Todo
dia Zabete tomava o trem no mesmo horário tanto na ida como na
volta, logicamente sete horas da manhã e sete horas da noite. Assim cumpria o
seu dia de trabalho. Exceto aos sábados, domingos, feriados, dias santos, nas
férias e em dias em que faltava por um motivo ou outro (Zabete
raramente faltava, só por motivo extremo de saúde mesmo!). Ela era muito
afeiçoada ao seu trabalho. Recepcionava as pessoas há muitos anos nesta grande
empresa multinacional. Desta maneira viajava de seu humilde bairro suburbano,
cruzava toda a grande metrópole de grandes prédios e finalmente parava na
estação do outro lado desta metrópole e se dirigia ao seu destino andando
aproximadamente uns quinze minutos. Era uma rotina de muitos anos.
Ultimamente
Zabete havia notado que os prédios novos eram de um material vitrificado,
brilhante e colorido. Tudo ia bem até o dia em que a viu pela primeira
vez. Era a moça dos prédios denominação
dada pela própria Zabete que ultimamente via esta moça quase rotineiramente. No
início a visão daquela enorme figura loira de cabelo esvoaçante era bem
esporádica. Zabete notou que a loira do prédio se tornava a cada dia: mais
malévola. Pois, antes a visão a deixava com um pouco de mal-estar, mas
atualmente além do mal-estar resultava numa Zabete insone. E as
noites se tornavam mal dormidas e estavam influenciando no seu humor na
recepção da empresa. Zabete tentou abafar a visão da moça do prédio sem
sucesso. Entrava no trem e punha uns óculos escuros e fechava bem os olhos. Mas
mesmo assim ao chegar próximo dos grandes prédios vitrificados via a moça dos
prédios. O que fazer? O que fazer? A visão cada vez mais malévola!
Assim
vieram também as enxaquecas, estresses e outras indisposições. E antes que
ficasse louca Zabete viu a moça do prédio sair do local onde estava, se
apequenar, adentrar no trem, sentar ao seu lado, acompanhá-la até seu trabalho
e substituí-la na recepção.
(Osvaldo Matsuda)
Ótimo conto, gostei. Este blog precisa de mais contos. Tem muita poesia. Nada contra, mas tem muita.
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