Feliz Ano Novo!

Desejo...

Dar vivas às pessoas dum novo ano, lembrando que não desejamos um ano melhor apenas nos aspectos sócio-econômicos: nesses, dia-após-dia, estamos fazendo o melhor. Celebrar com os sentidos voltados a extrair o melhor nas atitudes e, levantando as bandeiras da justiça e do humanismo, levar a esperança nascida desta ocasião a todos os dias do novo ano. Com coragem e espírito jovial, criar um ano de esperanças, pela vida!

Desejo...
Continuar a encontrar com os amigos e apreciar uma saudável conversa, na qual ambos saiamos renovados em nossas determinações; e nos livros e informativos, - amigos de todas as horas -, conhecer e reconhecer bons autores, ampliando a tão amada vivência literária. Colhendo então o máximo de informações, o próximo dia será ainda melhor. Um ano de conhecimento que alimente a convicção para a vitória total como ser humano.

Desejo...
Que o Património Histórico e Cultural da querida Iguape possa manter-se de pé por mais um ano, ainda que refém dos maus tratos. E então, enquanto ocorre o caminhar, eu não consiga dizer "Aqui havia um prédio de 1853 e foi demolido...", pelo menos nesse próximo ano! Duma trégua do entre-guerras e pelo campo devastado, nesse ano não desejo ver mais dilapidações da História ocorrerem em nossa arquitetura. Um ano de trégua aos Casarios, em nome da Arquitetura e pela Humanidade, do que ainda delas nos resta!

Desejo...
Que aquele menino que chegou aos dezesseis anos e só encontrou violência, aproxime-se dos bons amigos e afaste-se das drogas. Ele sabe que o caminho sempre está no mesmo local; nós é que nos afastamos dele. No espaço onde seus pais respiram - e que a ele sufoca -, ainda há belas condições para todos tornarem-se felizes. Cada um tem uma estrela própria e precisamos deixar que todas brilhem... Sem distinção de credo, cor, raça, ou qualquer outra característica individual. A cor diferente daquela flor a torna mais bela e valoriza todo o jardim. Um ano de reconciliações em nome da convivência harmônica com todas as pessoas.

Desejo...
Que as expectativas dos empresários em gerar lucros sejam aprimoradas pela alegria daqueles que são e também dos que tornar-se-ão seus empregados. E, em laços solidários, as teias das relações econômicas possam produzir um ciclo ascendente de produção num desenvolvimento auto sustentável. Um ano de prosperidade econômica que torne-se a base de um novo ciclo, em nome da empregabilidade dos nossos jovens.

Desejo...
Que as gaivotas continuem alimentando-se no canal do Mar Pequeno, os Quero-Queros continuem a habitar nossas restingas, em nossos manguezais milhares de carangueijos e outros seres sobrevivam. Enfim, que o meio-ambiente mantenha-se presevado, considerando que fazemos parte dele. Um ano onde a máxima do nosso ambiente não seja nem meio, nem fim. nem começo, mas seja inteiro. Inteiramente vivo e desperto, um ano onde compreendamos que também somos o ambiente.

Desejo...
Que todos possamos acordar renovados no início de cada dia; e em cada abrir dos nossos olhos, esqueçamos que algo não deu certo ontem. O Hoje está ocorrendo Agora; o Ontem, já passou e o Amanhã, eu desejo...

Assim - e afinal -, eu desejo...

Que cada um de nós possa construir a verdadeira felicidade individual, e que ela seja colaboradora direta ou ao menos inspiradora para a felicidade de outros.

Desejo...
De olhos bem abertos...
Que todos tenhamos um maravilhoso novo ano!

UM AGRADECIMENTO

O que me alegra,
É o que eu fiz ontem,
E ainda me lembro hoje,
Certo que estava certo,
Sem porque arrepender...

O que me alegra,
É que eu sei com certeza,
Que eram belas as estrelas,
Que brilharam esta noite,
Antes que o sol nasceu...

Ah! Que lindo céu é este!
Que posso ver brilhar,
Meu mar azul,
Minha verde mata,
Meu olhar,
Meu rosto no espelho...

Lan House, Net,
Enquanto ouço Zé,
kitaro, Batucajé,
Entre outros tantos,
Entre outros cantos,
Com os cantos dos pássaros...

Quero sorrir o que fui
Chorar o que eu não soube,
Lutar o que posso saber,
Para viver hoje,
Melhor que ontem,
Amanhã melhor que hoje...

Mesmo que meu violão
E minha voz te entristeça,
Quero estar feliz no meu quadrado,
E rir de quem ri sem porquê,
Porque estar feliz importa,
O que me alegra!!!

Enfim,
Estou simplesmente grato,
Por poder ver a morena tropicana,
Passar descalça na grama,
Sem nem me olhar...

Grato por ouvir
Ainda que seja besteira,
Numa tarde de verão
Desfalecer meu tédio iminente,
Com a melodia que seja
Celine Dion, Batucajé...

Sem esquecer
O bom sabor do sudeste,
O feijão preto carioca,
O tutu com torresmo mineiro,
O acarajé da baiana sorridente,
O arroz da Jura...

Eu quero dizer mesmo,
Que Agradeço a Deus,
Pelo cheiro das matas,
Pelo carinho do vento...
Pelos sentidos,
Que me permitem escolher,
Se quero sorrir ou chorar amanhã,
O que posso fazer ou não fazer hoje!!!

Foi pensando nisso,
Que resolvi escrever esse poema!!!

