Literatura
2º FLI – FESTIVAL LITERÁRIO DE IGUAPE
Correalização: Oficina Cultural Gerson de Abreu e Prefeitura de Iguape
15 a 17 de maio – quinta-feira a sábado

O Festival Literário de Iguape é um evento que celebra a literatura enquanto expressão artística, fonte de saber e entretenimento, com ações de incentivo à leitura e à produção textual por meio de oficinas, workshops, palestras, feira de livros e apresentações cênicas e musicais.
Oficina Cultural Gerson de Abreu
Coordenador: Leila Horiguti
Rua XV de Novembro, 522 - Centro - Cep: 11920-000 - Iguape/SP
Telefone: (13) 3841-4004 / 3841-1732 | gersondeabreu@oficinasculturais.org.br
Funcionamento: Terça a sexta-feira das 13h às 22h e sábados das 9h às 18h
Inscrições: Terça a sexta-feira das 13h às 22h
sábados das 9h às 18h

Dia 17/05/2014, sábado
LANÇAMENTO DE LIVROS – AUTORES DA REGIÃO
15h – Het Caain - Osvaldo Matsuda
17 h –
Areia e vidro e Criação reciclagem destruição clonagem virtual poema arte isopor capim parafinado
Nestor Rocha
Venda no site: http://www.clubedeautores.com.br/book/164296--HET_CAAIN#.U2kqzigj-a4
Het Caain, por Osvaldo Matsuda
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Areia e Vidro – Nestor Rocha
http://portalmiracatu.com.br/wp-content/uploads/2014/02/cover_front_big.jpg



CRIAÇÃO RECICLAGEM DESTRUIÇÃO CLONAGEM VIRTUAL POEMA ARTE ISOPOR CAPIM PARAFINADO – NESTOR ROCHA
https://s3.amazonaws.com/media.clubedeautores.com.br/downloads/books/152935/preview/cover_front_big.jpg?AWSAccessKeyId=02VTT47Q18YKJ450E5R2&Expires=1417597687&Signature=6ZqhvUuxFGb8mYSCUkz6wU56lXM%3D



SAUDADE INTEMPORAL



Miracatu Prainha, assim eu vejo,
Pois, ainda há saudade intemporal
Que nunca passa, embora meu desejo
Quer aplacar um pouco a natural

Emoção diária que neste ensejo
Não passa nunca. Ah, saudade tal
Que uma aura me toca e eu revejo
Sua face bela, pronta e matinal.

Face tão bela sempre trancafiada
Nesta memória minha destinada
Talvez, ficar eterna em prontidão

E aparecer assim tão de repente
Dar-me saudade, dor intermitente,
Ó musa minha, ó minha razão!

(Miracatu Prainha, 08 de setembro de 2012)
Osvaldo Matsuda

SOBRE LIVROS E SEBOS

            
   

          Sempre tive pelos sebos uma paixão profunda. Percorrer as prateleiras abarrotadas de livros de todas as épocas enche-me o espírito de prazerosa satisfação. Garimpando entre um e outro sempre encontro algo importante, e a preço módico, o que é mais interessante. Anos atrás, num sebo da Praça Mauá, em Santos, encontrei livros raros, pelos quais paguei uma ninharia, entre eles, as  “Obras Completas” de Paulo Setúbal, editadas na década de 1950, e “As Farpas”, de Éça de Queirós, edição de 1926.


Num outro sebo, mais chique, no Gonzaga, encontrei “Poemas e Canções”, edição de 1934, de Vicente de Carvalho, um de meus poetas preferidos. Para quem não sabe, Vicente de Carvalho, poeta parnasiano de fina inspiração, sempre teve estreitos laços com o Vale do Ribeira. Era sócio da Companhia de Navegação Fluvial Sul Paulista, que durante décadas foi responsável pela navegação fluvial em nossa região. Criou alguns dos mais belos poemas de nossa língua.

          Em Iguape, costumava frequentar um sebo instalado numa banca detrás da Basílica do Bom Jesus, onde sempre encontrava muitos livros antigos e, de lambuja, ganhava alguns de brinde. Ali comprei “As Aventuras de Pickwick”, de Dickens, “As Ilhas da Corrente”, de Hemingway, “A Religiosa”, de Diderot, “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe, “A Morte de Artêmio Cruz”, de Carlos Fuentes, “Os Irmãos Karamazovi, de Dostoiévski, entre outros.

