As batidas na porta da sala não paravam. Vinicius tentava tapar os ouvidos, mas não conseguia impedir. O som dos socos e pontapés que seu pai dava na porta da sala, não paravam. Nilza, mãe de Vinicius queria impedir que Avelino entrasse em casa. Estava bêbado novamente. E como sempre nervoso. Avelino era um homem forte, trabalhava como “chapa”1 desde que perdeu o emprego, há mais ou menos um ano, e o pouco que conseguia durante o dia, bebia tudo e mais um pouco, no bar do seu Juvêncio, que ficava na esquina.
Nilza se virava, vendendo salgadinhos e doces na rua. Vinicius a ajudava sempre que podia, quando voltava da escola.
“Que saudades do antigo Avelino”, dona Nilza sempre falava isso. Na época que ele não bebia e não batia nela. Era uma boa pessoa. Mas agora, bastava beber para se transformar em outra pessoa. Um animal.
Lá fora, largou a esteira de impropérios contra sua esposa e às vezes, contra o seu filho e contra qualquer um que se metesse em seu caminho. Os vizinhos, incomodados com a gritaria, começaram a acender as luzes e alguns até se atreviam a abrir a janela. Avelino gritava e esbravejava, dizendo que não era da conta deles e chegou até a jogar uma garrafa contra uma das casas.
Avelino consegue arrombar a porta e vai direto para o quarto. Encontra sua esposa sentada sobre a cama com a cabeça baixa.
- Ô sua desssgraxada, não me ouviu batendo na porrrrta não? - Disse Avelino, com a voz arrastando como se sua língua estivesse inchada.
Nilza não respondeu e continuou com a cabeça baixa.
- Ô sua desssgraxada, tá ficando surda?
- Eu ouvi sim e toda a vizinhança também.
Diante de tal resposta, Avelino esticou o braço esquerdo e deu um sonoro tapa em Nilza.
- Sabia que tem lei contra isso? Um dia eu fujo daqui.
- Tá pessssando que xou algum gnorante? Eu sei desssa lei da Maria de “não sei o quê”. E isprimenta fugi pro se vê se num te acho e te trago pelos cabelo. – dizendo isso Avelino deu um soco em Nilza, jogando-a para o chão. Ela bateu a cabeça no guarda roupa e desmaiou. Avelino, mal se agüentando em pé, tombou na cama e adormeceu também.
No meio da noite Nilza acorda. Tudo doía. Tinha um hematoma na cabeça, resultado da batida no guarda roupa. O lábio estava inchado e partido e estava sangrando pelo nariz, devido ao soco que levara. Todo o seu braço esquerdo e sua camisola estavam manchados de sangue. Ficou sem entender. Não podia ser o dela, pois já estava seco. Tentou se levantar e sua visão escureceu acompanhada de uma forte dor de cabeça. Quando as imagens começaram a ficar clara, viu seu marido jogado sobre a cama e o sangue pingando na lateral. Viu seu filho num canto do quarto com uma faca manchada de sangue na mão.
- Filho, o que você fez? – Disse Nilza desesperada correndo de encontro com o menino.
- Eu escutei ele gritando com você mamãe. Ele te machucou. Depois eu vi você cair e pensei que ele tinha matado você, então eu matei ele. Desculpa mamãe. – Vinicius começou a chorar e Nilza o abraçou forte.
- Venha meu filho. Temos que fugir.
Fim
1-chapa.: Trabalhador autônomo
Alguns detalhes interessantes que descobri enquanto escrevia esse texto.
A CADA 15 SEGUNDOS uma mulher é espancada. A cada nove segundos uma mulher é ofendida na conduta sexual. Também a cada nove segundos uma mulher é desmoralizada no trabalho doméstico ou remunerado. Mulheres negras têm mais chances de serem estupradas que as mulheres brancas.
A lei citada no texto é a Lei Maria da Penha. Ela foi sancionada pelo presidente da república no dia 07 de agosto de 2006, a lei é a 11.340/06.
Mais detalhes no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_maria_da_penha
por Jack Sawyer
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário