HISTÓRIAS DE PRAINHA
“Como se forma uma banda de música”
A estação Ferroviária de Prainha (hoje, Miracatu), foi inaugurada em 1914, sendo nomeado seu primeiro chefe o Sr. Benjamin de Almeida. Contava com uma população não superior a 300 habitantes. Lugar pobre, em suas periferias alguns poucos sitiantes conseguiam produzir pequenas colheitas de arroz, cana, milho e mandioca. Não havia escola pública, e quem ensinava as primeiras letras, era um Padre português chamado Antonio Manoel da Silva.
Graças ao trabalho de pessoas influentes da localidade, inclusive o Sr. Benjamin de Almeida, o Governo do Estado que era presidido pelo Dr. Altino Arantes, nomeou o Profº Argeu Lopes de Oliveira, para lecionar em Prainha, o qual viria a ser substituído após uma ano pelo também Profº Durval de Castro, paulista de Guaratinguetá. Eram celebradas anualmente, em louvor a N. Sra. Das Dores, as festas religiosas do Divino Espírito Santos e do Coração de Jesus, juntamente com as procissões, leilões, foguetes, etc. Faltava uma banda de música para complementar a alegria do povo.
A banda com que os Prainhenses contavam anteriormente, do Profº Indalécio Constâncio Ferreira, já não existia, senão representada por alguns instrumentos velhos que viriam a ser aproveitados por Durval de Castro, que além de professor, era excelente músico e exímio violonista e trombonista. Numa noite de seresta na casa do Sr. Benjamin de Almeida (na pequenina estação) , o professor demonstrou toda a sua tristeza por não haver uma banda de música em Prainha e se dispôs a ensinar a um grupo de jovens que tivessem inclinação para isso.O Sr. Benjamin, que era seresteiro, se entusiasmou, e promoveu uma reunião com as pessoas do lugar: o Sub-Prefeito, o Escrivão, o Delegado, o Coletor, o Juiz de Paz, o Padre e alguns comerciantes, arrecadando uma quantia suficiente para compra dos instrumentos, que foi encomendado a fábrica Scavone: um contrabaixo, um bombardino, dois trombones, dois sax-mib, um clarinete, um flautim, um piston, um par de pratos, um bombo e uma caixa rasa.
O profº Durval, selecionou entre seus alunos, um grupo de doze: Joaquim Evangelista, baixo; Romeu de Almeida, trombone; Edgard de Almeida, trompa, João Antão, piston; Antonio Julião, clarineta; Altamiro Ribeiro Filho, Flautim; Antonio Onofre, trompa; Augusto (taco), bombardino, João Gregório, bombo; Irineu, trompa; Pedro Laragnoit (téde) caixa e Ramiro nos pratos, irmão do Joaquim Evangelista.
Em 8 meses, a banda estava estreando na procissão da festa da Padroeira, no mês de setembro, tocando também nos leilões e na Igreja, chamava-se ”Coração de Jesus”.
Miracatu, 30 de março de 2009.
Fontes:
Jornal “O ATIBAIENSE” Atibaia, 05 de julho de 1988.
Cartas de Edgard Araújo Almeida à Paulo Laragnoit – Atibaia, l6 de janeiro de 1985.
Acervo: Museus Municipal “Pedro Laragnoit” - Miracatu – SP.
Pesquisa: Laerte de Camargo Araújo
Estética do Relacionamento Perdido.
Já perdi as contas de quantas foram as vezes em que senti dor e você estava lá por mim.
Já perdi as contas de quantas foram as vezes que você só estava lá por mim.
Já perdi a noção de quão grandioso é o seu amor por mim.
O que eu não perdi a conta ainda
É do quanto realmente ainda amo você.
Do quanto eu realmente sinto que nós pertencemos sim um ao outro.
De como nossos destinos estão cruzados
E a vida mesmo assim quis separar.
Mas por mais que ela tente,
Você estará lá por mim
E eu estarei aqui por você.
Já perdi as contas de quantas foram as vezes .
Que ficamos felizes por temos somente um ao outro.
E fico feliz
Por não termos as contas dessa felicidade,
Pois felicidade sendo insana,
Provoca amor...
Amor feliz.
O arco íris realmente brilhou forte em minha frente.
E eu o atravessei e pude encontrar você.
Só você e nada mais realmente sabem dizer
O quanto eu sou grato pro ter você ao meu lado.
Só você pode entender
Mesmo tentando entender
E não conseguindo,
Que eu amo você.
E que as borboletas realmente voam para um arco íris.
E que eu pude te amar o mais constante que já amei.
Já perdi as contas de quantas foram as vezes que você só estava lá por mim.
Já perdi a noção de quão grandioso é o seu amor por mim.
O que eu não perdi a conta ainda
É do quanto realmente ainda amo você.
Do quanto eu realmente sinto que nós pertencemos sim um ao outro.
De como nossos destinos estão cruzados
E a vida mesmo assim quis separar.
Mas por mais que ela tente,
Você estará lá por mim
E eu estarei aqui por você.
Já perdi as contas de quantas foram as vezes .
Que ficamos felizes por temos somente um ao outro.
E fico feliz
Por não termos as contas dessa felicidade,
Pois felicidade sendo insana,
Provoca amor...
Amor feliz.
O arco íris realmente brilhou forte em minha frente.
E eu o atravessei e pude encontrar você.
Só você e nada mais realmente sabem dizer
O quanto eu sou grato pro ter você ao meu lado.
Só você pode entender
Mesmo tentando entender
E não conseguindo,
Que eu amo você.
E que as borboletas realmente voam para um arco íris.
E que eu pude te amar o mais constante que já amei.
L.V.D.L
Fev/09
MINHA CIDADE
MINHA CIDADE
MINHA CIDADE É TÃO BELA
DENTRE TANTAS BEM VELINHA,
AS MUSAS CHORAM POR ELA...
É UMA CIDADE... LÁ TINHA...
TEVE UM DIA AEREOPORTO,
TEVE POSTO DA MARINHA...
MAS PARA NOSSO DESGOSTO
PERDIA TUDO O QUE VINHA...
CIDADE TÃO TRANSPARENTE
DIZEM OS QUE MANDAM POR LA
TRABALHO? SÓ TEM PARENTE
DE FORMIGA OU TAMANDUÁ...
TEVE BERNE... TEVE COCHO,
TEVE PORTO E TEM CANÇÃO
TEVE GENTE DE OLHO ROXO
TEM HONESTO E TEM LADRÃO
MINHA CIDADE TÃO BELA!
TE AMO DE CORAÇÃO...
É A MINHA CARAVELA...
MEU ABRIGO E SALVAÇÃO.