  O dono do sebo, amante inveterado dos livros, sempre me ofertava alguns livros antigos, que para outros talvez tenham pouco valor, mas que para mim, apaixonado por livros antigos, são como que preciosidades: “O Paraíso”, de Coelho Neto, edição de 1926, “A Musa em Férias”, de Guerra Junqueiro, de 1923, “Flor d’Alisa”, de Lamartine, de 1924, “A Marquezinha de Seiglière”, de Jules Sandeau, de 1934, e assim por diante.

  Com seu jeito simples, o meu amigo contava histórias sobre cada livro, e até mesmo sobre autores que conheceu pessoalmente, como o poeta Glauco Mattoso, entre outros. Ou sobre aquela edição original de “Grandes Sertões: Veredas”, com o autógrafo de Guimarães Rosa, que vendeu, por engano, a um esperto comprador, a preço de banana.

            Um de meus prazeres mais acalentados não é a leitura propriamente dita, mas o ato de folhear as páginas dos livros, senti-los em toda sua plenitude, procurar decifrar seus mistérios, para depois, aí sim, ler com avidez as suas páginas. E foi com surpresa que, ao folhear “A Musa em Férias”, do grande poeta português Guerra Junqueiro, logo nas primeiras páginas, li a dedicatória que o autor fez ao seu amigo Bernardino Machado, que foi presidente de Portugal por duas vezes. Nascido em Iguape, onde seu pai era vice-cônsul português, Bernardino Machado cedo partiu com sua família para Portugal, onde se notabilizou como um dos mais ilustres homens de seu tempo. 

                 Por ROBERTO FORTES

(Publicado no JORNAL REGIONAL, nº 1.061, 14-11-2013)


ANO NOVO... E QUE TUDO SE REALIZE!

Já estamos no dia 3 de janeiro de 2014. Ainda é o início de mais um novo ano, porém, quando menos esperarmos, já estaremos em dezembro, comemorando outro final de ano. O tempo ruge, não urge, como diziam os antigos. O tempo passa, o tempo voa e a poupança de certo banco que mudou de nome ainda deve continuar numa boa.

A cada novo ano que se inicia fazemos muitos projetos de mudanças, e nisso parecemos acreditar com todo o ardor, mas, quando termina o ano, vemos que pouco ou nada do que planejamos saiu de fato do papel. Continuamos do mesmo jeito, sem ter efetuado em nossas vidas aquelas tão planejadas e acaloradas mudanças.

Mas analisemos bem a questão. Que tipo de mudança seria essa? Mudaríamos a nossa maneira de ser, nossas perspectivas diante do mundo, nossa opinião a respeito das coisas? Se agíssemos assim, passaríamos a ser outra pessoa, e não mais aquela pessoa que, no início do ano, planejou mudanças em sua vida. Que nem a profecia maia, nosso projeto de mudanças tem que sempre dar xabu?

Quais são nossos projetos de mudanças? Fazer exercícios para perder a indesejável barriguinha ou para reduzir o colesterol e a diabetes? Ler aqueles livros que ficam nos chamando da estante, mas que nunca temos tempo de lê-los? Abraçar aquela pessoinha com quem não simpatizamos? Dedicar mais atenção aos filhos e, por tabela, à nossa cara metade? Fazer faculdade, ou, talvez, um novo curso? Andar descalço nas ruas? Tomar banho de chuva, sem guarda-chuva? Fazer aquela viagem para tal lugar que vimos adiando há anos? Comer com as mãos num restaurante chique, sem garfos e facas, mandando às favas a etiqueta? Conversar com aquele mendigo que fica jogado, bêbado, sujo e maltrapilho na praça, que todos fingem que não existe, e ouvir a sua história de vida?...

Bem, os projetos de mudanças podem ser muitos e variados. Mas parece que nunca conseguimos colocá-los em prática. Temos a impressão de que o ano passa tão rapidamente que não dá tempo de executá-los. Agora, convenhamos: o que é o tempo senão uma convenção humana? Contudo, se é uma convenção que nós, humanos, criamos, então nós é que deveríamos ter domínio sobre o tempo, e não o contrário.

