VIGIA NOTURNO


VIGIA NOTURNO

Sexta-feira, 13 de agosto, 23h45min. Meu local de trabalho? Prefeitura municipal de Pindaíba. Meu cargo? Vigia noturno. O prédio é antigo, palco de tantas e sofridas lutas políticas. Arquivo das memórias dos que por ali passaram na árdua tarefa de trazer progresso à cidade. Ouço passos no andar superior e um inquietante arrastar de cadeiras. O piso de madeira estala. Quem a esta hora tardia caminha na escuridão? Um ladrão em busca de segredos guardados no velho cofre? Uma autoridade que esqueceu um documento? Melhor verificar, é meu trabalho.
Subo silenciosamente pela escada, dobro o corredor, as luzes estão apagadas, apenas o luar ilumina a secretaria ao lado do gabinete, pela porta entre aberta passam vagos sussurros. O dever fala mais alto, vencendo o pavor que me domina espio pela fresta da porta.
Em volta da sólida e antiga mesa de reunião, movem-se negros vultos com roupagens do passado. Reconheço alguns já vistos em antigas fotos oficiais. Oito sombras na penumbra da sala ditam seus conselhos.
Na cabeceira da imponente mesa, alguém presta atenção às vozes do passado:- Seja você mesma! Vire o cocho! Olho no cofre! Mate os bernes! Compre a quem se vende! Acabe totalmente com o pedágio! Invista em imóveis! Não esquenta, todos passamos por isso! Faça regime! Viaje mais! A vida e o poder são breves, aproveite ao máximo! Aos inimigos? Retaliações! O poder embebeda e vicia!Faça uma grande obra, teu nome estará nela futuramente!Não solte o osso!Aos amigos?Tudo.
O vulto a cabeceira da mesa vai justificar-se perante seus antecessores no cargo. Seu olhar aflito, mira um por um os participantes da estranha reunião. Penso! Agora finalmente serei conhecedor dos segredos que envolvem nossa atualidade, planos, métas, transparência total de mistérios tão bem guardados.
Um grito corta o silêncio e estou debruçado sobre minha mesinha de vigia no andar térreo. Suado e trêmulo ainda sinto as presenças do passado. Em coro os adolescentes tornam a gritar na esquina. Acordo totalmente. Ufa! Que pesadelo.

Gastão Ferreira/2009
Obs.: Esse texto é totalmente fictício.

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