O ESPELHO

O ESPELHO

I - O ROUBO
O vetusto palacete da Condessa da Barra foi assaltado e entre os vários objetos furtados constava um antiqüíssimo espelho de cristal. Estava com os nobres há séculos, desde que o fundador do clã saqueou e queimou um palácio mouro na baixa idade média. Os condes da Barra sempre tiveram um trágico destino, simplesmente desapareciam sem deixar pistas e eram as mulheres, as condessas que conduziam os muitos negócios da rica família.



II - MÁRIO
Mário dente de rato, criado na sarjeta, expulso de todas as escolas, freqüentador de delegacias, olhava extasiado o belíssimo objeto furtado. Deve ser efeito da droga pensou, o espelho refletia uma cena que parecia em todo o aspecto real, era como um filme; - Uma cabana na margem de um regato, a porta abria e uma garota em desespero corria para frente do espelho e clamava por socorro, suas mãos arranhavam em vão a fria superfície, ela não conseguia atravessá-la.



III – DEVANEIOS
Dia e noite Mário postava-se frente ao espelho. Podia ver a paisagem, a moça, sentir seu medo, entender seu chamado de socorro. Em sua solidão se imaginava o salvador da donzela em perigo. Com o passar do tempo e talvez devido ao continue uso de drogas pesadas, acreditava conhecer a personagem desde criança, seu nome era Larissa, fora seqüestrada e conseguira fugir do cativeiro e agora necessitava de sua ajuda, de seu carinho, de seu amor.


IV - A PASSAGEM
Mário estava apaixonado, era seu dever proteger quem roubara seu coração. Naquela noite junto à superfície do espelho tentava inutilmente acalmar a mulher desesperada que de olhos brilhantes apontava para seu coração. Fechou os olhos e se imaginou no outro lado abraçado a Larissa, um arrepio perpassou por seu corpo, sentiu frio e abriu os olhos... Estava do outro lado.



V - LARISSA
Vem! Disse Larissa, a dama do espelho. Mário abraçou-a fortemente, beijou seus cabelos e sentiu todo o horror tomar conta de sua mente, uma podridão, uma angustia um pavor repentino... Larissa se modificara, criaturas horripilantes saiam da cabana em sua direção. Não podia voltar, estava num mundo estranho, em um mundo alem da imaginação e a último som que ouviu foi à voz de Larissa dizendo a seus irmãos:- O coração, como sempre, é meu!


Gastão Ferreira/Iguape

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