Filha ao rio

Quando tomei sua benção
suas mãos transpiravam, respingavam.
Ah!que hora mais dura!
De que é feita Senhor?
Foi feita para o fim.

Pois me veio a chuva de um ano inteiro,
desabar em fevereiro.
Já sem pernas para fugir
sem braços, sem nada.
Que pena, paraplégica
Que pena, paralítica.
A mãe morta de fala
corria às margens do rio.
Um galho nas mãos.
Na ponta, seu coração encravado
Foi-se a hora, nunca mais.
Conformada pela estrada
e ainda dizia:
- Vá embora,deça o rio,obedeça as curvas.
Não pare-a, paredão de pedras,
não separe suas partes.
Queria tanto ir junto.
Leve-me senhor, acaba esta dor.
Hoje, já pssaram-se tantos anos
mas há muito silêncio habitado
Pois não havera mais momento, mais nada.
O frio rio queimado, passado
agora estava só.
E esta voz!Como quero ouvi-la mais
hora na sala, hora no quarto
semelhante a minha
anda!corre!estou aqui!
subtraindo-me a idade na soma de cada ano.

Renato Cavalheiro
Miracatu 1993/1994

Nenhum comentário:

Postar um comentário