a alma do mato
suindara
curiango
peixe frito
sem fim
sabe quem ensinou
o primeiro é o último
o a foi seu pai
o u sua mãe
viu com os olhos do irmão
sentiu com a alma do amor da menina
se fosse falar quem era dono das suas palavras...
o medo...era do rato
o escuro...o escondido
a raiva...a vergonha
o mundo...estereotipou
puta que o pariu...a lama
mostrou como anda com um saco no pé
o barranco
o vento forte disse como se segura uma telha bem firme
a valeta...por onde vai a enxurrada
o Rogerio a amizade do passado
O B é a barriga mané barriga
O c seu amor
Olhar de lado foi o vento
O som, quem sabe?
Foi o rio ou a vaca
Fulano acha que disse primeiro aquilo que todo mundo sabia
Sentiu primeiro o que todo mundo já sentia
E via
E ia
Mentia
Quem lhe declarou a primeira poesia
Maresia e
Ensinou o balanço da lua com peixe e camarão frito
déco
Sete barras
15-08-2009-08-15
Vilarejo e o que se ouve
sapatos correm pela estrada
apenas o barulho é real
plác plác plác ...
Eis a dignidade de ser rua
nunca se preocupar com os que passeiam
pés molhados caminhantes
falam sua língua arrastada.
Mãe de todos os passos é a rua
que entende o dizer de seus filhos
déco
Miracatu (Hotel, 7/03/94)
(do livro Vento Caminhador)
Vento Caminhador
O Sem-fim pia no rio
debaixo da chuva fina,
enquanto na serra mora o Urubu.
Igual a voz dos bichos, por sina
é a voz do contador.
Sou ali do morrão
filho de Firmino e Tunica
neto de índio curandeiro olhador
mestre de fulia e congada trazido do Congo
era nosso tataravô Francisco Jacó
hoje eu sou mineiro de Miracatu.
Moro aqui faz tanto tempo
que as lembranças que tenho
são as que se extendem do Moraes ao Faú
da antiga Casa Cumprida
até o Barnabés, o morro que termina Miracatu.
Pai veio da região de Corinto pra cá pra ser peão de obra.
Nas obras da pista
de máquina era operador
quando viu essa terra sem males, mãe disse:
vou plantá raiz, os umbigos dos meus filhos em Miracatu
hoje eu sou mineiro de Miracatu.
Como todo índio caminhador
nossos avós já andaram
por toda essa terra...até o Guaraú
no seu coração a fronteira era grande
limitava o vento, o sonho e o amor.
Mãe que já trabalhou no vajal, cavou chão
e hoje é cozinheira, disse prá lembrá dos sonhos
com que fala o nosso avô.
Sonhei com remédio, com planta
e vi a reunião dos nhanderús.
hoje eu sou mineiro de Miracatu.
Vi muita gente ir embora
parentes e amigos
alguns pra sempre, trazendo muita dor
outros pra Curitiba, São Paulo
Taubaté, Japão e Salvador.
Sou mineiro pobre, cafuzo... e mestiço de português e italiano
moro no morro dos minêro, onde a cerca é o respeito
onde os vizinho são seu Geraldo
tia Gula, dona Hilda, Seu Sebastião,
comadre Cida e finado Compadre Zico
hoje eu sou mineiro de Miracatu.
As lembranças que trago de Minas
são as dos causos...dos sonhos
e a herança de ser caminhador,
mas as lembranças vividas nas chuvas,
nos rios e nos matos são quase todas de Miracatu.
Muita gente continua a vir pra cá
uns atrás dos sonhos e do vento
outros só atrás do amor
mas também tem gente
que vem com a ganância só pra trazer muita dor.
hoje eu sou mineiro de Miracatu.
Pra quê falar
se as palavras são ditas pelo vento
levadas pelo tempo
e moram numa simples flor?
Mas as pessoas também são o tempo
o tempo sendo vento
o vento sendo espírito e o espírito a gente não vendo
não vendo onde ele vai chegar
nem em que tempo isso vai dar.
