ENQUANTO TEMOS MÃE
(dos "Annaes Franciscanos" - 1924)
Tombar na lucta, pouco importa ao homem;
Soffrer na vida, ao homem pouco importa;
Paixões e dores nunca nos consomem;
Não há desdita que nos bata a porta;
Olhamos tudo, rindo para tudo;
No prórpio pranto nós achamos goso;
A terra traja um verde, qual veludo,
(aos nosso olhos) d'um macio sedôso;
As raras magoas passam como os sonhos:
D'aquelles sonhos, de manhã, esquecidos;
E tantas vezes temos dias risonhos!
Oh! quantos dias felizes são vividos!
Não há, no lar, momentos de fadiga;
Cantamos, rimos, n'um gosar eterno
-Enquanto ouvimos uma voz amiga
Que diz: - Meu filho, com amor materno;
Enquanto temos mãe e seus carinhos;
Enquanto ao nosso lado ainda ella está
Gosando o riso ingenuo dos netinhos
Que, quasi sempre, chamam-lhe "Nhanhá";
Ou dando em vão, conselho ao filho e à nora
Que quer por um delles de castigo...
Ladino, já, o pequeno, vendo-a, chora
e corre para a avó - seu doce abrigo!...
Mas, quando um dia, Oh! céus, a morte a leva
p'ara nunca mais a vermos - nunca mais! -
Nos deixa dôr! soluço! magoa! treva!
Saudade infinda! pranto! tristes ais!
Magoa e soluço - tristes como a dôr!
Soluço e dôr - mas triste do que a magoa!
E' lucto e treva, onde era luz do amor
-Do amor de mãe...Ai! me enche os olhos d'água...
No céu se apaga a estrella d'antes bella
e nunca mais clareia a luz de outr'ora.
A briza passa...Que saudade d'ella!
Quanta tristeza tem a tarde agora!...
Chóra o bom filho o fim d'uma existencia
tão util, tão amada e tão querida;
Mas reflectindo, acceita com paciencia:
-Pois d'esta morte nasce a eterna vida.
Xiririca, 1924 - DOMINGOS BAUER
Fonte: "O IGUAPE", 15 de março de 1925 - ANNO I - Num. 28
Miracatu, 21 de maio de 2009.
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