Talvez a gente não nunca consiga realizar os nossos projetos de mudanças justamente porque ficamos com essa obrigação martelando em nossas cabeças, e o que era para ser executado prazerosamente, acaba se transformando num fardo que carregamos nas costas durante todo o ano, sem vontade de torná-lo uma grata realidade.

Mas não sejamos tão pessimistas. Vamos acreditar que 2014 nos reserva a oportunidade de realizar os nossos tão acalentados projetos.

Por ROBERTO FORTES

(Publicado no JORNAL REGIONAL, nº 1.068, de 3-1-2014)



93 ANOS SEM FRANCISCA JÚLIA




No último dia 1º de novembro, transcorreu o 93º aniversário de falecimento da poetisa Francisca Júlia. Apesar de considerada a autora que mais se aproximou do ideal parnasiano – a arte pela arte –, e de ser, em seu tempo, consagrada como a maior poetisa da Língua Portuguesa, a filha de Xiririca (hoje Eldorado) amargou décadas de esquecimento. Enquanto nos livros escolares e nas antologias literárias sempre pontificou a “Trindade Parnasiana”, formada por Olavo Bilac, Raimundo Correa e Alberto de Oliveira, a tímida e reclusa Francisca Júlia caiu no mais injusto ostracismo.

Mas as coisas, já há algum tempo, vem mudando, e a poetisa está sendo colocada no lugar que sempre lhe foi devido. Estudioso da obra dessa artista desde a adolescência, fico feliz por ter uma modesta participação na reabilitação da maior representante feminina das letras em nossa região e uma das mais célebres de nossa língua. Em 1999, escrevi uma pequena biografia sobre a vida e obra dessa poetisa e publiquei no conceituado site literário“Blocos”. A partir daí, comecei um amplo trabalho para a divulgação de Francisca Júlia. Publiquei esse mesmo texto nos sites Weblivros, Folhetim e outros.

Hoje, navegando pela internet, constato, com satisfação, que esse trabalho vem sendo reproduzido por uma infinidade de sites pelo país e pelo mundo afora. Muitos estudantes e professores de Letras desenvolveram, e alguns estão a desenvolver, teses de mestrado sobre a vida e obra de nossa poetisa. Muitos deles mantêm contato comigo, e dentro de minhas limitações, procuro sempre colaborar, pois dessa maneira dou a minha contribuição para a reabilitação de Francisca Júlia. Tem estudioso, hoje, da nossa poetisa no Nordeste, no Sul, no Norte, no Sudeste, enfim, em todos os recantos do País.

Há alguns anos, consegui, num sebo da Internet, alguns livros dela. Comecei pelo seu primeiro livro, “Mármores”, na edição original de 1895, pelo qual paguei módico preço. O leitor não pode imaginar a emoção que senti ao abrir o pacote entregue pelo carteiro! Ao folhear esse pequeno livro, senti o mesmo prazer que sentiram Olavo Bilac, Raimundo Correa, João Ribeiro e tantos outros, que se renderam diante do talento da “peregrina artista”, como a chamavam. Muitos não acreditavam que aqueles versos perfeitos, marmóreos, eram escritos por mulher. Olavo Bilac chegou a dizer: “Isso deve ser uma brincadeira do Raimundo Correa!”. Mas, não! Eram versos de mulher, sim, não outra senão a nossa Francisca Júlia.

Depois, consegui a primeira e a segunda edições de “Esphinges”, o seu segundo livro. Na sequência, comprei o excelente “Poesias de Francisca Júlia,” onde o crítico Péricles Eugenio da Silva Ramos reuniu toda a obra poética de Francisca Júlia, com a sua biografia e análise crítica. De quebra, também comprei no sebo o livro “A Arte de Amar”, de Júlio César da Silva, irmão de Francisca Júlia, também considerado, em seu tempo, um dos maiores poetas brasileiros. E era de Xiririca. Era do nosso Vale do Ribeira.

Como sonhar não custa nada, ainda sonho que brevemente alguma grande editora se renderá ao talento e importância de Francisca Júlia e reeditará a sua obra completa. Enquanto isso, continuo pesquisando o pouco que se sabe sobre a sua vida, um jornal aqui, um livro ali, uma referência escondida acolá. Talvez um dia resulte num livro sobre a sua vida e obra. 

Por ROBERTO FORTES

(Publicado no JORNAL REGIONAL, nº 1.063, de 29-11-2013)