No meio daquelas pedras...lá, como foi contado.

Quem muito conversa, dá bom dia a cavalo
e a palavra de um home um cachorro num come.
Sempre foi assim. Mas o mais de tudo...
é a gente procurá dizê a verdade.
A mais pura e sincera verdade.
Como se a gente escrevesse
como a gente conta,
sendo a gente mesmo...
porque as istórias que a gente ouve
e a gente sente e lembra como a gente ouviu
...é como se tivesse acontecido
com a gente mesmo,
e se ela é verdade
é porque foi Deus quem mandou.
E por isso, por ela ser verdade e vir de Deus,
ela não tem dono.
Quem é que pode dizê?
qui é dono de uma istória acontecida.
Esses causos que acontecem com as pessoas
e que foi Deus quem mandou eles acontecerem
só pra gente aprender com eles.
Não são eles de todo mundo?
quem entende da cabeça de Deus?
Quem é também o doido de dizê
que essas istórias
aconteceram só prá ele...qui é dele?
...igual aquela istória...é minha gente...
Quem é qui qué qui essa istória aconteça com ele?
Seja dele?
Escuta só:...
Diz que uma minininha
que morava naquela casa da cachoeira.
Que casa mais bunita aquéla...
Ôh, Meu Deus, isso me faz lembrá de Sulinha.
dá uma tristeza só de lembrá da histórinha dela.
A coisa mais linda ela, alegrezinha,
vivia correndo atrás das borboletas.
É mesmo que tá vendo ela lá...agachadiiinha,
na bêra da cachoeira.
conversando com os pexiiinho...os lambariziiinho...
Ninguém pensava no perigo não...
Mais sofreu comadre Maria
que veio lá da capital
pro sossego dessas matas.
Perdê a filhinha arrastada nas águas...
no meio daquelas pedras...
ninguém sabe como foi não! ninguém viu!
A mãe só viu foi o sumiço e a tristeza.
Hoje o povo conta que o que se sabe
é que ninguém mais morô naquela casa
depois daquele dia
e que criança nenhuma não deve de brincá
sem cuidado lá não.
Prá estória não se repeti
a casa da cachoeira ficô assombrada.
Ficou lá ela perto daquelas águas frias...
naquela friage...
Naquelas tardes escuras de medo
como se fosse um aviso,
um sinal pros que chegam...
Com essa istória, muita gente fica se perguntando:
Se foi só pelo sossego que esse povo veio,
não era melhor ter ficado lá mesmo pela capital?
Uns acham isso,
outros já acham que sempre na vida
tem que se buscá o melhor,
sem se preocupá com a vida ou com a morte.
Outros ainda só acham que só é tristeza...
essa vida...essa istória...
Quem é qui qué qui esta istória seja dele?
Eu é que não quero.

déco
Araraquara 16-10-99
(do livro "Vento Caminhador")

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