Autor:
Lazaro Nascimento

CRISTALIZAR CORES

PARA O MESTRE OSVALDO MATSUDA

COMPLETAR O ESPAÇO QUE ME FALTA
E FALTAR COM AS HASTES QUE ME VAZAM
ME CURVAREI SOB OS PÉS COM LÁPIS-DE-COR
QUE FRENETICAMENTE SERÃO ESTRELAS,
E ASSIM CAIRÃO SOBRE ELES
OUSAREI RESTAURAR O CINTILAR DESSES OLHARES
E AQUARELECIDO ESTARÁS TUDO ONDE POUSARES,
INIBIR TODO O FOSCO,
OPACO TRAREI A TONA ENTRE REFLEXOS MÚLTIPLOS
COLORAÇÕES FOSFORESCENTES,
EXPLODINDO DE TODO ÍNTIMO INCANDESCENTE.
E SOBRE TODA A FACE PRANTOS PIGMENTADOS
DE CORE ENTRE CORES, E AOS QUE ENCLAUSURAREM AS CORES SOBRE UMA TELA
E AS LIMITAR ENTRE MOLDURAS E REDOMAS DE VIDROS
DEIXANDO-AS PRISIONEIRAS,
"REPRISAS" ETERNAS,
ALMEJANDO SEREM ARREMESSADAS AO INFINITO RUBRO
PAIRANDO DESFORMES SOBRE O HORIZONTE,
TAL QUAL ESPECTROS DESGOVERNADOS.
LANÇAM CORES E MAIS CORES
INDENINDO A ÓTICA PERMANENTE
E O DESESPERO PESANDO SOBRE MIM
AO EXACERBADO BANHO DE CORES
INFINITAMENTE DESCONHECIDAS AOS OLHOS MEUS!
AGORA, APÓS O CONFRONTE ENTRE CHUVA E SOL
MILHÕES DE ARCO-ÍRIS ROMPEM SUAS BASES E COLOREM O CÉU
DEPOIS EM MOVIMENTOS CHOCAM-SE EM EXPLOSÕES
SOBRE UM MANTO FRIO, APATECIDO
E DA TEMPESTADE CHOVIAM PÉTALAS
CRISTALIZADAS EM INFINITAS CORES.


RENATO RODRIGUES CAVAHEIRO E JULIO CESAR COSTA -1994

fragmento de "Profecia do Amanhã"

A ansiosa espera,
Pela obediência à lei da Altura,
Que devolverá o estado de ser tudo,
O que não é nada,
Mas que fulgurou quando não havia noite,
Com um eterno brilho,
Que se fragmentou
Nos espaços finitos e infinitos.

A ciência da paz,
Será a ciência dos que tem coração,
E dos que não tem coração,
Pois, um jato de onisciência
Banhará todas as coisas,
Quando todas as coisas despirem-se
Da dura couraça da ignorância.
Os lhamas
Serão como sóis sem calor e sem forma,
Iluminando naturalmente,
Como essências,
As cidades da sabedoria,
Cujas fortalezas adormecem
O sono da transformação,
Quando serão os cenários
De um progresso sem dor e sem ódio.

Autor: Lazaro Nascimento
Fragmento do livro "Profecia do Amanhã"

QUEM RI, CHORA

A sorte aparece
Com cara de azar a sorte
De ficar para traz
De um possível raio de sol...

Possível fulgor
Que deveras se acredita
Desacreditando em mente
Que já possui um dono...

Então os que fazem parte
Partem o próprio coração
Na incerteza que há o ser leal
Desfeito na sombria tristeza...

Por trás da incansável luta
O guerreiro ergue sua cimitarra,
E foge, por que perdeu
Sendo um vencedor...

E quem ri, chora,
A dor de agora,
Deserto da dor da luta,
Certo de saber seus companheiros.

O ELEFANTE QUE QUERIA VOAR



O elefante queria voar
Não se contentava
No chão a pisar

Ele imaginava o azul do céu
Feliz como a pipa
De linha e papel

Ele fez um trato
Com o velho urubu
-Me empreste suas asas
Vou voar para sul
Pois a partir de hoje
Eu vou te deixar
Toda minha força
Pra você usar.

Num passe de mágica
Ele conseguiu
Duas enormes asas
E no céu sumiu

Mas deixou na selva
O velho urubu
Que vivia quieto
Sempre jururu

Mas ganhou uma força
Nem sabia usar
Obrigou os bichos
Todos a dançar

Foi uma alegria
Uma confusão
Só que viver de festa
Não dá certo não!

Pois aquela festa
Não queria parar
Todos enjoaram
De tanto cantar
Mas o urubu
Pos-se a gritar
- Só se para a festa
Quando eu mandar

Pois eu sou mais forte
Sou o valentão
Meia tonelada
Seguro na mão.

Foi ficando chato
O que era bom
Ninguém agüentava
aquele mesmo som.

E a bichara começou a gritar
O nome do elefante
Só pra ele voltar

E o elefante tava entediado
Já voara o céu
De todo quanto é lado.

Estava com saudade
De seus pés no chão
Ainda mais, ter asas
Era um trabalhão.