Assim como todo mundo é vento
sem fronteira e sem tempo
hoje eu sou mineiro de Miracatu
mas amanhã serei apenas vento...vento caminhador.
déco
Barnabés- Juquitiba 20-12-99
(do livro Vento Caminhador)
Eu Queria Ser
O sol que desponta
A planta que cresce.
Eu queria ser hoje a criança que brinca
O pássaro que voa, o ruído da borboleta
A rosa que desabrocha
O cravo a perfumar.
Eu queria ser o vento balançando as águas
Do rio que corre do grande Ribeira.
Eu queria ser hoje o pé da Goiabeira
Para pousar o sabiá e a coleira.
Eu queria ser as matas, beleza igual nunca vi,
Juriti ali pousando e formoso bem-te-vi.
Eu queria ser a rolinha para pousar nas bananeiras
Borboletas se chegando no lindo pé de laranjeira.
Eu queria ser o sol no pino do meio-dia,
Para ver naquela casa reunir toda a família,
Eu queria ser o jardim do casebre da fazenda
Para que a donzela colha as frias fores
Enquanto a vovó na varanda as finas rendas tecia
Eu queria ser a tarde, para a noite ver chegar,
E os casais de namorados no clarão da lua se amar,
Eu queria ser as estrelas com sua beleza sem fim.
Quero ser a madrugada e também a natureza...
Como não posso ser tudo isso,
Contemplo toda essa beleza.
CONFISSÃO DE AMOR
Deixe-me beber na fonte de sua vida
Deixe-me espelhar nos teus olhos
Deixe-me ir buscar no infinito da tua alma
A resposta do meu apelo.
Deixe-me te amar para ser feliz
Deixe-me fazer versos, para que
Eu possa ver o teu sorriso.
Deixe-me fazer-te chorar
Para que eu possa ver as tuas lágrimas
Deixe-me só por um instante apenas
Para que morra de saudades...
Deixe-me sempre para que eu
Possa avaliar o teu amor
Mas nunca me deixe só para que
Eu não morra de saudades
Mas nunca me deixe só um instante
Mas nunca, enquanto for vivo,
Deixe-me de amar mesmo em pensamento
Mas nunca deixe de chorar por mim
Lágrimas ardentes
Mas nunca deixe de sonhar comigo
Porque posso morrer como um qualquer
Porquê o sopro da minha vida está no teu coração.
Porquê a minha vida está ligada a tua vida
Por laços de sangue
Porquê a minha vida está fundida na tua
Pela dureza da vida
Por que a minha vida está presa em sua valentia
Por que a minha vida é só tua vida da minha vida.
UMA LEMBRANÇA
E você conseguiu me fazer sorrir,
Se eternizou em minha existência,
E nem sei se você se lembra de mim...
Você conseguiu ser luz em meu caminho,
Com seu carinho e seu jeito de compreender,
Me fez esquecer o que é sofrer,
Ao me embriagar com seu doce olhar...
Foi bom te eoncontrar em minha estrada,
Sentir alguém que me fez viver feliz,
E ter mais vontade de seguir em frente,
Querer vencer, por você existir comigo...
Um momento em minha vida que eternizou,
Com um amor que me deu razão de viver,
saber que valeu viver a vontade de vencer,
Apenas para ser feliz cada momento.
IMPORTA É SEGUIR EM HARMONIA
E nunca nós seremos iguais,
Mas podemos se respeitar mutuamente,
E felizes, viver em paz...
Não são iguais, os nossos dedos,
Não são os mesmos os nossos segredos,
Mas podemos tentar se entender,
E viver em harmonia com nossas diferenças...
Até na solidão, somos cada qual, um,
Cada um em seu lugar com seus ideais,
Com seu jeito de buscar sua felicidade,
Cada um com seu jeito pessoal de ser...
Importa é seguir em harmonia,
Sem querer tornar pesada nenhuma cruz,
Fazer que seja melhor o seu espaço,
Que se acenda com Deus e sua luz.
