz, o desenho de uma cruz, como a que sustentou nosso Senhor Jesus Cristo na sexta-feira da paixão. Seu Mido, de vidro riscado por tantas quedas, e pulseira vermelha para nunca ser perdido, avisou-lhe às horas: três da tarde, pontualmente.
Jogando a mochila nas costas com a espingarda já desmontada a preencher-lhe o farto espaço, Nelson garrou o rumo da cidade...
- Ainda dá tempo de pegar a Missa das seis!
Lélis Ribeiro
Fim.
Fim.
DONA COTINHA
DONA COTINHA
Dona Cotinha melhor idade, exímia dançarina, única vencedora consecutiva da maratona “Calo de ouro”, um evento dançante promovido anualmente pelo clube Seupimpa, onde a vencedora ganha um fim de semana com direito a acompanhante no famoso resort “Adios Mutuca’s” na Barra do Ribeira, estava eufórica, acabara de conhecer Benedito e foi amor a primeira pisada no pé... Estavam dançando.
Paixonite na terceira idade é igual remédio milagroso, cura reumatismo, pressão alta, enxaquecas, nervo ciático, em fim qualquer dodói que possa infernizar a vida de quem já está para lá da Ilha Comprida, ou seja, no fim da picada, ou como se diz, na melhor idade.
Foi bailando que ela apaixonou-se. Benedito era um dançarino nato, um pé de valsa caiçara e naquela noite estava inspirado, não deu sossego à dona Cotinha e ela deslumbrada esquecia as dores na coluna e dançava e dançava.
Que homem o tal Benedito, muito jovem, alto, moreno, bem apessoado... Um tanto calado é verdade, mas para amar não há necessidade de muito converse, por vezes é até melhor ficar calado do que só falar bobagens. Dona Cotinha estava nas nuvens, digo dançando e pensava lá com suas sandálias de prata:- Quero esse homem prá chamar de meu!... E deu inicio a paquera:- Meu nome é Maria das Dores, apelido Cotinha, além de dançar muito bem, cozinho, lavo e passo...
- É! Disse Benedito com ar distante...
- Sim! Também arrumo muito bem uma casa, tomo dois banhos por dia, faço um excelente casadinho de manjuba, tainha na telha, na folha da banana, no forno...
- É!...Realmente Benedito não era de muita conversa, mas Cotinha não se deu por vencida...
- Sou aposentada, ganho muito bem, o falecido era pescador e meus filhos estão todos casados... Moro sozinha.
- É!...Não disse que Benedito era muito calado!
- São quase quatro horas da manhã, estamos dançando desde a meia noite, horário em que você entrou no clube, não poderíamos continuar nossa agradável conversa em outro local?
- Pode ser no meu barco?
- Noooossa! Você tem um barco? Vamos sim... Há quanto tempo não entro num barco...
- Vamos?
Quatro e meia da madrugada... Um barco ancorado entre a passarela e o antigo porto da balsa... Cotinha de mãos dadas com Benedito... A beira do valo completamente deserta... Neblina. Quanto mais se aproximavam do velho barco, mais Cotinha se arrepiava de frio. Pararam... O barco estava solto e flutuava a uns três metros da margem. Cotinha tremia... Alguma coisa estava errada:- Benedito! Agora que notei... Você não me é estranho.
- Claro que não Maria das Dores! Eu fui seu primeiro namorado... Benedito que há setenta anos morreu afogado.
João Carudo encontrou dona Cotinha desmaiada, eram seis horas da manhã de domingo e foi a ele que ela contou essa história que vai além da imaginação. Dona Cotinha nunca mais foi dançar no Seupimpa, agora é freqüentadora assídua da “Sandália de Cristal”, um local bem longe da água... Semana passada conheceu Alcino, um jovem caladão, com uma estranha marca vermelha ao redor do pescoço... Mora num sitio...
Gastão Ferreira
www.gastaodesouzaferreira.blogspot.com
UMA NOBRE VISITA
UMA NOBRE VISITA
A Princesa do Litoral passou novamente pela cidade. Dessa vez chegou de barco, o qual ancorou atrás do CITUR:- Meu Bonje!Josephus, que pobreza, veja os guarda carros municipais... Tão mal vestidos.
- Esses não são guarda carros Majestades! São mendigos que estão prestando um belo trabalho comunitário, protegem os veículos de assaltos e vandalismos...
- O quê? Já temos isso nessa cidade pacata!
- Ainda não! Mas os proprietários das conduções não sabem...
- Mas Josephus! Sujinhos assim não vão afastar os turistas?
- Que turista majestade? Faz um bom tempo que por aqui só aparece meia dúzia de gatos pingados...
- Meu Bonje! Onde foram parar os turistas?
- Por incrível que pareça em Cananéia...
- O quê? Foram para aquela cidadezinha onde dizem que nem o vento presta...
- Pois é! Ela está recebendo muitos turistas... Ruas limpas, bem arborizadas, segurança e bons preços...
- Você deve estar enganado! Vamos até a praça da matriz.
- Vamos devagar majestade... Aprecie o passeio... Não se canse... A senhora vai fazer 471 anos em dezembro...
- Veja Josephus! Você estava enganado, os hotéis estão lotados, tem pessoas dormindo até na calçada...
- São pedintes majestade! Toda a semana aparece mais alguns...
- Meu povo continua generoso, adora alimentar quem não gosta de pegar no pesado...
- Não fale tão alto majestade! Vá que ouçam e pensem que seja uma carapuça, vai sobrar para a senhora...
- Josephus! Meu coreto! Que aconteceu com meu amado coreto?
- Calma majestade! Para tudo existe uma explicação. Seu coreto foi destruído...
- Isso eu já reparei! Mas como? Caiu um raio encima?
- Não Majestade! Sua cidade agora faz parte do patrimônio histórico nacional...
- Oh! E o velho coreto não fazia parte da praça?
- Sim! Mas não pertencia ao período tombado...
- Mas Josephus! Os nomes na placa também não pertencem ao tal período... Olhe aquele nome ali... Eu conheço... Eu conheço.
- Majestade! Vai sobrar para mim... É melhor sairmos da praça...
- Nem pensar! Vou imediatamente me queixar ao Bonje e resolver esse problema...
- Majestade! Tenho uma péssima notícia a vos dar...
- Pior do que o fim do coreto? Pior do que esses sem tetos e sem banhos dormindo nas laterais do templo? Pior do que o lixo no lagamar? Pior do que a falta de turistas? Pior do que a falta de perspectiva que noto no rosto dos cidadãos? Pior do que essas velhas árvores peladas? Ora Josephus! Me poupe...
- Majestade! O Bonje foi embora...
- Oh! Não... Não... Não!
- Majestade! Majestade!... Desmaiou.
Gastão Ferreira
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