ARVOREDO de DANUBIO FIALHO

No sótão,

O baú permanecia fechado

Guardando estrelas que não mais luziam.

Enquanto isso, o almoço estava na mesa,

Sem aquele vaso de flores

Colorindo vozes.



No fundo do mar,

A areia se movia

Com a passagem rápida

De um pássaro marinho.



Subindo a escada,

A menina buscava sua boneca

Em meio a vozes indiferentes.

Abrira-se o baú.

Ninguém por perto.

E a menina chorava

Enquanto a sobremesa

Era servida.



Tombava o pássaro e

Esvaziava-se o mar.



Na cozinha,

O barulho das louças.



Na escuridão de um quarto,

No fundo do mar,

Entre estrelas marinhas

A boneca ninava a menina

Que sonhava:

A natureza era uma grande família.

Quem chorou pelo mar-morto?

Ele próprio.

É a maior lágrima

De que se tem notícia.



Nem flores, nem pássaros,

Nem céu, nem azul,

A ecologia desabrocha

Entre os lábios da moda.

.

O mar secou.

Ninguém chorou.



Fui vê-lo;

Inda respira.

Encontrei apenas o sol, compadecido,

Tentando a eutanásia.



Lenta agonia.



E o que foi feito

De todos aqueles amores,

Séculos após séculos,

E de todas as lágrimas vertidas?



Hoje, nada importa,

Como amanhã,

Hoje, nada importará.



Nem nuvens, ou luzes,

Somente a noite,

Somente tu,

Somente eu.



Somente nós,

Nem lua, nem céu,

Nem dor, nem lágrimas,

Ou vozes,

Apenas um instante.



Somente tu,

Somente nós

A correr - nus,

A socorrer - nus,

A abraçar-nos.





Sem mantos,

Como sereias,

Sem velas,

Sem sorteios,

Mas com sorte.



No peito, um coração,

Na boca, um esboço,

Na mente,

Um arvoredo

E, nos sonhos da menina,

Aquele mar

Que um dia

Poderá saciar a sua sede

Em outro mar

E ser rebatizado:

“O Ressurrecto”.

Um comentário: