Filha ao rio

Quando tomei sua benção
suas mãos transpiravam, respingavam.
Ah!que hora mais dura!
De que é feita Senhor?
Foi feita para o fim.

Pois me veio a chuva de um ano inteiro,
desabar em fevereiro.
Já sem pernas para fugir
sem braços, sem nada.
Que pena, paraplégica
Que pena, paralítica.
A mãe morta de fala
corria às margens do rio.
Um galho nas mãos.
Na ponta, seu coração encravado
Foi-se a hora, nunca mais.
Conformada pela estrada
e ainda dizia:
- Vá embora,deça o rio,obedeça as curvas.
Não pare-a, paredão de pedras,
não separe suas partes.
Queria tanto ir junto.
Leve-me senhor, acaba esta dor.
Hoje, já pssaram-se tantos anos
mas há muito silêncio habitado
Pois não havera mais momento, mais nada.
O frio rio queimado, passado
agora estava só.
E esta voz!Como quero ouvi-la mais
hora na sala, hora no quarto
semelhante a minha
anda!corre!estou aqui!
subtraindo-me a idade na soma de cada ano.

Renato Cavalheiro
Miracatu 1993/1994

Me iras ilhas

Tem amanhâ?
Tem!
Quer um?
Deixe-me olhar ao redor.
Leve-me daquiiii!!!!
Para o fim desta criança lática
em seu limite.
E todos os cães quase que assim
pensam iguais a mim,
pois meu dia com verdade é trágico.
Essa exasperação ezonerada exila-me.
Preciso voltar para a nave.
essa sobre os ombros.

Renato Cavalheiro
Miracatu 1993/1994

Casca

Corpos segregados. De onde vens morbidês?
De onde arrastas este gosto pálido de sangue?
lésbicas secas de trompas amarradas.
Espectros queimados que derretem-se
à sombra do Lago Néci, entre os favos
e o mel da madrugada entorpecida.
Escondam suas presas,
pois as minhas ariranhas estão mortas
e já reintegram-se às águas liquefeitas.
E que surjam os óvulos fecundados
eu os espremerei suas larvas
sobre os corpos pregados nos cataventos
ventando gritos ao dorso da ilha.
A inválida que viras
não é de toda Maria.
É mais um rosto sobre o vespeiro
aglomerando ferrões.
Não é de toda leprosa
entre os cacos de telhas
esborrifando suas cascas
que baqueia, escorrega sobre escarros
e se vence pelo cansaço
enrrolada em seu guizo.

Renato Cavalheiro
Miracatu 1993/1994

RELIGIÃO

É fé
Do medo
De não ter fé

POLÍTICA+POESIA

Na política do vale tudo
Na poesia do vale nada
O resultado da adição
É = subtração

FUTEBOL

Futebol
é um jogo
de quadriláteros
em que a curva
prevalece