JULIO CESAR COSTA
DA FUTURA PUBLICAÇÃO
INFANTIL " NO BALANÇO DA MARÉ"

Bhaskara

Ouvia-se ao longe os ossos se partindo
entre as presas.
Aquele cheiro preso ao escuro
sete palmos de línguas sobre toda a terra
varrendo assolações,
varrendo monturos em sete partes,
onde só o mais forte sobrevive,
quando a carne se ajoelha para adormecer,
sobre o líquido das sombras expulgadas.
Então,esta voz negativa é a que vem
lenhar nas queimadas arrastando-se
ao alto, buscando as origens,
buscando repouso de seus crimes ácidos,
e a qual jáz vencida
busca pastagem sobre a vermelhidão.
Os olhares defumados,
encortiçados sobre os ventos de anomalia
em seus momentos píscicos em busca da força mosca
quando o interruptor lucidez
não responde mais aos estímulos.
Em uma exatidão se faz,
quando surge em si, cavernas em convulsões siderais,
esmurrando e comprimindo:
Hora de caçar para comer!
Corpos em deformações metrópoles
fuzilados de fúrias rompantes
quando amanhecer sobre a insuficiência.
O alimento X

Renato Cavalheiro
27/11/06

Oráculo

Um ângulo da luz
contacto superficial
partículas de fugas em êxtase
se fundem em seus elementos únicos
não existem caminhos para a noite, que voltem.
Foram atados os molhos
de rostos em dias detritados,
mascados, decepados das raças
nos umbrais da escuridão.
A cúpula de coliformes em cápsulas
em natura matriguais.
Contato de oceanos em chamas
dos arremessados de abalos sísmicos noturnos.
Os habitantes selvagens tigres de fogo
em lágrimas de vidas de vidros.
Eras negras dos Xamãs em alfa.
O fundo frio da taça étnica atrás
das paredes humanas.
Velozes esfínges em fúrias vertes de
incompreensão da vida.
Um só diamante.
Um sol de amantes.
O centro muscular do ódio de cabeças
incandescidas em olivas da proliferação
das chagas genocidas.
Asas vivas da mutação linguística.
À frente, os calados que vão entre nós.
Que vão em trenós.
Vozes devoradas dos queimados
em habitações de soluços dos jazigos Euroasiáticos.

Renato Cavalheiro
19-09-06


barulho de carro

João Goulart
antes do golpe de 64
condecorou
Che Guevara
e Mané Garrincha.
Os três, mataram.
o importante é a amizade
nóis critica nossos irmão, nossos amigo
mas tamo com eles até o fim
família é assim.
dentro de um mesmo pensamento ético

déco
05/12/2009

a queimada

a queimada não é assassina
a queimada era assassina
a queimada era assassina
quando ela sorrateiramente
todo ano
ia diminuindo
aquele bolinho de mato
dum jeito que quem passava depressa nem percebia
mas pra quem morava por entre as árvores
cada folha que caía
era um olhar que entrava
por dentro de sua casa
até virar a avenida
a queimada era assassina
a queimada não é assassina

déco
sete barras 05-12-2009

a árvore

a árvore de trás do riachinho
é árvore mãe
Pai ou Mãe?
com suas sementes seguem a herança
o vento pára. um estorpor a solta.
sementes carregam sinas
a árvore distribui sementes ao seu redor
logo após a queimada
assassina

Araraquara 08-1999

déco (do livro "Vento Caminhador")

o recado (um dia lá em casa, o Nestor estava vendo o cadernão de poesias: Gostei desta poesia.Fui ver. Era o recado que tinha acabado de virar poesia)

TIVE QUE SAIR
TÁ CRU
COLOCA MAIS
ÁGUA
E PÕE PRÁ
COZINHAR

déco

(do livro "Vento Caminhador)

Vale das belezas

Um camarada já disse
Uma idéia adimirável
O vale é uma fonte
de inspiração inesgotável
Planta, bicho, rio e lago
De beleza incomparável

O lugar de onde eu cito
É o Vale do Ribeira
Que é no estado de São Paulo
Uma terra brasileira
Coberto por Mata Atlântica
E também por bananeira

Mas minha intenção aqui hoje
Não é retratar os problemas`
É citar das coisas boas
Falar que aqui tem beleza
Que falar que é fim de mundo
É uma grande besteira

Em nome de bicho e planta
Não sou especialista
Mas logo que o conheço
Na cabeça vem a rima
Lembrei logo da Helicônia
Vejam só que coisa linda

A rima que eu escrevo
Lhe digo qual é que é
É feita para criança,
Idoso, homem, mulher
Lá no pé da bananeira
Quem tá cantando é o Tié

Uma árvore esbelta
que tem de nome Angico
Possui folhas pequenas
Mas pra mim é grande amigo
Purificando o ar
E na sombra dando abrigo

Bromélias, Ipês, Palmitos,
Orquídeas, Guapuruvus,
No alto daquela árvore
Quem tá cantando é o Jacú
E correndo no mato adentro
O nome dele é Teiú

Tô vendo uma samambaia
Ali do outro lado
Tucano de Bico Verde
E o Cachorro do Mato
São nome de animais
Que estão ameaçados

O Palmito Juçara
Típico da região
Uma planta tão bonita
Boa pra alimentação
Símbolo da Mata Atlântica
Ameaçado de extinção

Um dia de inspiração
Na cabeça do poeta
É fácil se inspirar
vendo essas coisas tão belas
Ajudem a preservar
O que hoje ainda resta.

Míticas estrelas

Míticas são todas as estrelas do céu,
Mas só assim podemos tocá-las!

