MEMÓRIAS DE UMA PRACINHA


PRAÇA SÃO SEBASTIÃO

Na Beira do Valo, Avenida Ébano Pereira esquina com a Rua Ana Cândida está a Praça São Sebastião. Antigamente antes da construção da igreja de São Sebastião na Vila Garcez era nessa pracinha que se faziam as homenagens ao santo e após a quermesse anual encerravam a festa com uma missa campal.
Egidio morava na Rua Major Young, era um pescador e possuía um oratório com a imagem do santo. A pracinha possuía um cruzeiro de madeira, árvores e alguns bancos. Quando da celebração religiosa Egidio cedia o oratório para o oficio da missa. Egidio tinha um pequeno problema, bebia em demasia e quando torrado não respeitava ninguém.
No início dos anos sessenta a festa estava animada, muita cerveja, Cristiano, quentão. O padre Matheus era o vigário da cidade e pediu a Egidio o oratório com o santo para a missa festiva. Egidio estava trebado e começou a importunar quem assistia a missa. O padre expulsou Egidio do culto e esse revoltado:- Saio, mas levo meu santo!
Foi um escândalo, ano de 1962. O padre e Egidio começaram um bate boca que deu muito que falar. Egidio passou a mão no santo e se mandou. A missa não foi concluída e o padre jurou que nunca mais rezaria no local. Os amigos de copo de Egidio quebraram a velha cruz que enfeitava o logradouro e foram em passeata até a Praça da Matriz. Desde então a pracinha ficou abandonada.
Nesse ano de 2010 os vereadores municipais doaram uma cruz e a recolocaram no mesmo lugar da cruz destruída. O interessante é que quase ninguém sabia que aquele terreno abandonado ao lado da peixaria do Wilson era uma praça que já teve seus dias de glória, que foi causa de uma feia briga entre um padre e um pescador.
Esse fato quem me contou foi o Lolô. Iguape tem histórias que estão se perdendo. Vamos preservar a memória da cidade e enriquecer nosso folclore. Iguape não foi só casarões e pessoas abastadas com o cabelo cheio de ouro dando festas em clubes privados. Em nossa cidade a maioria da população sempre foi pobre, gente que lutava bravamente para sobreviver com dignidade e foram eles, os humildes, que ergueram os antigos casarões, carregaram pedras, suaram, amaram, se divertiram e sofreram.
Em respeito a essas pessoas incríveis, os únicos que nunca viraram as costas à cidade nas horas amargas e difíceis. Os que pagam o preço de acreditar num futuro melhor é que tento preservar para a posteridade esses pequenos fatos quase esquecidos.

Gastão Ferreira

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