Batucajé do Vale e Parceiros da Arte inauguram ponto de Cultura em Miracatu.


O grupo Cultural Batucajé do Vale a Associação Cultural Parceiros da Arte inauguram no proximo dia 25 de fevereiro o ponto de cultura em Miracatu.

O ponto de cultura será um espaço para preservação e resgate de tradições culturais do município,além de servir de espaço físico para qualquer manifestação da sociedade de cunho cultural.

chuva

levou o que viu naquele ultimo pensamento
vi aquele seu olhar
a sua voz
círculos depois de outros
lembro do que não vi
vamos juntos
o calor é grande
depois de muita chuva
chovia muito
o sol
o sol lembrava o tempo de criança
devia de tá lá naquele tempo
calor igual a esse fazia tempo
faz
faz muito tempo que não vejo você
chovia tanto que tudo parecia voltar de novo
a água escorrendo




a moto
todos vamos
Bonito-lindo canta o que ouve na floresta
imagine um passarinho
quecantatodopassarinhoqueescutanomato
seguidamente
Bonito-lindo

déco
sete barras
15-02-2010

TATÁ BEL - NHÁ BELINHA



TATÁ BEL – NHÁ BELINHA

Dona Izabel, Mãe Bela, Vó Iza, Biza Bel, Tatá Bel... Nhá Belinha teve treze filhos, sessenta e oito netos, cento e setenta bisnetos, trinta e dois tataranetos. Nasceu em 30/05/1912 em Baissununga, Lagoa do Cedro, criou-se em Sete Barras e recém casada com Augusto Guedes mudou-se para Iguape em 1930.
Seu Augusto comprou doze alqueires de terras no Jipuvura e por lá começou a nova vida. Plantou arroz, milho, feijão, maracujá, aipim e mandioca. Semanalmente trazia de barco a Iguape quinze sacas de farinha de mandioca, mais de duzentos porcos eram alimentados diariamente e centenas de galinhas produziam carne e ovos.
Naquela época a alimentação era farta e a caça do mato fazia parte do cardápio. Tateto, quati, macaco, paca, capivara, tatu e tamanduá, alem dos grandes peixes fornecidos pelo Rio Ribeira. A família crescia e todos trabalhavam no pesado e sem preguiça.
Dona Izabel Guedes foi a mão direita do marido. Quando em tempo de mutirão fazia almoço, janta e café para mais de oitenta pessoas. A noite ainda participava do arrasta pé, pois era uma exímia dançarina. Gostava de um baile e uma festa, mesmo após cair de um cavalo e quebrar uma perna não deixou a dança.
Nhá Belinha sabia manejar como ninguém uma foice, um machado. Fora as mutucas e cobras nada temia. Nessa época a colônia japonesa Katsura estava no auge e no Jipuvura tinha médicos homeopatas, cinema, farmácia, vários engenhos e uma pensão que fornecia comida e pouso.
Pelo Rio Ribeira navegava barcos, canoas e vapores que eram as conduções mais rápidas para Iguape. Apesar de morar em um sitio a vida era movimentada e alegre. Quando seu Augusto faleceu nhá Belinha veio morar com as filhas no Rocio. Os Guedes estão entre os fundadores desse imenso bairro.
Dona Izabel está forte. Fora um início de catarata sua saúde é perfeita e aos 98 anos ainda fuma seu pito de barro e sonha com comidas impossíveis nos dias atuais, só de pensar em um tamanduá assado ou um tateto no espeto... Fluem as antigas lembranças.
Tatá Bel reparte seu amor e experiência de vida com filhos, netos, bisnetos e tataranetos. Nuca está só, pois além de 283 descendentes possui centenas de amigos que gostam de ouvir suas histórias de uma época em que as crianças eram educadas, os amigos sinceros, as pessoas honestas e confiáveis. Uma época sem tecnologia, sem geladeira, rádio, televisão, sem fogão a gás e sem avião. Um tempo em que o ser humano era avaliado por sua disposição ao trabalho. Um tempo que a união familiar orgulhava aos pais, um tempo de respeito aos mais velhos e as tradições... Um tempo que se foi.
Tatá Bel é uma pessoa alegre e feliz. De uma lucidez incrível, uma mulher que enfrentou a vida sem reclamar. Uma mãe que educou com amor e severidade todos os filhos. Uma mulher simples e humilde que gosta de festas. Uma heroína... Uma vencedora. Na festa de cem anos se Deus quiser e eu for convidado estarei presente... Saúde nhá Belinha, a senhora merece chegar lá.

Gastão Ferreira

O MENINO PASSARINHO


O MENINO PASSARINHO

Há muito e muito tempo quando as crianças ainda não sonhavam em serem modelos, artistas ou trombadinhas, existiu um menino que queria ser passarinho. Seu nome era Miguim.
Miguim morava numa pequena cidade. Uma cidade cercada de altas montanhas, frente a um belíssimo e piscoso lagamar onde um canal todo arborizado unia um grande e majestoso rio ao manguezal.
A cidade era linda. Possui diversas praças e jardins. Muitas escolas e o pai de Miguim era um pescador. Seu Leléco tinha uma pequena canoa e com ela percorria toda a orla do grande lagamar. Pescava tainha, salteira, oveva, pescada, manjuba, bagres e muitos outros tipos de peixe.
Quando seu Leléco voltava da pesca diária ficava horas e horas contando suas histórias de pescador para o filho. Era viúvo e enquanto preparava o jantar contava das garças, dos biguás, dos socós e dos flamingos vermelhos. Contava do lobo guará, do bugio, do porco espinho e inventava a onça e dizia do grande gavião real que morava na montanha mais alta. Falava do tucano, da saíra, do sanhaço e dos mil pássaros que sobrevoavam sua canoa.
Miguim amava o pai que era seu herói e aguardava ansioso sua volta da pesca para ouvir encantado as novas histórias. Miguim queria ser um passarinho para poder seguir lá do alto as canoas solitárias, espiar de perto as montanhas, conhecer novos lugares. Miguim queria ser um Bem-te-vi.
A molecada zombava de Miguim e de seu sonho. Tanta coisa importante e ele queria ser um reles Bem-te-vi. O pai não dizia nada, coisas de criança, pensava. Miguim contava para seu pai que voava para longe da cidade, via uma ponte, estradinhas cortando a mata, pequenas quedas d’água e também o mar com seus barcos e as grandes ondas que visitavam a praia.
Uma tarde Miguim e os amigos resolveram nadar no Valo Grande, Miguim nunca mais voltou. Seu pai quase enlouqueceu. Por mais que procurassem o pequeno corpo nunca foi encontrado.
Leléco não se conformava. Como amava o filho. Como sentia sua falta. Tornou-se um homem triste. Agora seu mundo era sombrio, já não tinha a quem contar suas histórias, aqueles olhos que brilhavam, o abraço que tirava seu cansaço, o sorriso que iluminava sua pobreza e dava força para continuar lutando tinha desaparecido para sempre... Para sempre.
Leléco jogou a tarrafa, estava frente à Pedra da Paixão. Recolheu vazia. Olhou a montanha e a saudade chegou apunhalando: Miguim!
Leléco chorou... Já não queria mais viver, sem sua luz, sua razão de existir era melhor tombar a canoa... Fechou os olhos, fez uma oração, pediu perdão dos pecados... Bem-te-vi... Bem-te-vi... O passarinho estava pousado na borda da canoa... Miguim?... Bem-te-vi... Bem-te-vi.
A pescaria foi proveitosa, Leléco nunca dera lanço tão bom, uma alegria tomava conta de sua alma humilde e as pessoas ficaram maravilhadas, pois na frente da canoa sem temer o pescador um passarinho cantava:- Bem-te-vi... Bem-te-vi.

Gastão Ferreira

MEMÓRIAS DE UMA PRACINHA


PRAÇA SÃO SEBASTIÃO

Na Beira do Valo, Avenida Ébano Pereira esquina com a Rua Ana Cândida está a Praça São Sebastião. Antigamente antes da construção da igreja de São Sebastião na Vila Garcez era nessa pracinha que se faziam as homenagens ao santo e após a quermesse anual encerravam a festa com uma missa campal.
Egidio morava na Rua Major Young, era um pescador e possuía um oratório com a imagem do santo. A pracinha possuía um cruzeiro de madeira, árvores e alguns bancos. Quando da celebração religiosa Egidio cedia o oratório para o oficio da missa. Egidio tinha um pequeno problema, bebia em demasia e quando torrado não respeitava ninguém.
No início dos anos sessenta a festa estava animada, muita cerveja, Cristiano, quentão. O padre Matheus era o vigário da cidade e pediu a Egidio o oratório com o santo para a missa festiva. Egidio estava trebado e começou a importunar quem assistia a missa. O padre expulsou Egidio do culto e esse revoltado:- Saio, mas levo meu santo!
Foi um escândalo, ano de 1962. O padre e Egidio começaram um bate boca que deu muito que falar. Egidio passou a mão no santo e se mandou. A missa não foi concluída e o padre jurou que nunca mais rezaria no local. Os amigos de copo de Egidio quebraram a velha cruz que enfeitava o logradouro e foram em passeata até a Praça da Matriz. Desde então a pracinha ficou abandonada.
Nesse ano de 2010 os vereadores municipais doaram uma cruz e a recolocaram no mesmo lugar da cruz destruída. O interessante é que quase ninguém sabia que aquele terreno abandonado ao lado da peixaria do Wilson era uma praça que já teve seus dias de glória, que foi causa de uma feia briga entre um padre e um pescador.
Esse fato quem me contou foi o Lolô. Iguape tem histórias que estão se perdendo. Vamos preservar a memória da cidade e enriquecer nosso folclore. Iguape não foi só casarões e pessoas abastadas com o cabelo cheio de ouro dando festas em clubes privados. Em nossa cidade a maioria da população sempre foi pobre, gente que lutava bravamente para sobreviver com dignidade e foram eles, os humildes, que ergueram os antigos casarões, carregaram pedras, suaram, amaram, se divertiram e sofreram.
Em respeito a essas pessoas incríveis, os únicos que nunca viraram as costas à cidade nas horas amargas e difíceis. Os que pagam o preço de acreditar num futuro melhor é que tento preservar para a posteridade esses pequenos fatos quase esquecidos.

Gastão Ferreira

CORDEL - MEU ESPINHO


CORDEL

Oh minha doce princesa
Nobreza do Litoral
Acabou virando presa
Dessa gentinha do mal!

Quanto mendigo na rua
Quanto lixo no Canal...
A maldade se insinua
E acha tudo normal...

Tem gente de alma suja
Tem gente cara de pau.
Anjo virando coruja...
Piranhas no pantanal.

Gente tirando proveito
Dessa pobreza geral...
Tanta falta de respeito
Almas pintadas de cal.

Um dia tudo termina
Todo o ano tem inverno
E essa gente cretina
Vai direta pro inferno...

Me salve meu São da Ilha
Não posso fechar meu olho!
Quem perdeu a sua trilha
Bota o rabinho de molho...

O Diabo vai dar risada
Pois vai faltar condução
Pra tanta gente safada
Entre pilantra e ladrão.

A pedra que tanto brilha
Escureceu nessa hora...
Socorro meu São da Ilha
O inferno me devora!

Voltarão tenho certeza.
Como pedintes? Talvez!
Pois quem semeia tristeza
Não acredita em Deus.

Oh minha doce Princesa!
Com seu fardo tão pesado
Feiúra virou beleza...
Cidadania é pecado!

Não posso ficar calado
Eu sou gente não sou bicho
Não quero ser comparado
Com esses montes de lixo.

Pescador que pesca tanto
Vento que chora mansinho
Cidade que é meu encanto
Meu amor e meu espinho!

Gastão Ferreira