(SP, 1/12/2009)
Aos que acompanham o LITERATO DO VALE e que gostariam de ver a série de poemas "P"EM PEDRINHAS na intregra e outras séries de poemas visuais que ainda estão por vir do poeta Julio César, confira no endereço www.brutoabrupto.blogspot.com.br.Lá vocês poderam conferir o trabalho de outros poetas como:Fernando Campos, Ana Luci, Osvaldo Matsuda, e Nestor Rocha.

jacatirão estóra muito

um senhor bateu palmas na porta de casa
queria um serviço
procurei
podia ser lenha pro fogão?
acertamo
queria um real "pra tomar café'
não tinha
ofereci o café
fiquei sabendo
que o jacatirão é uma lenha que estora muito

déco
agora 8 e 35
28/11/2009
sete barras

cigarras

as cigarras cantam
agora
incessantemente
começaram no final de novembro
era pra ser em setembro
das 5 e meia até pouco prás 6
ficam o dia inteiro fazendo não sei o quê
voltam com o príncipio da noite
ficam até pouco depois das 8
tem algumas que cantam
solitárias
meio locas
de madrugada

déco
agora/8 e 12
28/11/2009

sete barras

Miracatu, riquezas em versos

Magistral mãe,mágica
Majestosa, meiga
Matas,mato,madeira
Morros, montanhas
Mensagens, melodias,memórias,mistérios
Muito mais motivos
Modificam minha mente
Metáfora? Métrica? Miragem? método? Milagre?
Movimenta multidões,
Mistura,modifica,muda mundos,
Multiplica maravilhas,
Misteriosa,magnífica,
Miracatu.

Intenso interesse
Inclusive idéias iluminadas,idôneas
Imensa imaginação,inconfundível
Impecável inconstância
Impossível indagar "in-versos"
Índios,indivíduos,infâncias,influências
Incomparável,inigualável,incrível,
Inegavelmente ideal.

Riquezas raríssimas
Ricas reservas,
Relevante relevo
Rios,rebentos,ribeiras,poças,raízes,
Ruas,ramagens,rosas,
Razões reais,reflexões rápidas
Resultados? Reconhecimentos,recompensas.
Roteiro? Retornar,reciclar,reagir,reaproximar,reviver.
Relíquia,raridade.

Abraçar aquela antiga amiga
Abraçar aquele antigo amigo
Aliás,aqueles arredores ajuntam alegrias,
Adubar aquela árvore ainda adolescente
Atenção,assim avançamos,
adiquirimos amizades,aplausos,
Àquela área aprazível,autêntica.

Célebre cenário:cores,céus,cipós,capins,calor,chuva,
Caminhos,canções,carícias,consciência
Complexas culturas,costumes,crenças,...
Caipiras cultivam, criam crianças contentes, com carinho
Coincidência? Constante clima carinhoso,
Confortável caráter coerente.

Ah!Ano após ano
Amanhecer ao abrigo abundante
Ar,água,árvores,artes,acalantos,amores
Aprender a apreciá-la,aplaudi-la
Apenas anexar amores,adrenalina,adjetivos
Alguns amavios,amiúde agradecimentos.

Trilhas,tribos,troncos,tabaréus,tradições
Talento tangível:textos,tintas,tambores
Tem tanta técnica,tendências,táticas
Torlerar,traçar tonalidades
Turistas,trabalhadores
Transmitir,transferir,transportar teorias
Tornar tudo tipo ternura
Temos tanto tempo
Ter...triunfar!

Usar,usufruir,utilizá-la
Uma unidade útil
Utilizando uma união universal,
Utopia? Urgência única!

PEQUENO
( JOHNNY DE OLIVEIRA ALVES )

não me canso de falar da falta de memória

fiquei só pensando só na falta da memória
o Júnior não se lembra
que foi ele quem não deixou
o povo virar o carro de som da CUT
com uma família,
pai motorista mãe e filhinho em dia de parque,
dentro
na paralização da BR 116
quando o Raul Gutierrez morreu
lá na saída de Miracatu.
o Júnior só gritou só na hora certa:
"não vai virá essa porra não"
a árvore que plantei
me contaram que foi alguém
que tinha passado por ali
anos antes
que tinha deixado uma muda
conversando fiquei sabendo
de coisas que tinha feito
e que eram bem importantes
falou tanto do galo
que se esqueceu
que aquilo foi o mínimo,
ainda bem,
que tinha acontecido.
ouvi dizê que o que era falado
parece que tinha caído do céu
e o Serjo já escreveu maisou menos desse jeito

deco
agora/10 prás 11/
27/11/2009
sete barras

Dia da Consciência Negra

20 de Novembro
O dia da Consciência Negra
Em alguns lugares
Até é feriado...

Mas o que é Consciência Negra?
Seria a Consciência dos Negros?
E qual é o dia da consciência Branca?
Que seria a Consciência dos brancos?

Afinal, o que é Consciência Negra?

Para mim, consciência significa conhecer,
Significa ter consciência, ter saber,
Quer dizer, que negro tem que ter dia,
Para ter consciência, ter saber...

Todos os dias têm que ser de consciência,
Não apenas os dias Vinte de Novembro!
Todos os dias deviam ser de Consciência,
De todas as raças, de todas as cores...

Raças e cores deviam saber,
Que todas as raças são todos irmãos,
Que todas as cores são de uma origem só,
Que a consciência deve ser uma só.

Vinte de novembro reforça a lembrança,
Que cada um de nós é apenas criança
A gritar um grito pela liberdade
Lá dentro da senzala que somos nós mesmos.

Vinte de novembro reforça a consciência
De que precisamos deixar de ser escravos...
Deixar de ser escravos do Sinhô Preconceito
Deixar de ser escravos da Sinhá Ignorância,

Precisamos soltar os grilhões de nossas almas,
E nos libertar do Sinhô Ódio, do Sinhô Egoísmo,
Senhores que hoje tem nomes diferentes,
E que continuam a escravizar nossas vidas...

Vinte de Novembro vem nos lembrar,
Que somos todos quilombolas em nós mesmos,
Zumbi é a Consciência que grita por liberdade,
Que apenas vamos encontrar na Consciência...

Somos todos tripulantes sofredores,
Dentro do mesmo navio negreiro.
Consciência é uma só.
Negros somos todos nós.