Expectativa
Vamos crescer enquanto ainda podemos ficar,
Amar as coisas que estão ao nosso redor,
Fazer feliz a vida a partir de nosso lar...
Sabemos que a tarde está chegando,
Daqui a pouco o sol irá se pôr,
A noite estará escura mas poderei ir lá fora,
Acender a luz com um pouco de amor...
Irá soprar um vento frio, isso eu sei,
Mas não impedirá que eu possa estar quente,
Com as coisas boas que fiz e que falei...
Ninguém me impedirá uma nobre ação,
Levarei comigo a verdade que deixei ficar,
No peito de quem põe a mão no coração.
CONVITE
Acorda,
Viemos te buscar...
Viemos te convidar
A esquecer o ódio,
A conhecer o amor...
Viemos te dizer,
Que existe um Supremo poder,
Um justiça maior que a nossa,
Querendo te regenerar...
Perdoe quem te deixou aos pedaços,
Quem te emburrou para esse buraco,
Viemos te convidar a sair,
Viemos te ajudar a se regenerar...
Deixe que a luz te abraçe,
Deixe que o saber te acolha a alma,
Faça sua existência valer a pena,
Vamos com a luz clarear.
Saudades de mim
No dia mais claro
Vou me procurar,
Na noite mais escura...
Quero apenas me conhecer,
Saber quem realmente sou,
Ouvir sábias palavras,
Se possível, do Criador...
Saudades de mim
Embalam meu jeito de ser,
Só sei que não posso me esquecer,
Nem um só momento...
Vou me encontrar,
Como alguém que encontra o sol,
Me iluminar na noite escura,
Me revelar como um dia claro.
Dúvida de um poeta
Escondida em cada verso!
Quando rosa, não é simples rosa,
Perdida no jardim do universo...
Quem sabe sou mais que verso,
Na poesia de cada frase escrita!
Quando conto um conto inverso,
Em uma rima feia ou bonita...
Imerso em um jeito meu de meditar,
Deixando um pouco do que sou,
Mo ser que tem sede de amar,
Mais do que quem mais amou...
Quem sabe sou mais que poesia,
Num ser que se despe e se liberta,
Para o nascer de mais um dia,
Ao buscar a palavra certa!
O Ocidente e o Oriente em busca da paz
Certa vez no Oriente
Quando os homens encontraram
Petróleo no terreno quente
Um país ganancioso
Logo quis contar vantagem:
-Com licença, povozinho,
Vim conferir minha imagem!
O Iraque, de Saddan Hussein, o maluco
Comentou com o vizinho
-Não vale arrancar petróleo
Pra parecer ou ficar mais rico!
E qual não foi a surpresa
Dos países fracotes:
Do reflexo do petróleo
Só tem vez os mais fortes!
Quem era rico e poderoso
Viu-se pobre e humilhado
Quem era robusto e forte
Ficou magrelo e feioso
-Credo!-Indagou a Arábia
-Cruzes!-Admirou o Kuwait
-Incrível!-Indignou-se o Líbano
E a Jordânia bradou
E o Iraque, que não é medroso
Foi quem depressa falou:
-Este terreno já tem dono
Quem manda aqui é Saddam, um maluco perigoso!
-Mentira!-Disse o Estados Unidos
Balançando as pulseiras
-Li essa história em quadrinhos,
Vocês só falam besteiras!
Estufou-se, bem inchado
Mostrando o rosto azul, branco e vermelho
E com jeito de maluado
Perguntou para o filho:
-Filho, filho meu!
Responda se há no mundo
Outro povo mais forte,
Mais esperto e imponente,
Mais incrível e resistente,
Mais valente do que eu?
Diga logo, filho meu!!
Os países, assustados,
Ouviram com atenção
A resposta do filho
Á imensa pretensão:
-Vou falar a verdade,
E mostrar a realidade
Sangue por petróleo não
Guerra por petróleo não!
Você diz que é imponente,
Mas é arrogante e ideológico
Incrível e resistente,
E só resolve as coisas com esforço bélico
Desfila o ano inteiro
E quando o assunto é a paz
Manda a ONU e assim ela faz,
A união dos povos no terreiro.