GASTÃO FERREIRA/IGUAPE/2009
HISTÓRiAS DO FUTEBOL REGIONAL (4)
“HISTÓRIAS DO FUTEBOL REGIONAL” – Nº 04
O texto a seguir, foi escrito no jornal “O Sul Paulista” de 1921, por uma pessoa de pseudônimo GISSARA. Faz referências ao primeiro jogo acontecido em Prainha (hoje, Miracatu) entre duas equipes da mesma Vila: Guarany e Prainhense. Ao final, sobre os encontros que aconteciam nas duas Vilas da Zona: Prainha e Santo Antonio do Juquiá.
A Sociedade
“MAGINANDO”
As vezes me ponho a “maginá” e me vem cada “coisarada” que até não sei como explicar, mas enfim vou tentar...
O futebol, como sabem as gentis leitoras, si é que as tenho, é uma mania e até parece com “doença pegajosa”, e me parece que essa mania se está transportando ao “mundo do além”.
Não quer dizer com isso que possamos affimar que no céu e no inferno existam campos adequados ao querido esporte dos ponta-pés. Estou quasi em affirmar que não existem campos naquelles lugares porque o “dianho” dos diabinho aqui vem jogar...
Que o diabo ou os sacys-pereres aqui vem jogar é coisa incontestável, assim nos asseveraram pessoas que tiveram o prazer de ver ou ouvir uma dessas sensacionais pugnas.
Esse sensacional encontro que vimos referir se deu bem perto daqui, em um bairro que dista cerca de meia hora da Villa. A pessoa que relatou esse formidalesco encontro de futebol de sacys, diz que só se ouviam os baques da bola, as vozes dos jogadores e torcedores, principalmente quando havia uma “encrenca” no campo por um goal. Nessa inesquecível pugna até o juiz não foi poupado, pois a todo momento os torcedores lhe chamavam de ladrão, etc...etc...
O mais interessante desse encontro era ouvir-se a cada passo o característico assovio do sacy...
O sacy só tem uma perna assim afirma a lenda, por isso tudo mais interessante se tornava essa pugna entre “capengas”.
Não me admira, queridas leitoras, em o sacy ser “batuta” em futebol, em razão de suppor ser elle o padroeiro do querido esporte, tanto é ele o padroeiro que há pouco tempo para se decidir um encontro entre dois clubes de duas villas da zona, foi offerecido ao diabo uma toalha. E o diabo ganhou a toalha...
GISSARA
(Galanteador; o que namorava todas, sem ter nunca namorado).
Miracatu, 25 de março de 2009.
Fonte: Jornal “O Sul Paulista” – outubro-novembro de 1921 – ANNO I – NUM. 5 –6
Acervo: Museu Municipal “Pedro Laragnoit” – Miracatu – SP.
Pesquisador: Laerte de Camargo Araújo.
O texto a seguir, foi escrito no jornal “O Sul Paulista” de 1921, por uma pessoa de pseudônimo GISSARA. Faz referências ao primeiro jogo acontecido em Prainha (hoje, Miracatu) entre duas equipes da mesma Vila: Guarany e Prainhense. Ao final, sobre os encontros que aconteciam nas duas Vilas da Zona: Prainha e Santo Antonio do Juquiá.
A Sociedade
“MAGINANDO”
As vezes me ponho a “maginá” e me vem cada “coisarada” que até não sei como explicar, mas enfim vou tentar...
O futebol, como sabem as gentis leitoras, si é que as tenho, é uma mania e até parece com “doença pegajosa”, e me parece que essa mania se está transportando ao “mundo do além”.
Não quer dizer com isso que possamos affimar que no céu e no inferno existam campos adequados ao querido esporte dos ponta-pés. Estou quasi em affirmar que não existem campos naquelles lugares porque o “dianho” dos diabinho aqui vem jogar...
Que o diabo ou os sacys-pereres aqui vem jogar é coisa incontestável, assim nos asseveraram pessoas que tiveram o prazer de ver ou ouvir uma dessas sensacionais pugnas.
Esse sensacional encontro que vimos referir se deu bem perto daqui, em um bairro que dista cerca de meia hora da Villa. A pessoa que relatou esse formidalesco encontro de futebol de sacys, diz que só se ouviam os baques da bola, as vozes dos jogadores e torcedores, principalmente quando havia uma “encrenca” no campo por um goal. Nessa inesquecível pugna até o juiz não foi poupado, pois a todo momento os torcedores lhe chamavam de ladrão, etc...etc...
O mais interessante desse encontro era ouvir-se a cada passo o característico assovio do sacy...
O sacy só tem uma perna assim afirma a lenda, por isso tudo mais interessante se tornava essa pugna entre “capengas”.
Não me admira, queridas leitoras, em o sacy ser “batuta” em futebol, em razão de suppor ser elle o padroeiro do querido esporte, tanto é ele o padroeiro que há pouco tempo para se decidir um encontro entre dois clubes de duas villas da zona, foi offerecido ao diabo uma toalha. E o diabo ganhou a toalha...
GISSARA
(Galanteador; o que namorava todas, sem ter nunca namorado).
Miracatu, 25 de março de 2009.
Fonte: Jornal “O Sul Paulista” – outubro-novembro de 1921 – ANNO I – NUM. 5 –6
Acervo: Museu Municipal “Pedro Laragnoit” – Miracatu – SP.
Pesquisador: Laerte de Camargo Araújo.
HISTÓRIAS DO FUTEBOL REGIONAL (3)
“HISTÓRIAS DO FUTEBOL REGIONAL” - N° 03
Em princípios de Outubro de 1921, foi fundado na “Villa” de Prainha (hoje, Miracatu), o Guarany Futebol Clube, oriundo de dissidentes do Prainhense. Seu uniforme era constituído de calção branco e camisa vermelha e sua praça de esportes localizava-se na margem direita da estrada que ligava a “Villa” a Estação de Trem.
Em comemoração a data, foi realizado o primeiro jogo entre duas equipes da mesma “Villa”: o Guarany e Prainhense Futebol Clube, fundado em 12 de outubro de 1917. Reuniram-se os dois quadros acompanhados de grande multidão, banda de música e das senhoritas Maria Rosa Leite e Anna Conceição Leite, madrinhas dos dois clubes, empanhando os pavilhões, dirigiram-se a nova arena do futebol.
Durante o percurso houve foguetório e vários vivas aos clubes, madrinhas, diretores, etc. Escolhido o campo e estando os jogadores nas suas respectivas posições, entraram as senhoritas Maria Rosa e Conceição Leite e ofereceram em nome do Guarany e Prainhense, ramalhetes de flores aos capitão das equipes.