QUEREMOS LIBERDADE!!!
Autor: Lazaro Nascimento

Fusquinha branco

Um dia
Meu fusquinha parou de rodar.
O motor pifou.
A nossa viagem terrestre acabou.
Naquele dia
Teve início a viagem mítica.

PROCURANDO UM'P' EM PEDRINHAS










JULIO CESAR COSTA Novembro 2009 Pedrinhas-

A consciência Branca da Globo

Não havia data melhor. Em plena semana da Consciência Negra, a teledramaturgia global reafirma, mais uma vez, a pura reprodução de imagens, palavras e ideais racistas em horário nobre.

Ao elencar a atriz negra Thaís Araújo para protagonista de sua novela das nove, a TV Globo, através de seu funcionário Manoel Carlos, parecia querer responder ao Estatuto da Igualdade Racial idealizado pelo movimento negro que não seria necessário estabelecer cotas para atrizes e atores negros; bem, parece não ter sido à toa que justamente no momento de uma decisão histórica quanto ao conteúdo do referido Estatuto, a Globo tenha lançado ao ar duas novelas com protagonistas negras, atrizes que inclusive têm uma postura racial condizente às suas trajetórias, como são Thaís Araújo e Camila Pitanga. Nas entrelinhas, previa-se uma forjada justificativa à sociedade das "desnecessárias" cotas raciais para os meios de comunicação, já que este espaço vem sendo ocupado pelo núcleo negro da Globo. Convenhamos, uma jogada de mestre; assim, evita-se o "mal maior" para a Consciência Branca do comando global, que é obedecer a lei e fazer cumprir os direitos da pessoa, da população e dos povos negros.

Pois então que nesta semana, no capítulo que foi ao ar na noite do 17 de novembro, com precisão cirúrgica o autor desenhou a cena mais representativa possível da ópera racista contra o verdadeiro protagonismo negro. A suposta protagonista da novela, a personagem de Helena, após ser retirada de seu núcleo familiar negro para transitar exclusivamente num núcleo branco e assim ser sujeita a traições e humilhações, é posta de joelhos diante de uma de suas antagonistas brancas - já que, para uma negra, não basta uma só antagonista, devendo vir elas em número de três: a amante do marido, a filha mimada e infantilizada do marido e a ex-mulher do marido. Não apenas de joelhos, deve pedir perdão de cabeça baixa; não apenas de cabeça baixa, sob o olhar duro e inflexível de sua então dominadora; não apenas isso, como se já não fosse o bastante, deve pedir perdão e ter por resposta uma bofetada no rosto. Para finalizar a cena, a personagem desabafa com uma das melhores amigas que "devia ser assim".

A idéia de protagonista negra, na Globo, enfim foi definida claramente. Uma heroína que, se inicialmente surgia diante de um drama familiar, afirmando um núcleo negro protagonista, como âncora, marco e raiz, veio sendo reduzida dramaturgicamente a pobre vítima de suas três antagonistas brancas, tendo estas enfim recebido mais espaço de visibilidade que a suposta protagonista. O papel, de central, tornou-se periférico, apoio para a virada de jogo das outras atrizes, que passam a receber os aplausos da população e das "críticas" noveleiras de plantão, prontas para limar a atriz negra por seu papel "sem graça".

Ou talvez, pensa o autor que pode salvar o papel de Helena pondo-a no lugar em que acha pertencer à mulher negra. Agora sim, a Globo assinou embaixo de suas verdadeiras posturas ideológicas - mais diretamente, de seu racismo.

Rebeca Oliveira Duarte
Advogada e Cientista Política do Observatório Negro

"Não me digas que não podes; querendo Deus e dando-te coragem, poderás."
(Sócrates, em Platão, "Teeteto")

Rebeca Oliveira Duarte
Observatório Negro
Rua do Sossego, 253 - sala 02 - Boa Vista
Recife-PE - CEP 50.050-080
F: 00 55 81 34231627/94211435
observatorionegro@gmail.com
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Maria Chules Princesa


Maria Mereciana foi uma das filhas de Bernardo Furquim fundador da
comunidade quilombola de São Pedro as margens do Rio Ribeira de Iguape.
Segundo a fala era uma negra alta de muita coragem e valentia. Casou-se com
gente lá de Nhunguara, era afamada pelo seus dotes de luta, pelos serviços de parteira e benzedeira. Usava sempre um facão de 20 polegadas, caçava e atirava melhor que qualquer homem,ouvia-se sempre relatos de que com maestria e destreza ela enfrentara no mato sozinha uma vara de ferozes porcos do mato.
Como a tradição naqueles tempos aos sábados era dia de visita em casa de parentes , também era dia em que os homens reuniam-se na verada do alambique lá na beira do rio, estavam sempre em corriolas a conversar, isso era
de costume, como era também de tradição o desafio de aloitamento, onde um desafiava o outro para uma brincadeira onde travava-se uma peleja de esquivas,
com movimentos rasteiros e de equilíbrio.
Num desses dias Mereciana chegou onde os homens estavam reunidos debaixo de uma bela árvore, montada em seu cavalo chamado “corrupio”, lá eles estavam
aloitando, quando ela começou a desafiar os homens, aloitou com um rapaz
e lhe deu uma rasteira,desafiou um outro e o venceu com um solavanco com os pés no peito do infeliz, até que ela desafiou um homem que poucos conheciam
por ali e ele numa distração de Mereciana lhe jogou areia nos olhos cegando-a
momentaneamente, aproveitando-se para derrubá-la e humilhá-la zombando
de sua coragem.
Ela manjou bem ele e disse:
- Voismecê me derrubô hoje e eu já to de pé, mas amanhã quando eu te derrubá
voimecê num há de si levantá.
O tempo correu igual as águas do Ribeira quietas e ligeiras,após uma caçada das boas Mereciana havia matado dois bons porcos do mato e através de uma outra negra ofereceu um quarto do bicho ao homem desconhecido que a expusera a dolorosa humilhação na beira di rio. O homem aceitou a gentileza e não se fez de rogado. Só que a partir desse dia o rapaz passou a sofrer de uma estranha enfermidade, caindo de cama, sua pele enrugou e escamou , tal qual um sapo, o
homem agonizou durante vários meses, tempo em que Mereciana estava lá pras
bandas das terras de Caiacanga. Meses depois , ao retornar a região a negra soube da enfermidade do homem e como sua fama de rezadeira e benzedeira era
muito grande atendeu pedido de uma parente do acomedido que fosse fazer uma
visita e rezasse por ele.
Mereciana foi ,chegou até o casebre o quarto esta cheio de visitas, a negra pediu que todos se retirassem. Ela então se aproximou da cama e colocando as mãos sobre a testa do homem ordenou que a doença o libertasse.
Nesse momento dizem que um vulto cinzento desceu do céu e o vento varreu a casa toda, arrebentou as tramelas das janelas e portas e “penteou” todo o matagal que beirava o rio, e depois ouviu-se um som de um mergulho na água,
a tal criatura desapareceu, e o homem levantou-se conversando como se nada
tivesse acontecido.
A figura de Maria Mereciana é tão popular entre as comunidades de quilombo de
Eldorado que a escola da comunidade de André Lopes homenageou-a dando nome a primeira escola quilombola de São Paulo “ Maria Chules princesa”.


