TATÁ BEL - NHÁ BELINHA



TATÁ BEL – NHÁ BELINHA

Dona Izabel, Mãe Bela, Vó Iza, Biza Bel, Tatá Bel... Nhá Belinha teve treze filhos, sessenta e oito netos, cento e setenta bisnetos, trinta e dois tataranetos. Nasceu em 30/05/1912 em Baissununga, Lagoa do Cedro, criou-se em Sete Barras e recém casada com Augusto Guedes mudou-se para Iguape em 1930.
Seu Augusto comprou doze alqueires de terras no Jipuvura e por lá começou a nova vida. Plantou arroz, milho, feijão, maracujá, aipim e mandioca. Semanalmente trazia de barco a Iguape quinze sacas de farinha de mandioca, mais de duzentos porcos eram alimentados diariamente e centenas de galinhas produziam carne e ovos.
Naquela época a alimentação era farta e a caça do mato fazia parte do cardápio. Tateto, quati, macaco, paca, capivara, tatu e tamanduá, alem dos grandes peixes fornecidos pelo Rio Ribeira. A família crescia e todos trabalhavam no pesado e sem preguiça.
Dona Izabel Guedes foi a mão direita do marido. Quando em tempo de mutirão fazia almoço, janta e café para mais de oitenta pessoas. A noite ainda participava do arrasta pé, pois era uma exímia dançarina. Gostava de um baile e uma festa, mesmo após cair de um cavalo e quebrar uma perna não deixou a dança.
Nhá Belinha sabia manejar como ninguém uma foice, um machado. Fora as mutucas e cobras nada temia. Nessa época a colônia japonesa Katsura estava no auge e no Jipuvura tinha médicos homeopatas, cinema, farmácia, vários engenhos e uma pensão que fornecia comida e pouso.
Pelo Rio Ribeira navegava barcos, canoas e vapores que eram as conduções mais rápidas para Iguape. Apesar de morar em um sitio a vida era movimentada e alegre. Quando seu Augusto faleceu nhá Belinha veio morar com as filhas no Rocio. Os Guedes estão entre os fundadores desse imenso bairro.
Dona Izabel está forte. Fora um início de catarata sua saúde é perfeita e aos 98 anos ainda fuma seu pito de barro e sonha com comidas impossíveis nos dias atuais, só de pensar em um tamanduá assado ou um tateto no espeto... Fluem as antigas lembranças.
Tatá Bel reparte seu amor e experiência de vida com filhos, netos, bisnetos e tataranetos. Nuca está só, pois além de 283 descendentes possui centenas de amigos que gostam de ouvir suas histórias de uma época em que as crianças eram educadas, os amigos sinceros, as pessoas honestas e confiáveis. Uma época sem tecnologia, sem geladeira, rádio, televisão, sem fogão a gás e sem avião. Um tempo em que o ser humano era avaliado por sua disposição ao trabalho. Um tempo que a união familiar orgulhava aos pais, um tempo de respeito aos mais velhos e as tradições... Um tempo que se foi.
Tatá Bel é uma pessoa alegre e feliz. De uma lucidez incrível, uma mulher que enfrentou a vida sem reclamar. Uma mãe que educou com amor e severidade todos os filhos. Uma mulher simples e humilde que gosta de festas. Uma heroína... Uma vencedora. Na festa de cem anos se Deus quiser e eu for convidado estarei presente... Saúde nhá Belinha, a senhora merece chegar lá.

Gastão Ferreira

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