Precisamente às 15:00 h, iniciou-se o jogo, embora o campo não estivesse em condições perfeitas, devido aos cortes e aterros, esteve bem movimentado. O primeiro tempo terminou com um belíssimo empate de 0 x 0. Ao final do segundo tempo, o goleiro do Prainhense, deixou escapar de suas mãos, uma bola “morta”, que aos poucos foi rolando, rolando, até chegar aos fundos da rede. Após tomar o gol, o Prainhense reforçou o ataque no intuito de empatar e até virar o placar, mas a partida terminou e o Guarany saiu como vencedor.
Terminado o jogo, dirigiram-se jogadores e torcedores, a sede do Guarany onde foi servido um profuso copo de cerveja. Nessa ocasião, usou da palavra o jovem Domingos Bauer Leite, que em eloquentes palavras, agradeceu em nome do Guarany, a diretoria do Prainhense e a visita da vizinha “Villa” de Juquiá, representado pelo Srs. W. Banks e João Vassão e família. Em seguida o prof. J. Almeida, tomando a palavra em nome do Prainhense, disse que considerava o esporte, implantado definitivamente em terras de Prainha.
Miracatu, 24 de março de 2009.
Fonte: Jornal "O Sul Paulista" Prainha, outubro-novembro de 1921-ANNO I - NUM.5-6Acervo: Museu "Pedro Laragnoit" - Miracatu´- SP.
Pesquisa: Laerte de Camargo Araújo
Em princípios de Outubro de 1921, foi fundado na “Villa” de Prainha (hoje, Miracatu), o Guarany Futebol Clube, oriundo de dissidentes do Prainhense. Seu uniforme era constituído de calção branco e camisa vermelha e sua praça de esportes localizava-se na margem direita da estrada que ligava a “Villa” a Estação de Trem.
Em comemoração a data, foi realizado o primeiro jogo entre duas equipes da mesma “Villa”: o Guarany e Prainhense Futebol Clube, fundado em 12 de outubro de 1917. Reuniram-se os dois quadros acompanhados de grande multidão, banda de música e das senhoritas Maria Rosa Leite e Anna Conceição Leite, madrinhas dos dois clubes, empanhando os pavilhões, dirigiram-se a nova arena do futebol.
Durante o percurso houve foguetório e vários vivas aos clubes, madrinhas, diretores, etc. Escolhido o campo e estando os jogadores nas suas respectivas posições, entraram as senhoritas Maria Rosa e Conceição Leite e ofereceram em nome do Guarany e Prainhense, ramalhetes de flores aos capitão das equipes.
Precisamente às 15:00 h, iniciou-se o jogo, embora o campo não estivesse em condições perfeitas, devido aos cortes e aterros, esteve bem movimentado. O primeiro tempo terminou com um belíssimo empate de 0 x 0. Ao final do segundo tempo, o goleiro do Prainhense, deixou escapar de suas mãos, uma bola “morta”, que aos poucos foi rolando, rolando, até chegar aos fundos da rede. Após tomar o gol, o Prainhense reforçou o ataque no intuito de empatar e até virar o placar, mas a partida terminou e o Guarany saiu como vencedor.
Terminado o jogo, dirigiram-se jogadores e torcedores, a sede do Guarany onde foi servido um profuso copo de cerveja. Nessa ocasião, usou da palavra o jovem Domingos Bauer Leite, que em eloquentes palavras, agradeceu em nome do Guarany, a diretoria do Prainhense e a visita da vizinha “Villa” de Juquiá, representado pelo Srs. W. Banks e João Vassão e família. Em seguida o prof. J. Almeida, tomando a palavra em nome do Prainhense, disse que considerava o esporte, implantado definitivamente em terras de Prainha.
Miracatu, 24 de março de 2009.
Fonte: Jornal "O Sul Paulista" Prainha, outubro-novembro de 1921-ANNO I - NUM.5-6Acervo: Museu "Pedro Laragnoit" - Miracatu´- SP.
Pesquisa: Laerte de Camargo Araújo
Galinha d'Angola
Quisera eu que estivesse comigo agora.
Que atacasse a minha dispensa, engodasse e me deixasse magro.
Que as minhas contas de luz viessem altas novamente.
Que o meu sabão em pó não durasse mais por um mês.
Que os meus edredons precisassem ser lavados a todo dia.
Que eu te visse sorrir na rua novamente.
Que eu te comprasse guloseimas pra comer.
Que respirasse o mesmo o que você.
Se eu soubesse que um dia estaria sem você,
Jamais teria brigado por as vezes me comprometer.
Das profundas imagens do coração, somente uma figura ressurge:
Assim como a Fenix das cinzas,
Você ressurge no meu coração.
Ah Galinha porquê me deixastes?
Chorando as mágoas do meu coração?
Que eu deixasse de ser chato.
Que eu deixasse de ser grosso.
Que eu te amasse lentamente,
Para que o tempo não mais terminasse.
Que eu risse a todo instante,
Como um menino infante a te elogiar.
Que eu ficasse magrinho.
Que eu estivesse sem diheiro.
Que eu não mais chorasse.
Que eu não mais sofresse.
Que eu só rezasse!
Para agradecê-lo por todas as vezes que me fizeste amar,
Saudade é o que deixastes no meu coração.
Lembranças é o que deixaste na minha memória.
Mágoas é o que não deixastes e
Felicidade é o que sempre deixarás.
Assim como tudo começa, termina;
Não estou terminando nada.
Apenas estou pondo reticências...
Para que as linhas jamais se acabem.
L.V.D.L- Julho 2007
NAÇÃO TUPI
Minha nação é tupi
sou guarani Mbyá
sou grande flecheiro
sou Tamoio
sou Carijó
sou Tupinambá.
Vejam minha igaraçu
canoa de vulto
vamos recolher...
hoje o mar esta bravio
não dá pra ygará
nem dá pras obás
somente as pirogas
tão bem protegidas
por seus maracás.
Julio Cesar da Costa
sou guarani Mbyá
sou grande flecheiro
sou Tamoio
sou Carijó
sou Tupinambá.
Vejam minha igaraçu
canoa de vulto
vamos recolher...
hoje o mar esta bravio
não dá pra ygará
nem dá pras obás
somente as pirogas
tão bem protegidas
por seus maracás.
Julio Cesar da Costa
CONSTÂNCIA
Constância lavou nas mãos a marca de batom impressa no colarinho branco. A patroa era implacável quanto à brancura das roupas.
– Roupas finas se lavam à mão e não na máquina de lavar – dizia a patroa, de cara azeda.
A diarista anterior fora dispensada, entre vários desaforos, por não ter seguido à risca as orientações e por ter manchado uma blusa de seda indiana.
– Ela pensa que me engana! – ruminava Constância. – Dou um rim se esse batom for dela!... Não sou burra. Na penteadeira não tem nenhum batom dessa cor. Deve ser da outra...
