93 ANOS SEM FRANCISCA JÚLIA




No último dia 1º de novembro, transcorreu o 93º aniversário de falecimento da poetisa Francisca Júlia. Apesar de considerada a autora que mais se aproximou do ideal parnasiano – a arte pela arte –, e de ser, em seu tempo, consagrada como a maior poetisa da Língua Portuguesa, a filha de Xiririca (hoje Eldorado) amargou décadas de esquecimento. Enquanto nos livros escolares e nas antologias literárias sempre pontificou a “Trindade Parnasiana”, formada por Olavo Bilac, Raimundo Correa e Alberto de Oliveira, a tímida e reclusa Francisca Júlia caiu no mais injusto ostracismo.

Mas as coisas, já há algum tempo, vem mudando, e a poetisa está sendo colocada no lugar que sempre lhe foi devido. Estudioso da obra dessa artista desde a adolescência, fico feliz por ter uma modesta participação na reabilitação da maior representante feminina das letras em nossa região e uma das mais célebres de nossa língua. Em 1999, escrevi uma pequena biografia sobre a vida e obra dessa poetisa e publiquei no conceituado site literário“Blocos”. A partir daí, comecei um amplo trabalho para a divulgação de Francisca Júlia. Publiquei esse mesmo texto nos sites Weblivros, Folhetim e outros.

Hoje, navegando pela internet, constato, com satisfação, que esse trabalho vem sendo reproduzido por uma infinidade de sites pelo país e pelo mundo afora. Muitos estudantes e professores de Letras desenvolveram, e alguns estão a desenvolver, teses de mestrado sobre a vida e obra de nossa poetisa. Muitos deles mantêm contato comigo, e dentro de minhas limitações, procuro sempre colaborar, pois dessa maneira dou a minha contribuição para a reabilitação de Francisca Júlia. Tem estudioso, hoje, da nossa poetisa no Nordeste, no Sul, no Norte, no Sudeste, enfim, em todos os recantos do País.

Há alguns anos, consegui, num sebo da Internet, alguns livros dela. Comecei pelo seu primeiro livro, “Mármores”, na edição original de 1895, pelo qual paguei módico preço. O leitor não pode imaginar a emoção que senti ao abrir o pacote entregue pelo carteiro! Ao folhear esse pequeno livro, senti o mesmo prazer que sentiram Olavo Bilac, Raimundo Correa, João Ribeiro e tantos outros, que se renderam diante do talento da “peregrina artista”, como a chamavam. Muitos não acreditavam que aqueles versos perfeitos, marmóreos, eram escritos por mulher. Olavo Bilac chegou a dizer: “Isso deve ser uma brincadeira do Raimundo Correa!”. Mas, não! Eram versos de mulher, sim, não outra senão a nossa Francisca Júlia.

Depois, consegui a primeira e a segunda edições de “Esphinges”, o seu segundo livro. Na sequência, comprei o excelente “Poesias de Francisca Júlia,” onde o crítico Péricles Eugenio da Silva Ramos reuniu toda a obra poética de Francisca Júlia, com a sua biografia e análise crítica. De quebra, também comprei no sebo o livro “A Arte de Amar”, de Júlio César da Silva, irmão de Francisca Júlia, também considerado, em seu tempo, um dos maiores poetas brasileiros. E era de Xiririca. Era do nosso Vale do Ribeira.

Como sonhar não custa nada, ainda sonho que brevemente alguma grande editora se renderá ao talento e importância de Francisca Júlia e reeditará a sua obra completa. Enquanto isso, continuo pesquisando o pouco que se sabe sobre a sua vida, um jornal aqui, um livro ali, uma referência escondida acolá. Talvez um dia resulte num livro sobre a sua vida e obra. 

Por ROBERTO FORTES

(Publicado no JORNAL REGIONAL, nº 1.063, de 29-11-2013)

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