Homenagem
Contra-ataque pra lá
A luta continua
Não pode parar
Então, essa aqui
É a nossa homenagem
Aos guerreiros e guerreiras
Que lutaram por liberdade
Não se pode esquecer
Dos Mocambos e Quilombos
Foram de grande importância
Pra resistência do povo
Que estiveram lá lutando
Organizando com união
E aqui estão servindo
De fonte de inspiração
Entre eles vem Cangume,
Oitizeiro, Subupira,
Engana-Colomin
Morro Seco, Mandira
Da Carlota ou do Piolho
E o grande Jabaquara
Lembrei Campo Grande
E também Capacaça
Dambrabanga, Porto Velho,
Aboboral, Sapatú,
Nossa Senhora dos Mares,
Ambrósio, Turiaçu ,
Cafundó, Garanhuns
Pedro Cubas de Clima,
Um salve Angolajanga,
Biguazinho, Catingas,
Atacam pra aqui
Contra-ataque pra lá
A luta continua
Não pode parar (refrão 2x)
Então, essa aqui
É a nossa homenagem
Aos guerreiros e guerreiras
Que lutaram por liberdade
Bombas, Maria Claudia
Veio aqui na memória
Andalaquituxe,
Osenga, Maria Rosa,
Pilões,Praia Grande,
Quiçamã e Gongoro
E lá no Rio de Janeiro
Quilombo de Manuel Congo
Aqualtune, Tabocas,
Poça, Ivaporunduva,
Buraco do Tatu
Em Goiás o do Calunga,
Quilombo de Preto Cosme
No norte do Maranhão
André Lopes, Amaro,
São Pedro, Galvão,
Macaco e do Trombeta
João Surrá e Una,
Quiloange, Acotirene,
Mocambo do Cabula
No Vale do Cricaré
Quilombo de Zacimba Gaba
E aqui no do Ribeira
Jaó e Nhunguara
Os nomes aqui citados
Hoje ainda representa
Motivos de orgulho
Marcas de resistência
E consciência
Essa é nossa homenagem
Aos guerreiros e guerreiras
Que lutaram por liberdade
Atacam pra aqui
Contra-ataque pra lá
A luta continua
Não pode parar (refrão 2x)
Então, essa aqui
É a nossa homenagem
Aos guerreiros e guerreiras
Que lutaram por liberdade
SOBREVIVENTES
O FILHO PRÓDIGO
E não mais voltou,
mas que está a caminho...
Eu sou a pedra do caminho,
Sou o dedo de quem tropeça,
Sou o soldado ferido,
Sou o bandido rendido...
Sou a janela da penitenciária,
Sou a cama encardida,
Sou a mesa da funerária,
Sou o olhar do vampiro...
Eu sou o escuro,
Sou o morcego que assopra,
Sou a bala perdida,
Sou a tristeza do Jeca...
Eu sou o corte da espada,
Sou a saudade da madame,
Sou o soldado que foi à guerra,
Sou a mãe que ficou triste...
Sou o soco do nocauteador,
Sou a lágrima caída,
Sou o sangue derramado...
Sou a sede do andante,
Sou o amado distante,
Sou o riso do galanteador,
So o sexo do amante...
Eu sou o ar que respira,
Sou a sua contramão,
sou a sua indecisão,
Sou sua noite de insônia...
Eu sou o outro,
Sou o que vai e não volta,
Sou a surpresa da escolta,
Sou o momento de solidão...
Eu sou a saudade sem sentido,
Sou a paixão não correspondida,
Sou a maldade sem arrependimento,
Sou a dor do seu tormento...
Eu sou seu carrasco mascarado,
Sou o olhar do torturador,
Sou o frio do machado,
Do seu eu, sou o calor...
Sou o amor aflito,
Sou o medo do louco,
Sou a peleja na escuridão,
Sou a pura emoção...
Sou esquisito,
Sou feio, sou bonito,
Sou a boca de fumo,
Do viciado sou o pulmão...