Constância levantava todo dia às quatro da manhã. Preparava o café de Vadinho, fritava dois ovos para acompanhar o arroz que sobrara da janta. O companheiro trabalhava como servente de pedreiro na Ilha e não dava para almoçar em casa. Lavava no tanque as roupas encardidas dos seis filhos e uma das duas camisas que Vadinho usava para trabalhar. Cozinhava o almoço dos filhos para quando voltassem da escola.
Queria tanto poder almoçar com os seis! Mas não dava para voltar da cidade. Almoçava nas casas das patroas. Era sempre a última a comer. Às vezes não deixavam mistura para ela; às vezes deixavam, ela comia um pouco e juntava os restos num saquinho plástico.
– É pro cachorro! – explicava-se às patroas.
Não era. Não tinha cachorro, só um gato malhado. Os seis filhos adoravam as sobras, que comiam com muito gosto.
Saía de casa às seis e meia, levava os filhos à escola. Às quinze para as sete já estava na passarela. Vez ou outra se deparava ali com tipos esquisitos, que a observavam descaradamente. Segurava com força a bolsa debaixo dos braços.
“Esses malandros que não se metam a bestas comigo!”, pensava Constância, de lábios crispados e testa franzida. “Semana passada dei uns tapas num moleque sem-vergonha que tentou pegar a minha bolsa. Vagabundo! Rouba gente honesta pra comprar porcaria... Não levo dinheiro na bolsa, mas tenho os meus documentos. Imagina a trabalheira e o tempo pra tirar uma segunda via de tudo!”
Chegava às casas das patroas alguns minutos antes das sete. Nunca se atrasava. O serviço era muito, tinha que limpar e arrumar tudo e não conseguia ir embora antes das seis da tarde. Quando voltava à sua casa, a novela das seis já estava na metade. Mesmo assim, acompanhava todos os capítulos.
– Diversão de pobre é a novela da Globo – dizia. – Cinema, teatro, essas coisas são pra gente rica... Pobre fica em casa vendo novela.
Só assistia à novela das seis, ou à metade da novela. Passava o resto da noite arrumando a casa, varrendo, catando as coisas que os filhos deixavam espalhadas por toda a parte, regava a pequena horta que mantinha no fundo do pequeno quintal – uns pés de tomate, alface e salsinha. Ao lado da soleira da porta da cozinha ficavam uns vasos de comigo-ninguém-pode, guiné e espada-de-são-jorge.
– Neste mundo – dizia – a gente tem que se pegar com Deus e com o Diabo...
Deitava-se sempre por volta da meia-noite. Cansada, com dores pelo corpo, o espírito resignado. O companheiro, ao chegar da Ilha, não vinha direito para a casa. Parava no Bar do Olávio, que ficava perto da passarela. Tomava uma dose, tomava duas. Tomava mais uma e mais outra. Marcava no fiado. Por vezes um amigo, com alguma sobra no bolso, pagava uma saideira. Mas isso era coisa rara de acontecer. O grosso dos amigos quase sempre andava de bolsos e almas vazios. Muitos deles pescavam manjuba na Barra. Mas era época de defeso, o número de pescadores sempre crescia e a manjuba rareava cada vez mais. Outra parte dos amigos trabalhava como servente de pedreiro e recebia vale no sábado. O Bar do Olávio era parada obrigatória. Era dos poucos bares, talvez o único, que marcava o fiado em cadernetas.
– Se não fizer assim, eu fecho as portas – dizia ele à esposa.
– Um dia essa gente vai te deixar a ver navios – resmungava ela, no fundo do balcão.
À chegada de Vadinho em casa, Constância já estava adiantada no sono. No quarto dormiam também mais três filhos; os demais se apertavam na sala, que se repartia com a cozinha.
“Essa mulher ronca mais que um porco...”, pensava ele. “Qualquer dia eu dou um jeito nela... Ela pode dormir aí que nem uma madame, agora eu tenho que me rolar na cama ouvindo esse ronco a noite inteira... Ainda dou um jeito nela...”
Às quatro da manhã, Constância se levantava. Olhava para o lado. Vadinho roncava. O cheiro forte de álcool impregnava todo o quarto.
“Esse homem ronca mais que um porco... Um dia largo dele, pego as crianças e volto pra Minas...”, pensava Constância, enquanto catava as roupas de Vadinho jogadas ao pé da cama.
– Roupas finas se lavam à mão e não na máquina de lavar – dizia a patroa, de cara azeda.
A diarista anterior fora dispensada, entre vários desaforos, por não ter seguido à risca as orientações e por ter manchado uma blusa de seda indiana.
– Ela pensa que me engana! – ruminava Constância. – Dou um rim se esse batom for dela!... Não sou burra. Na penteadeira não tem nenhum batom dessa cor. Deve ser da outra...
Constância levantava todo dia às quatro da manhã. Preparava o café de Vadinho, fritava dois ovos para acompanhar o arroz que sobrara da janta. O companheiro trabalhava como servente de pedreiro na Ilha e não dava para almoçar em casa. Lavava no tanque as roupas encardidas dos seis filhos e uma das duas camisas que Vadinho usava para trabalhar. Cozinhava o almoço dos filhos para quando voltassem da escola.
Queria tanto poder almoçar com os seis! Mas não dava para voltar da cidade. Almoçava nas casas das patroas. Era sempre a última a comer. Às vezes não deixavam mistura para ela; às vezes deixavam, ela comia um pouco e juntava os restos num saquinho plástico.
– É pro cachorro! – explicava-se às patroas.
Não era. Não tinha cachorro, só um gato malhado. Os seis filhos adoravam as sobras, que comiam com muito gosto.
Saía de casa às seis e meia, levava os filhos à escola. Às quinze para as sete já estava na passarela. Vez ou outra se deparava ali com tipos esquisitos, que a observavam descaradamente. Segurava com força a bolsa debaixo dos braços.
“Esses malandros que não se metam a bestas comigo!”, pensava Constância, de lábios crispados e testa franzida. “Semana passada dei uns tapas num moleque sem-vergonha que tentou pegar a minha bolsa. Vagabundo! Rouba gente honesta pra comprar porcaria... Não levo dinheiro na bolsa, mas tenho os meus documentos. Imagina a trabalheira e o tempo pra tirar uma segunda via de tudo!”
Chegava às casas das patroas alguns minutos antes das sete. Nunca se atrasava. O serviço era muito, tinha que limpar e arrumar tudo e não conseguia ir embora antes das seis da tarde. Quando voltava à sua casa, a novela das seis já estava na metade. Mesmo assim, acompanhava todos os capítulos.
– Diversão de pobre é a novela da Globo – dizia. – Cinema, teatro, essas coisas são pra gente rica... Pobre fica em casa vendo novela.
