Maria Chules Princesa


Maria Mereciana foi uma das filhas de Bernardo Furquim fundador da
comunidade quilombola de São Pedro as margens do Rio Ribeira de Iguape.
Segundo a fala era uma negra alta de muita coragem e valentia. Casou-se com
gente lá de Nhunguara, era afamada pelo seus dotes de luta, pelos serviços de parteira e benzedeira. Usava sempre um facão de 20 polegadas, caçava e atirava melhor que qualquer homem,ouvia-se sempre relatos de que com maestria e destreza ela enfrentara no mato sozinha uma vara de ferozes porcos do mato.
Como a tradição naqueles tempos aos sábados era dia de visita em casa de parentes , também era dia em que os homens reuniam-se na verada do alambique lá na beira do rio, estavam sempre em corriolas a conversar, isso era
de costume, como era também de tradição o desafio de aloitamento, onde um desafiava o outro para uma brincadeira onde travava-se uma peleja de esquivas,
com movimentos rasteiros e de equilíbrio.
Num desses dias Mereciana chegou onde os homens estavam reunidos debaixo de uma bela árvore, montada em seu cavalo chamado “corrupio”, lá eles estavam
aloitando, quando ela começou a desafiar os homens, aloitou com um rapaz
e lhe deu uma rasteira,desafiou um outro e o venceu com um solavanco com os pés no peito do infeliz, até que ela desafiou um homem que poucos conheciam
por ali e ele numa distração de Mereciana lhe jogou areia nos olhos cegando-a
momentaneamente, aproveitando-se para derrubá-la e humilhá-la zombando
de sua coragem.
Ela manjou bem ele e disse:
- Voismecê me derrubô hoje e eu já to de pé, mas amanhã quando eu te derrubá
voimecê num há de si levantá.
O tempo correu igual as águas do Ribeira quietas e ligeiras,após uma caçada das boas Mereciana havia matado dois bons porcos do mato e através de uma outra negra ofereceu um quarto do bicho ao homem desconhecido que a expusera a dolorosa humilhação na beira di rio. O homem aceitou a gentileza e não se fez de rogado. Só que a partir desse dia o rapaz passou a sofrer de uma estranha enfermidade, caindo de cama, sua pele enrugou e escamou , tal qual um sapo, o
homem agonizou durante vários meses, tempo em que Mereciana estava lá pras
bandas das terras de Caiacanga. Meses depois , ao retornar a região a negra soube da enfermidade do homem e como sua fama de rezadeira e benzedeira era
muito grande atendeu pedido de uma parente do acomedido que fosse fazer uma
visita e rezasse por ele.
Mereciana foi ,chegou até o casebre o quarto esta cheio de visitas, a negra pediu que todos se retirassem. Ela então se aproximou da cama e colocando as mãos sobre a testa do homem ordenou que a doença o libertasse.
Nesse momento dizem que um vulto cinzento desceu do céu e o vento varreu a casa toda, arrebentou as tramelas das janelas e portas e “penteou” todo o matagal que beirava o rio, e depois ouviu-se um som de um mergulho na água,
a tal criatura desapareceu, e o homem levantou-se conversando como se nada
tivesse acontecido.
A figura de Maria Mereciana é tão popular entre as comunidades de quilombo de
Eldorado que a escola da comunidade de André Lopes homenageou-a dando nome a primeira escola quilombola de São Paulo “ Maria Chules princesa”.


Julio Cesar da Costa

Lendas de quilombo

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