Sou o diabo moreno,
Sou o gondoleiro sem remo,
Sou a fúria do mar,
Sou o tornado em movimento...
Eu sou a criança endiabrada,
Que não foi para a escola,
Soa a mãe presa no morro,
Sou a polícia pedindo socorro...
Eu sou o algoz e a vítima,
Sou o que ganhou e o que perdeu,
Sou o que ficou e o que correu,
Sou o que morreu e o que viveu...
Eu sou o carro desgovernado,
Sou o caminhão virado,
Sou o bafômetro do rodoviário,
Sou o motorista embriagado...
Eu sou o vizinho traído,
Sou a mulher sem juízo,
Eu sou o gemido de quem chora,
Sou o prazer de quem ama...
Eu sou o andarilho sem conduta,
Sou o bicho da fruta,
Sou o feto desprezado...
Eu sou a dor de quem ama,
Sou a paixão de quem me chama,
Sou o lar de quem não tem teto,
Sou o buraco da ponte...
Eu sou o óleo no asfalto,
Sou o grito de assalto,
Sou o quebrado do salto,
Sou o tombo na escada...
Eu sou seu pior pesadelo,
Sou o mais tenebroso modelo,
Sou o mais diabólico gesto,
Sou a piada sem graça...
Sou o vivente sem raça,
Sou o rastro da cobra,
Sou a pegada do leão,
Sou a sombra do camelo...
Eu sou o calor do deserto,
sou fantasma de perto,
Sou o choro da criança,
Sou o fio da esperança...
Eu sou o gato que sacode,
Sou o romance proibido,
Sou o fogo do desejo,
Sou a ordem de despejo...
Eu sou a dura melancolia,
Sou a sirene da ambulância,
Sou o olhar do assassino,
Sou a morte que aproxima...
Eu sou o defunto velado,
Sou a tampa do caixão,
Sou o mau cheiro do morto,
Sou o cafezinho servido...
Eu sou o ar de desprezo,
sou o beijo da traição,
Sou o gozo estendido,
Sou o prazer do tesão...
Eu sou a relação terminada,
Sou o crime passional,
Sou o coração do desprezado,
Sou o riso de quem partiu...
Eu sou o amigo fiel,
Da mulher mal amada,
Sou quem te leva flores
E te entrega na entrada...
Eu sou quem te leva pra sair,
Quando você não quer ir,
Sou a dor da hora de parir,
O silêncio que não diz nada...
Eu sou o tédio, sou o assédio,
Sou a liberdade e o cadeado,
Eu sou a corrente e a chave,
Sou nau e sou nave...
Eu sou a reza do sábio,
Solu a praga da bruxa,
Sou a luz da manhã,
Sou o escuro da noite...
Eu sou a cruz e a espada,
Sou a nota da música,
Sou o silêncio da estrada,
Sou o grito do inimigo...
Eu sou o pedido de socorro,
Que quebra a quietuda da mina,
Sou o segredo da prisão de aço,
Sou o braço do escravo...
Eu sou a chibata do feitor,
Sou o sangue que corre do couro,
Sou a lágrima que brota da alma,
Sou tédio, riso e emoção...
Eu sou o confuso que morre de frio,
Sou a água que se esvai depois do estio,
Sou a voz presa na garganta do desesperado,
Que tenta falar direito em direitos...
Sou o riso contido do acidentado,
Sou o calo no sovaco do aleijado,
Sou a partida onde tudo deu errado,
Sou o amor que acabou em separação...
Eu sou o índio curandeiro,
O velho guerreiro da floresta,
Sou o leão da selva de pedra,
Sou o último a chegar na festa...
Eu sou o colega que todo mundo detesta,
Sou o vinho doce que embriaga,
Sou a pinga do bar do Último Gole,
Sou o bêbado caído na calçada...
Eu sou a dívida que não te deixa dormir,
Sou o trote do cavalo com algúem na garupa,
Sou o uivo do lobo na noite de lua cheia,
Sou a estrrela do mar perdida na areia...