Julio Cesar da Costa

Lendas de quilombo

ACADEMIA VALERRIBEIRENSE DE LETRAS

Uma foto histórica: nasce a Academia Valerribeirense de Letras.

No último sábado, dia 31 de outubro, no Auditório do KKKK, em Registro, escritores, poetas e jornalistas do Vale do Ribeira participaram do I Encontro Literário que teve por objetivo discutir a fundação da Academia Valerribeirense de Letras e a publicação de uma antologia literária a ser lançada na Bienal do Livro de São Paulo, em agosto do próximo ano.

Participaram do encontro cerca de trinta futuros acadêmicos, entre os quais, Jehoval Júnior, Osvaldo Matsuda, Paulo de Castro Laragnoit, Julio Silva, Roberto Fortes, Júlio César da Costa, Lázaro Nascimento, Luiz dos Passos, Luiz Marco, Marcos Mendes, Deco, Lelis Ribeiro, Paloma dos Santos, Laerte Araujo, Josué Valentim, Cláudia Oliveira Hengler, Marcelo Plácido, Adail Alves de França Júnior, Wanderson Vieira Lopes, Erich Villas Boas, Sônia Maria Pedroso dos Santos, José Carlos de Alencar Júnior, Johnny de Oliveira (Pequeno), Genésio Júnior e Tiago Marques de Oliveira.

Também já confirmaram a participação na Academia Valerribeirense de Letras os seguintes nomes: Filomena Aparecida da Silva (Filó), Sesary Roberto de Oliveira, José Vicente Carneiro Filho, Mônica Bockor, Camilo Aparecido Almeida, Janaína Barbosa, Renato Cavalheiro, Luciano Vitor Dias Liberato, Jack Sawyer, Hadasa, Edson Feitosa de Lima, Selmo Mimo de Oliveira, Hermann Wolpert, Ídolo de Carvalho, Nestor Rocha, Álvaro Ribeiro Domingues, Antônio Lara Mendes, Gastão Ferreira, José Sant´Anna Xavier e Lauriano dos Santos.

O próximo encontro dos literatos será na Expovale, em Registro, quando os futuros acadêmicos terão à sua disposição um estande onde serão expostos os seus trabalhos literários.

Fonte: Blog Alfarrábios de Roberto Fortes

LIRISMO

TENHO VERGONHA


TENHO VERGONHA

Por ser honesto e acreditar no bem,
Por trabalhar, por merecer meu pão
Por crer em Deus e no que Dele vem
Por muito errar e por pedir perdão...

Por tudo isso eu me sinto um tolo...
Pela ganância que não mora em mim
Por não comprar e me trocar por ouro
Tenho vergonha de ter sido assim...

E mais vergonha por ter me calado
Na hora triste da corrupção...
De ficar mudo e não ter falado
Ao ser roubado como um cidadão...

Tenho vergonha dos falsos amigos
Que me conhecem e apunhalam tanto
Tenho vergonha de guardar comigo
Restos de sonhos e meus desencantos!

Querem que eu parta e não vou embora
Eu amo muito esse nosso chão...
Querem que cale nesse momento agora
Querem que eu traia o meu coração...

Tenho vergonha porque sou honesto
Tenho vergonha de amar demais...
Tenho vergonha e me sinto um resto
De tantas coisas que não vejo mais!