Só assistia à novela das seis, ou à metade da novela. Passava o resto da noite arrumando a casa, varrendo, catando as coisas que os filhos deixavam espalhadas por toda a parte, regava a pequena horta que mantinha no fundo do pequeno quintal – uns pés de tomate, alface e salsinha. Ao lado da soleira da porta da cozinha ficavam uns vasos de comigo-ninguém-pode, guiné e espada-de-são-jorge.
– Neste mundo – dizia – a gente tem que se pegar com Deus e com o Diabo...
Deitava-se sempre por volta da meia-noite. Cansada, com dores pelo corpo, o espírito resignado. O companheiro, ao chegar da Ilha, não vinha direito para a casa. Parava no Bar do Olávio, que ficava perto da passarela. Tomava uma dose, tomava duas. Tomava mais uma e mais outra. Marcava no fiado. Por vezes um amigo, com alguma sobra no bolso, pagava uma saideira. Mas isso era coisa rara de acontecer. O grosso dos amigos quase sempre andava de bolsos e almas vazios. Muitos deles pescavam manjuba na Barra. Mas era época de defeso, o número de pescadores sempre crescia e a manjuba rareava cada vez mais. Outra parte dos amigos trabalhava como servente de pedreiro e recebia vale no sábado. O Bar do Olávio era parada obrigatória. Era dos poucos bares, talvez o único, que marcava o fiado em cadernetas.
– Se não fizer assim, eu fecho as portas – dizia ele à esposa.
– Um dia essa gente vai te deixar a ver navios – resmungava ela, no fundo do balcão.
À chegada de Vadinho em casa, Constância já estava adiantada no sono. No quarto dormiam também mais três filhos; os demais se apertavam na sala, que se repartia com a cozinha.
“Essa mulher ronca mais que um porco...”, pensava ele. “Qualquer dia eu dou um jeito nela... Ela pode dormir aí que nem uma madame, agora eu tenho que me rolar na cama ouvindo esse ronco a noite inteira... Ainda dou um jeito nela...”
Às quatro da manhã, Constância se levantava. Olhava para o lado. Vadinho roncava. O cheiro forte de álcool impregnava todo o quarto.
“Esse homem ronca mais que um porco... Um dia largo dele, pego as crianças e volto pra Minas...”, pensava Constância, enquanto catava as roupas de Vadinho jogadas ao pé da cama.
RESGATE DE POESIAS (2)
A GRAÇA INFINDA...
(À ALDA)
A graça infinda desse teu sorriso,
a infinda graça desse teu olhar,
vêm – magia sublime – em paraíso,
a minha triste vida transformar.
Começo a rir deixando de chorar,
se, repousando sobre mim, diviso
a graça infinda deste teu sorriso,
a infinda graça desse teu olhar.
Então minha alma deslumbrada canta...
Canta sedenta procurando achar
os ardores de amor, de que preciso.
tanto, nesse teu coração de santa,
na graça infinda desse teu olhar
na infinda graça desse teu sorriso.
IG NOTUS
Agosto de 1940
Jornal “O MUNICÍPIO” 01 de setembro de 1940
ANO I – Num. 4
ENQUANTO NÃO VENS.
À minha Musa
Por entre as notas de gentil descante,
meu coração apaixonado espera...
Debalde pede em súplica constante
que venhas despertar a primavera,
com o fulgor que teu sorriso gera,
com o esplendor de teu olhar brilhante,
no abotoamento de sonho e quimera
avolumado no meu peito amante!
E tu, mulher, indiferente passas
por mim, cheia de encantos e graças,
enquanto meu coração suplica e canta...
Mas, eu, na expectação de tua vida
vivo a pedir o teu sorriso, linda!
Suplico em vão o teu olhar, ó santa!
Prainha, 15 – 01 – 1941
BARDO PRAINHENSE
Jornal “O MUNICÍPIO” Prainha, 04 de março de 1941
ANO I – Num. 15
POEMA DE TEUS OLHOS TRISTES
O teu olhar castanho, assim dormente,
apagado e mortiço, faz lembrar,
contemplando-o, estrelas fracamente
tremeluzindo no espaço ao luar;
Teus olhos... na clausura desses cílios
se me assemelham aves prisioneiras
que anseiam pelo verde das palmeiras
no acesso dos mais íntimos idílios.
Teus olhos... são duas brasas mortas de topor.
veladas pela cinza da tristeza
mas, que incendeiam com viva rudeza
apenas sopra o vendaval do amor.
Teus olhos... são oceanos dominados
por eterna e perene calmaria
onde se perdem barcos arvorados
do amor em viagens sem valia.
Teus olhos tristes, baços, como em calma,
em seu falar traduzem tanta cousa.
que ninguém revolvê-los jamais ousa:
Eles são as feridas de tua alma.
Teus olhos...duas chagas...olhar triste...
Fogo de amor provocando loucura...
Duas covas profundas que abriste
Para meu coração ter sepultura...
VATE PRAINHENSE
Jornal “O MIRACATU” Prainha, 15 de março de 1942
ANO II – Num. 7-8
FELICIDADE
Quando há luar, em noites assim calmas,
Meu pensamento foge! Uma ansiedade,
um desejo de ser feliz me invade!...
Ser feliz...merecer milhões de palmas...
Quando há luar, em noites assim calmas,
fico pensando que a felicidade,
irei acha-la na perpetuidade,
da união íntima de nossas almas.
Quando há luar, em noites assim mansas,
tenho na mente um mundo de esperanças,
um desejo de ser feliz e amado,
Essa felicidade, eu bem o sei
meu Coração, tão só conseguirei
encontrá-la ao viver sempre a teu lado.
VATE PRAINHENSE
Jornal “O MIRACATU” Prainha, 10 de maio de 1942
ANO II – Num. 9
ENLEVO
Por entre as alas do capim cheiroso,
na estrada antiga cheia de luar,
nós dois...Meu coração cheiro de gozo,
a palpitar junto do teu...Amar...
Por entre as alas do capim cheiroso,
vazia e poeirenta: a estrada. A andar,
lado a lado, nós dois buscando pouso
onde possamos à vontade amar.
Por entre as alas do capim nós vamos.
Os nosso corações – dois gaturamos –
um par que apaixonadamente canta.
Por entre as alas de capim vou indo
a contemplar teu semblante lindo,
bebendo amor em teu olhar de santa.
VATE PRAINHENSE
Jornal “ O MIRACATU “ – Prainha, 14 de junho de 1942
ANO II – Num. 10
ACRÓSTICO
Ouve:- de há muito o teu olhar,
Luz que brilhou para mim na terra
prometida,
Guardou , não sei para que, meu
coração...
Alma feiticeira, guarda-o por toda a
vida,
Pois que ele é teu e sempre teu
será então.
Onde quer que vás, leva-o contigo,
Não o deixe nunca mendigar
felicidade.
Tudo então serei, homem e artista
e até feliz!...