Eu sou o frio da chuva que cai sem parar,
Sou o medo de amar de quem se desiludiu,
Sou a saudade de quem ficou e de quem partiu,
Sou o "mico" de quem pagou e sem graça riu...
Sou um pouco de luz e um pouco de escuridão,
Sou um pouco de ar e um pouco de chão,
Se não quiser não tente me compreender,
Se puder, só se puder, me estenda a mão...
Eu sou uma obra divina em meu degrau,
Sou o meu calvário em busca do meu perdão,
Sou a oração que ecoa na vastidão,
Sou o filho pródigo de volta ao meu lar...
Resistência
Que as coisas melhoraram
Mas falo pra vocês
Poucas coisas que mudaram
Modificaram os nomes
Ficou bem mais bonitinho
Mas a grande semelhança
Aos meus olhos tá muito nítido
O escravo que recebia
Só um pouco de comida
Hoje recebe um salário
Que mau paga suas dívidas
O escravo que servia
Para um monte de função
Hoje é o assalariado
Que trampa lá pro patrão
O mesmo que antigamente
Era chamado senhor do engenho
Que desde aquela época
Era dono do dinheiro
Com muita influencia
Com alqueires de plantação
Que sempre está lucrando
Com base na exploração
Que tem o capitão do mato
Pra fazer sua proteção
Mudou o nome a polícia
Continua com a função
Contra esse sistema
Continuamos firmemente
Lutando, resistindo
Sobreviventes
Sem explorados
Sem exploradores (refrão 4x)
Paz entre nós
Guerra aos senhores
O português da piada
Que é chamado de burro
Vem aqui e na padaria
Escraviza o terceiro mundo
Ainda vem uns tipinho
Com as idéia muito estranha
Quero ser o meu patrão
Diminui minhas esperanças
Sem explorados
Sem exploradores
Paz entre nós
Guerra aos senhores
Não sou a favor da guerra
Sou a favor da justiça
Mas se a paz virá com sangue
Tô no meio da guerrilha
Aí playboy otário
Não pago pau pra você
Que aparece em propaganda
Com destaque na tv
Falando de justiça
Que os direitos são iguais
Dizendo que exploração
Hoje em dia nem tem mais
Dizendo que pobre e rico
Tem mesma oportunidade
Mas se olhar pro lado vemos
Que não é realidade
Aqui rico quando rouba
É chamado de doente
Mas se for pobre é suspeito
E é preso mesmo inocente
Sem explorados
Sem exploradores (refrão 4x)
Paz entre nós
Guerra aos senhores
Porque? Nossa história
Na escola pouco se estuda
Contam um monte de k.ô.
E escondem nossa cultura
E o trabalho cultural
Mantido na cidade
Tem que viver sem verba
Apertado na garagem
Mas ouvindo as promessas
Que as coisas vão melhorar
Háhá! Principalmente
De agosto para lá
Mas passou as eleições
Já acabou a campanha
Aí os cara somem
E o povo só com esperança
De um dia essas coisas
Melhorarem realmente
Que essa situação
Somente o povo que sente
Mas depois de quatro anos
Novamente é enganado
E o povo vai lá
E vota em outro candidato
Que faz a mesma coisa
O jogo é sujo, não muda
Por isso que eu não
Desisto da minha luta
Firmão contra o sistema
Outro elo na corrente
Aqui é resistência
Aqui é Sobreviventes
Sem explorados
Sem exploradores (refrão 4x)
Paz entre nós
Guerra aos senhores
Feridas
Feras idas?
Não! Feras que
Continuam feras
Feridas que
Continuam feridas
Abertas, doloridas
Dores idas?
Não. Dores que
Continuam doídas
Feridas que
Continuam feridas
Feridas que
Cortam a carne
Feridas que
Cortam a alma
Feridas que
Cortam a vida
Feridas que
Clamam a morte
A morte da vida?
Não. A morte
Dolorida da ferida
Feridas que
Continuam feridas
Doloridas, vivas...