AQUELE TRAJETO

Naquele dia ele seguia sozinho o conhecido trajeto em seu velho carro. Diferente de outros dias em que a sua esposa o acompanhava.
Bem recentemente perguntara à esposa a quantidade de anos que faziam aquele trajeto. Sem titubear ela respondeu: doze anos! Doze! Não seriam dez? Ele retrucara. Doze! É quase o tempo que nós estamos casados! Concluíra a esposa. Além disso, eles consideraram que a filha mais velha já estava com dez anos. E a filha nascera dois anos após o casamento.
Era sempre a mesma rotina. Na ida ele deixava a esposa no local de seu trabalho perto das oito horas e seguia em frente até chegar a uma ampla garagem de alguns andares. Era ali que trabalhava há doze anos. Estacionava o carro num canto exclusivo e se dirigia para o seu pequeno escritório. Ele era o responsável por tudo que ocorria naquele local vinte e quatro horas por dia durante a semana de trabalho. Sábados, domingos e feriados havia outro responsável, pois o ambiente era outro. Era um ambiente de compras durante o dia e de bares à noite. Resumindo era uma garagem de passagem. Na volta ele pegava a esposa na loja onde trabalhava e assim ambos voltavam ao seu lar onde as duas filhas os esperavam ansiosas em companhia de sua sogra (que era quem se responsabilizava pelas crianças durante a semana).
Naquele dia algo que há muitos anos já o vinha incomodando deveras, tornou-se uma obsessão. Conhecia todas as ruas transversais de seu rotineiro trajeto menos aquela rua com a placa: rua sem saída. Já havia tentado conhecer esta rua juntamente com a esposa, mas esta não manifestara interesse algum pela rua. Largue mão! Pra quê conhecer uma rua boba e sem saída? Ter que dar ré depois!... Afinal, não é uma rua sem saída? Dissera.
Naquele dia, ele sem ela entrou na rua sem saída e nunca mais voltou.
(Osvaldo Matsuda)

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