E o teu sorriso será bonito porque
foi:-
Sol que iluminou a minha mocidade.
JOÃO MENDES DA SILVA
Xiririca, 1942
Jornal “ O MIRACATU “ – Prainha, 7 de setembro de 1942
ANO III – Num. 12
RAMALHETE
Trago-te flores. São flores singelas.
Tua vaidade irá menosprezá-las
porque só a simplicidade delas
não apresenta as requintadas salas do luxo que aprecias.
Contudo, elas em si encerram ardorosas falas
de ardente amor e são tanto mais belas
quanto mais simples, Vem, pois, escutá-las.
Vem escutá-las. Guardarás, espero,
uma recordação deste discreto símbolo que
minha alma ocultou nelas;
São simples como meu amor sincero,
brancas como a pureza deste afeto
que consagro a ti, bela entre as mais belas!!
VATE PRAINHENSE
Jornal “ O MUNICÍPIO “ Prainha, 7 de setembro de 1942
ANO III – Num. 12
NO DESERTO
Estamos no deserto. O sol dardeja a pino
Até aonde a vista alcança, ondula a areia.
O camelo cansado já falseia
a custo suportando o exausto beduíno.
Sedentos vão os dois. Em vão o peregrino
em busca d’água muito aflito olha...Tateia
com vista cansada a imensidão de areia
e só areia encontra o exausto beduíno.
Súbito emerge do horizonte, verdejante,
visão celeste de palmeiras e granito
o oásis, taça apresentada ao viajante
que traz no bojo a salvação ao caminheiro.
A vida nesse deserto; eu sou o pegureiro
feliz de achar abrigo em teu amor bendito.
VATE PRAINHENSE
Jornal “ O MIRACATU” – Prainha, Novembro-dezembro de 1942
ANO III – Num 13 e 14
DEVOÇÃO OCULTA
Você sabe que eu sei que você sabe,
Como eu sei que você sabe que eu sei,
Que no meu coração só você cabe
E que no seu, entre outros, eu fiquei...
Talvez não ache quem meu gosto gabe,
Ao ver que nada exijo e tudo dei;
Mas, que importa a um monarca se mas cabe
Seu trono e sua coroa é rei?...
No templo do seu culto, as romarias
Entram, em procissão, todos os dias
E ninguém, com certeza, ali, me vê.
É que apaguei as luzes da capela
Onde, minh’alma, com desvelo, vela
Eu coração, onde guardei você,,,
Prainha, outubro de 1943
DOMINGOS BAUER LEITE
SOCIAIS
Eu tendo o teu amor eu terei tudo, ó bela!
e sem o teu amor, eu nada tenho, ó linda!
É por isso que eu vivo a suplicar ainda
O teu afeto que minha alma moça à nela.
Para mim, tudo o mal que sinto se debela,
toda a amargura de meu peito. Já se finda;
pois, tendo o teu amor, eu nada tenho, ó linda!
E, sem o teu amor, eu nada tenho, ó bela!
À noite, quando pela terra o luar se espalma
em mancheias de luz, com paixão minha alma
suplica o teu afeto e esperançosa vela
Buscando o teu amor porque, sem ele, ainda
que tudo possuísse, eu nada tinha, ó linda!
com ele, nada tendo, eu terei tudo, ó bela!
VATE PRAINHENSE
Jornal “O MUNICÍPIO” Prainha, 02 de agosto de 1942
ANO II – Num. 11
A ORQUÍDEA QUE ME DESTE
(Especial para o “Ribeira de Iguape”)
Doce lembrança d’uma tarde leda.
Relíquia sacrossanta que eu venero;
Quanto mais beijo, mais beijar eu quero
Essa Orquídea que puro amor segreda!
Com que fim tu m’a deste anjo sincero?
Não sei...apenas queres que eu receba
Essa flôr que o vestido teu de seda
Ornou naquela tarde em reverbero!...
Mas, pobre orquídea1 O vento com inveja
De a ver nas minhas mãos, ao ir beija-la,
Roubou-m’a, encadeando-a em fortes laços1...
Ao carrega-la o vento rumoreja...
E a pobre flor, quse perdendo a fala,
Lá foi chorando, me estendendo os braços1...
Xiririca, agosto de 1934
JOÃO NINGUÉM
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” 26 de setembro de 1934
ANO I - Nº 18
O CARVALHO ANTIGO
Vivendo, de saudade, amargurado.
Nas selváticas sombras da floresta,
Onde já fora belo e bem tratado,
Ao lado de uma herdade sempre em festa,
Embora gigantesco, acobardado
Pela camada de eras que o infesta,
Os abraços vorazes do silvado
E muita praga estranha que o molesta...
O mesmo acontecera ao trovador
Que se vê mergulhado no negror
Das sombras da velhice, abandonado,
Vivendo amargurado de saudade,
Nas grandes Catedrais da mocidade
Nas densas nebulosas do passado...
Xiririca-outubro-1934
JOÃO RIBEIRO DE FREITAS
Jornal “ O RIBEIRA DE IGUAPÉ “ 01 de janeiro de 1935
ANO I - NUM. 23
SONETO
O meu amor deixou esta cidade
E, em paragens distantes, foi viver;
Levou minha alegria e meu prazer,
Deixando-me a tristeza e a soledade.
E nesse abatimento, nessa ansiedade,
Longos anos passei a padecer,
Mas sempre na esperança de rever
A bela flor da qual tenho saudade.
Um dia pela praia passeando,
Vi ao longe, no mar, uma barquinha
Sobre as ondas, de manso, deslizando.
E veio vindo, como uma avesinha,
O meu amor...mas fiquei triste, quando
Vi que era sonho...que ela ali não vinha.
Xiririca, 1934
JOÃO RIBEIRO DE FREITAS
Jornal “ O RIBEIRA DE IGUAPE “ – Prainha, Sexta-feira, 25 de janeiro de 1935
ANO I - NUM. 25
SOCIEDADE
Uma casinha à beira-mar e ao lado,
Todo perfumes, um jardim florido.
Pombos em festa em cima do telhado,
E em cada canto um ninho construído.
O mar em frente calmo, sossegado...
E no alto o céu sereno e colorido.
Como se fosse o olhar de Deus voltado
Sobre a ventura do meu lar querido.
A esposa e os filhos cheios de alegria
De quem tem sempre o pão de cada dia,
Embora ganho numa luta acesa.
Não sei, ó Deus! Se tanto bem mereço...
Mas creio em vós e eis tudo que vos peço
Para viver honesto na pobreza.
Bordo do S/S “PIRAHY” 1924
FRANCISCO LOPES
Jornal “ O IGUAPE “ – Iguape, Domingo, 30 de novembro de 1924
ANNO I - NUM. 14
AO FINDAR DA FESTA
Ao meu amigo Valle Ribeiro
O céu estava triste, e o sol tristemente
ia morrendo aos poucos, – lentamente...