Gastão Ferreira

Crônica - Olhares de um poeta

Através dos encantos da visão, com a lente fixa aos intentos que me cerca, tenho movido corações pra um olhar sublime e terno diante das imagens cintilantes captadas por uma pessoa que vive a chorar em meio às tempestades que tentam naufragar este poeta sonhador...
Não sei até quando o coração deste sonhador vai agüentar bater forte no peito aflito e angustiado pelas marcas do tempo. Contudo, procuro me abster das magoas deixadas num rastro sem igual e caminharei como um vencedor por ter chegado até aqui, mesmo que com cicatrizes perpétuas.
Magoas que está sempre a porta querendo adentrar e fazer seu ninho eterno em um coração que luta com todas as forças pra não ser engolido pelo mundo da desigualdade. Vivo talvez pela poesia não escrita que vem direto das alturas em forma de alento pra uma alma cansada e muitas vezes irritada com tantas pisadas por um mundo desigual e mesquinho.
Oh!!! minha alma, até quando viverás este martírio dentro de si por não encontrar a esperança que tanto espera... até quando viverás o drama de uma mente perplexa pelas feridas causadas pela vida errante que tens vivido. Tu que desejas viver uma vida de alegrias... encontra-se a mercê das lágrimas que vivem a rolar dos olhos de quem sempre acredita no melhor. Tu que deitas nas noites intermináveis e levantas pelas manhãs sempre na espera de um novo dia radiante de felicidade, mas de repente as mesmas frustrações de anos de buscas não alcançadas tendem a bater a porta do coração dizendo que tudo não passa de uma mera ilusão. Tu que não consegues entender o porquê de tantas surras, já que procuras levar apenas aos corações paz, amor, alegria, e desejas com todo ímpeto a justiça aos injustiçados. Não entende tudo isto? Mas uma coisa é certa, oh minha alma!!!
A alegria chegará e fará de ti regozijos de quem sempre lutou por esperar o grande dia... por mais que o inimigo lhe diga ser uma utopia, Deus lhe diz, ser real e verdadeiro. E este grande dia já está às portas... Chegou o momento que todas as armas do inimigo estão a cair por terra e a vitória para ti é certa, e todo o teu choro se converterá em bonança e muitas felicidades por ter passado o inverno álgido no calabouço assombroso de teu cérebro febril.
Deus é fiel !!!

Luiz Marco

Na escuridão do pensamento

Na escuridão do meu cérebro febril;
trago lembranças sórdidas do meu viver
quão a uma criança indefesa aos infortúnios.

A cobardia invadia minha alma,
tentando roubar-me o mais precioso;
o intelecto da vida humana.

Sinto através do tempo a maldade tentando
Arrancar de minhas entranhas
o perfume suave do amor.
Mas, esta essência do amor,
tem esquadrinhado o meu ser,
tornando-me capaz de viver sempre o impossível.


Vi-me fisicamente acorrentado no calabouço espantoso,
nos esgotos e na lama que a vida me conduziu,
anestesiado pelos icebergs na alma.
Mas com a certeza de um lindo raio de sol aquecer-me.

Quando criança, um mal trapilho,
pé descalço no chão de barro.
Queimado do sol abrasador,
rastelando folhas secas pelo chão,
ou cortando lenha com machado,
para o jantar a luz de velas.

Às vezes vivendo por viver,
mas no agente da alma,
uma esperança no porvir.

A vida me proporcionaria muitas intempéries.
Mas a chama do querer inundou meu coração
com grandes realizações, trazendo-me o
luminoso sol da justiça sobre minha existência.

Sei que havia dois caminhos para uma escolha,
por motivos da infelicidade; mas Deus brioso e Santo,
proferiu evidências ao amor.
Trazendo o bálsamo da ternura sobre minha alma cansada.

Hoje a emoção faz parte de minha vivência,
tenho compreendido o verdadeiro sentido de viver,
sonhar, superar os traumas das noites sombrias,
sob um luar dourado no lacrimejar de minha alma.

Hoje deslumbro como herói, os marasmos vividos
em minha infância e juventude.
Tenho galgado com amor, coragem e determinação
Todos os acabrunhamentos nesta rica história de vida.
Porfiarei para sempre este amor intenso que me faz feliz.
Querer é poder!...

Luiz Marco

IMAGENS DO "1º ENCONTRO LITERÁRIO REGIONAL"

FOTO DE TODO GRUPO
FOTO DE TODO GRUPO
FOTO DE TODO GRUPO
FOTO DE TODO GRUPO
ROBERTO FORTES(IGUAPE) E LUIS PASSOS(CAJATI)
OSVALDO MATSUDA ( MIRACATU)
BANCADA COM PRODUÇÕES DOS ESCRITORES
JEHOVAL JUNIOR (MIRACATU)

FOTOS DE LUIS MARCO

O Pássaro Encantado

Linda manhã de sexta-feira Santa, festa cristã de muita importância. Dia que Nosso Senhor morreu para resgatar a humanidade pecadora. Dia de ficar em casa, de ir à Igreja, à procissão, dia de rezar.
O céu, azul de brigadeiro, riscado vez ou outra pelas frenéticas andorinhas, em contraste (ou em complemento?) com o verde azulado do morro do Pitione, resumiam em grande estilo o cenário paradisíaco.
Como sempre fazia em dias desse tipo, Nelson, abrindo a janela de seus aposentos no velho sobrado da Tia Eunice, de fronte ao rio Ribeira, diz para si: - Que dia para uma boa caçada!
A caminho da padaria do Seu Romeu, a barriga rosnando feito um cachorro de agosto, encontra o amigo Zeca, companheiro de pescarias e caçadas: - Dia, Zeca. Vamos pro Pitione caçar uns macucos? Que o que! Zeca, católico fervoroso, balançando a cabeça para ressaltar a importância de suas palavras: - De jeito maneira! Hoje é sexta-feira santa. Nada se pode matar. É pecado grave... Anos de purgatório...
Nelson, que nunca fora tão temente das normas religiosas, nem insistiu. Já na padaria, a fome lhe incomodando as entranhas, fez seu pedido: - Dia, Seu Romeu. Me veja um pingado, um bolo de roda pra agora e mais dois pro almoço. Também metade de uma coruja, uma bengala e duzentas gramas de mortadela da boa. Hoje vou almoçar no mato, entre um tirinho e outro. Pelo menos na janta, como melhor. Hoje, tá com jeito da caçada ser das boas...
Seu Romeu, arregalando os olhos: - Caçada? Hoje? Dia da morte de Cristo, nosso Senhor? Não pode, seu Nerso. É contra as leis da Santa Igreja. Dá um azar danado!
Nelson, já meio cabreiro, mas com muito mais teimosia do que ponderação, tomou de suas coisas e partiu de volta à pensão.
Conferindo a munição, a Winchester 22 desmontada na mochila de lona verde, da cor do mato, os pios de madeira pra chamar a bicharada, o cantil de alumínio que conservava a água fresca por horas, o limão vermelho pra gotejar na água e matar a sede de verdade... tudo em ordem.
Na saída, Dona Eunice, vendo o soldado partindo para a guerra tão disposto, indagou: - Isso não é roupa de ir à Casa de Deus, Nelson. O Senhor Jesus merece mais respeito. Se arrume direito, homem. Ponha o terno que passei ontem à noite e a calça de linho cinza. E engraxe os sapatos também. Tire essas botas fedorentas... - Não vou pra igreja, Dona Eunice, cortou o Nelson já impaciente. Vou pro mato buscar um bom nambu ou macuco pra comermos na janta. Quando tinha fome, o senhor Jesus também comia. E só não ia caçar macuco porque não tinha uma Winchester igual a minha... E lá se foi, o caçador, pros rumos da ponte para atravessar o Ribeira e se embrenhar na mataria. Dona Eunice nem disse palavra, apenas benzeu-se com o sinal da cruz três vezes o voltou-se para seus afazeres, indignada.