-Naquele dia final de uma festa.
Um vento mais que brando, - docemente
Impelia às águas, - mansamente,
Que alheias à tudo, - distraidamente,
iam de encontro às pedras do cais...
-Naquele dia final de uma festa.
O sol desapareceu por trás dos montes
Que de mim e de você, -estavam defrontes...
-Naquele dia final de uma festa.
Ali, na rua do cais, quase deserta,
Naquele dia final de uma festa;
Você chorou por uma paixão inglória
Ao lembrar-se da sua história,
Em uns dias de uma grande festa!...
Iguape, junho de 1934
INAIGYRA
Jornal “ O RIBEIRA DE IGUAPE “ - Prainha, Domingo, 1º de julho de 1934
ANO I - NUM. 12
HYNNO AO SOL
(inédito)
Pôr do sol, quando te vejo
por cima da cordilheira,
Só me alimenta num desejo:
Poder ver-te a vida inteira.
Armei um castelo de ouro
Num outeiro, à beira mar,
Onde conservo um tesouro
Para quando me casar...
Meu amor, que anda comigo
Numa doce vibração,
Já reservou-te um abrigo
No meu pobre coração.
Sou como a ave solitária
Que não quer saber de festas,
Avesinha temerária,
Que se oculta nas florestas.
Quando a luz rubra se oculta
E por trás dos montes desce
De paixão minh’alma exulta,
Meu coração enternece.
Escuto um canto funéreo
De uma rolinha a gemer.
-Entre nos dois há um mistério
que eu não posso compreender.
Por de sol, canta comigo
A canção do nosso amor.
Somos livres, meu amigo,
Nas alegrias, na dor.
Partes para além da serra
Noutros mundos vais fulgir.
-Quando do meu peito encerra
por não te poder seguir.
PAULINO DE ALMEIDA
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” - Prainha, Domingo, 1 de julho de 1934
ANO I – NUM. 12
SONETO (A ALGUÉM)
(Especial para o “Ribeira de Iguape”)
As cordas desta lira acostumadas
Em vibrar com amor em todo o canto,
Não tem mais o verdadeiro encanto
Que tinha noutras épocas passadas!
Não vibram sonorosas e timbradas...
Mas, dedilhando-as, ouço, no entretanto,
Que me falam de um amor sublime e Santo
Em vozes tão melífluas e inspiradas!
Falam de amor...e de um amor deveras
Excepcional...deveras elouqüente,
Próprio talvez das vinte primaveras!
Mas não creio no amor...porque não creio
Que alguém possa gostar sinceramente
De um João Ninguém, desajeitado e feio!
São Paulo, agosto de 1934
JOÃO NIGUÉM
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, Domingo 12 de agosto de 1934
ANO I - NUM 15
VOCÊ É ASSIM MESMO...
Não faz mal. Você é assim mesmo:
Toda sorridente,
Sempre descrendo, que a gente,
Possa gostar de alguém, com sinceridade.
Não faz mal. Você é assim mesmo:
Vive, sempre insistindo
Para que a gente, esteja a toda hora, mentindo.
Não faz mal. Você é assim mesmo:
Fica com a gente zangada,
Quando a chamo de minha amada.
Mas ontem você ficou triste,
Quando eu sem querer disse:
-O meu maior prazer consiste,
em viver, enganando...
Tolinha...Você assim traiu-se.
Mas, não faz mal. Você pode ser assim mesmo:
Toda sorridente,
Toda descrente,
De que a gente;
-Possa te amar...
Iguape, Julho de 1934
INAIGYRA
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 12 de agosto de 1934
ANO I - NUM. 15
ELA... (Oferecido a Iolanda)
(Especial para “O Ribeira de Iguape”)
Ela é de um sorriso encantador que deixa
Qualquer rapaz cativo;
Seu sonhador olhar a luz do amor enfaixa
Tornado-se expressiva.
Ela é a moça ideal de uma tal graça de jeito
Que fascina o estudante de Direito
Que estes versos recita;
Seu coração cheiro de ardor, de anseio,
Vive, senha e palpita!...
Ela é das ninfas aquela que mais ama
E mais amor reclama;
De Deus Onipotente é a mais formosa filha,
Das estrelas é aquela que mais brilha,
E das flores a que mais perfuma...
E direi: (Antes que pergunteis como se chama)
Ela tem graça e encanto até no andar...e anda
Como as musas do Olimpo ou o Parnaso.
Que se chame Judit, Rosa, Iara Iolanda,
Que importa para o caso?
Ela é o santuário do amor em que ajoelho
Com todo entusiasmo, adoração, anseio,
Para pedirt a Deus, Nosso Senhor,
Que me prive de tudo o que quiser,
Mas não me prive do amor...
NÃO ME PRIVE DO AMOR DESTA MULHER.
São Paulo, 02de agosto de 1934
BENJAMIN C. NETO
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 12 de agosto de 34
ANO I - NUM 15
ESQUECES O PASSADO
(À um amiguinha;-)
(umas das páginas do meu passado)
Rasgue e queime às cartas que te enviei,
Para que no esplendor da tua felicidade,
Que tu ainda não advinhas...Que eu não sei,
Não traírem uma tão recente amizade...
Esquecestes o que por um engano falei,
No calor de uma imensa sinceridade...
As minhas promessas...O mesmo fazerei
-Não será tão grande, nossa infelicidade.
Esqueces ainda, aqueles nossos encontros...
-E nossos corações assim tão de prontos,
Saberão resistir outros embates incertos...
Esqueces tudo enfim, do nosso passado?...
O nome deste que foi teu namorado?...
Deste que ouviu teu coração bater de perto!...
Iguape, 12/06/1934
INAIGYRA
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 12 de outubro de 1934
ANO I - NUM. 19
NÃO ESQUEÇA O PASSADO!...
((à mesma amiguinha;
outra página do meu passado)
Mentira?!...E talvez quanta mentira
Escrevi sentindo, dor nesta saudade,
Não obedeça-me no que te pedira
Por medo, por incerteza, por maldade!
Mentira!...E eis como te ferira
Por inexperiência desta mocidade.
Foi pois, por ela, que caíra
Naquilo que classificas crueldade.
Tudo mentira?...Compreendo. Fui louco
Por querer exigir-te tanto, por tão pouco.
Por isso perdoe-me dando-me o perdão.
Esquecendo, não o passado, sim o soneto...
E este meu amor mais satisfeito
Te entregará para sempre o coração!...
Iguape, 16/06/1934
INAIGYRA (Ary de Moraes Giani)
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 28 de 0utubro de 1934
ANO I - NUM. 20
O TOCADOR DE BATERIA
Preto retinto de olhar tristonho
ha esclerótica,
caótica
parecem morar saudades lindas
infindas!