O cheiro do mato fazia bem. Era como um perfume para Nelson. Quanto mais se distanciava da cidade mais em casa se sentia. Na estradinha da antiga usina, a caminhada rendia. Passo a passo a montanha azulada passava a um verde profundo, vez ou outra, salpicado de outros tons, revelando a diversidade de árvores da floresta. Com a distância cada vez maior da cidade um silêncio incomum foi cercando o caçador que estava acostumado a trocar os barulhos urbanos pelos sons da natureza.
No interior da mata, à sombra fechada dos garacuís, das perobas, dos arapassus, das imensas figueiras, andava camuflado, sem produzir ruído algum. Os pés, protegidos pelas insubstituíveis Verlon, como os de um felino, acariciavam o chão de folhas e gravetos secos. Nada se ouvia. Nada mesmo. Cadê a bicharada? Nem borboleta voava. Nem pernilongo, mutuca ou borrachudo. Atravessando um riachinho pedregoso, onde aproveitou para banhar o rosto e a cabeça e abastecer o velho cantil, também não viu nada. É comum nesses riachinhos achar pitus, barrigudinhos ou girinos. Mas, estranhamente nada se movia nem na água, nem na terra e nem no céu.
Por vários quilômetros de silenciosa caminhada, nada se viu. Em toda sua vida de mil e uma caçadas, jamais o Pitione, com sua mata exuberante, deixou que voltasse pra casa sem um inhambu, alguns macucos, urus ou jacus. Até bichos de porte eram abundantes como macacos, veados, antas, jaguatiricas e toda a rica fauna da mata atlântica.
Já se ia pelas tantas da tarde. Os bolos de roda e a coruja, ingeridos e digeridos, não mais ocupavam espaço na mochila que permanecia vazia.
Em outro córrego, agachado a espremer o último limão no cantil, o silêncio é enfim quebrado. Um alvoroço de asas no topo de uma guaricica bem copada lhe chamou a atenção. Lentamente virou-se a buscar com os olhos atentos a posição do bicho. Que maravilha! Mas, que pássaro é aquele?! - pensou consigo. Em tantos anos de mato nunca havia visto nada parecido. Do porte de um gavião-índio, mas de plumagem branca, imaculada. Pousado na galharia, como a se mostrar de propósito, com o peito estufado e a cabeça bem erguida.
Nelson, por instantes, ficou a admirar a ave rara que mais parecia a visagem de um anjo de tão grande brancura e tamanho. Não voltaria de mãos abanando, de mochila murcha, de Winchester fria. Posicionou-se para o disparo, disfarçado de folhagem a menos de quinze metros; os olhos fixos, a mão esquerda firme a sustentar a arma; a mira no peito desafiante, o dedo no gatilho esperando a ordem superior... Paaaahhh! Em meio à fumaça os olhos surpresos ainda fitavam o animal que fez um leve movimento de cabeça, parecido com um "não". E não mesmo; não errava um tiro daquele. Impossível. E por que o bicho não voou? Por que ainda estava lá a lhe provocar a ira? Manejou com destreza a arma e engatilhou outra bala... Paaaahhh! Inacreditável. Agora a ave, a lhe zombar, abre as asas, esticando ao extremo uma e depois a outra, a espreguiçar-se. Mais uma manobra e... Paaaahhh!
A ave então, para provar-lhe ser de verdade, lança de vôo, despencando em sua direção e, como um caça (e não uma caça), quase lhe toca o chapéu numa rasante, pousando em seguida num imenso jataizeiro. Agora de costas, o pássaro abre novamente as asas e assim permanece formando, contra a luz, o desenho de uma cruz, como a que sustentou nosso Senhor Jesus Cristo na sexta-feira da paixão. Seu Mido, de vidro riscado por tantas quedas, e pulseira vermelha para nunca ser perdido, avisou-lhe às horas: três da tarde, pontualmente.
Jogando a mochila nas costas com a espingarda já desmontada a preencher-lhe o farto espaço, Nelson garrou o rumo da cidade...
- Ainda dá tempo de pegar a Missa das seis!
Lélis Ribeiro
Fim.