Lábios grossos, pendidos,
dedos finos, ressequidos,
corpo de cobra,
esquelético
frenético,
epilético,
Na valsa, de compassos dolentes,
frementes,
parece sonhar com uma sinhazinha,
dengosa,
cheirosa,
vaporosa,
Na valsa, a sua bateria,
intermitentemente,
mecanicamente,
Ritmicamente.
Some, volta, devagar, com força,
Vai para tornar a voltar.
E todo triste, como triste
É a valsa triste.
Porém, no samba...
Meu Deus! Que horror!
O preto remoça,
Destroça,
Troça,
E se transfigura.
Seus olhos despendem centelhas,
Que nem saci pererê.
Pula, saracoteia,
Sapateia,
Se enléia.
Os pares no salão revolteiam,
Gorgeiam,
Chilreiam,
Enquanto no coração do preto
Se desenrola um drama
Fenomenal, transcidental.
OTA DAS ANTAS
Jornal “CORREIO DO LITORAL” Itanhaém, 04 de dezembro de 1949
ANO I - NUM. 18
COMO SORRIR?
( A uma Ribeireide)
Como sorrir, se tudo fere a alma
Com punhal criminoso e assassino?
Como sorrir, se já não tenho a calma
E esse prazer de quando era menino?
Como sorrir, se a própria alma chora
Vendo-se exposta a todos os castigos?
Como sorrir o nauta em mar, lá fora,
Entregue as tempestades e perigos?
Como sorrir, se tudo é negro e triste
Aos olhos meus cansados de chorar?
Como sorrir, se dentro da alma existe
Mais tempestade do que há no mar?
Como sorrir, se a vida de repente
Nos arroja à mais dura condição?
Como sorrir, se vejo tanta gente (...)
A ferir e sangrar meu coração?
Xiririca, agosto de 1934
BENJAMIN C.NETTO
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 26 de agosto de 1934
ANO I – NUM. 16
O TEU RETRATO
O teu retrato belo, colorido,
Atraí-me a contempla-lo a toda a hora;
O meu longo e sereno olhar demora
Sobre esse Bem estranho, mas querido!
És bela! Tens a perfeita cor da aurora!
Teu coração, entregue a Deus cupido,
Promete amar e fascinar...embora
Tenha sido partido e repartido...
Fascinas!Tens na frente o diadema
Da beleza divina, o anjo amado,
E tens no peito o amor que é meu poema!
Encantas! Teu olhar é terno e doce...
Tens um corpo franzino e delicado
Como se de anjo sublimado fosse!
São Paulo, agosto de 1934 JOÃO NINGUÉM
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” - Prainha, 26 de agosto de 1934
ANO I - NUM. 16
CRUZEIRO ABANDONADO
Fora plantado em divinal matiz
De flores em pomposas jardineiras,
A onde as borboletas tão sutis
Trançavam vôos como fiandeiras;
Adejavam alegres colibris
Balouçando suas vívidas roseiras,
Pousavam-lhe andorinhas tão gentis,
] E hoje é ninho das aves agoureiras;
E um fantasma que o desleixo fez
Coberto com camadas de urupês...
Do seu vigor passado nada resta.
Na soledade a sua tristeza é tanta,
Vivendo como um deus que a tudo espanta
Com seus braços abertos na floresta!...
Xiririca, 9/3/1934
JOÃO RIBEIRO DE FREITAS
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” - Prainha, 25 de Março de 1934
ANO I - NUM. 5
EFEITOS E CAUSA
Esta preocupação que tanto me consome,
Esta desilusão que punge, que entristece,
Esta eterna reserva em revelar teu nome,
Esta descrença atroz que em mim viceja e cresce,
Esta visão que, mal vislumbro, além se some,
Esta vida de mágoa e tédio que envelhece,
Esta espécie de sede, esta espécie de fome,
Esta espécie de pão de que esta alma carece,
-Vem desde aquele dia em que na encruzilhada
Do meu destino mal, a sós nos encontramos
E seguimos, depois, diferentes caminhos...
Trago no olhar insone e na fronte nevada
Os estigmas de um sonho inglório, que sonhamos
Feito de luz, de som, perfumes e carinhos...
Xiririca, 1932
DOMINGOS BAUER LEITE
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 17 de junho de 1934
ANO I - NUM.11
CASAL FELIZARDO
Numa alta região das margens do Ribeira,
Habitam uma choupana, em denso matagal,
Joãozinho e Carolina, o modesto casal,
Que a rir, cantarolar, alegra a selva inteira,
E que, ao nascer da aurora,o belo madrigal
Das Aves multicores, torna cancioneira
A vida solitária e cheia de canseira
Do pobre lavrador, que come e dorme mal.
Por isso é que Joãozinho os seus males espanta
Povoando sua fazenda apenas com a harmonia
Das cordas de um machete e a voz de uma canção.
E, enquanto Carolina alegremente canta
De pressa o tempo passa, e passa logo o dia,
Sem nunca se saber quando lhes falta o pão.
Xiririca, Janeiro de 1935
JOÃO RIBEIRO DE FREITAS
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” - Prainha, 24 de fevereiro de 1935
ANO II - NUM.26.
CONFISSÃO DE POETA
Para alguém...
Não devo mentir agora. Foi verdade,
Que gostei dessa amiguinha ausente,
Mais isso passou...Foi tão de repente...
Que nem sinto a menor saudade!...
Por Deus te juro, minha deidade...
Que passaste por mim tão sorridente,
Deixando meu coração, coitado, contente
A formar sonhos loucos, por felicidade!...
...Nunca amei ninguém até o dia
Em que vi quando passastes tendo ao lado
Um moço bonito com físico de atleta...
Desde esse tempo...E quem diria?!...
Fui aos poucos me tornando enamorado
Da tua alma que formei como poeta!...
Prainha, Maio de 35
IANIGYRA
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 26 de maio de 1935
Ano II – NUM. 33
PARTIDA
(Para a senhorita Ivone Oliveira, na hora de sua
partida de Xiririca na manhã de 08 de julho de 35)
Versos escritos chorando
Na hora de sua partida,
Como tudo que se escreve
No momento triste da vida.
Versos que fiz numa noite,
Ivone, a pensar em ti.
Versos de amor e saudade
Que já ouviste e sempre ouvi.
Versos do peito arrancados
Quando o peito está em pedaços,
A procurar pela noite
O amparo de amigos braços.
Versos de angustia e tristeza,
Na hora em que tudo faliu.
A estrela que em vão buscamos,
A voz que ninguém ouvia.
Versos...Revôo perdidos
De aves cantando na treva
A esperança que nunca chega,
O sonho que tudo leva...
Versos que vão pelo espaço
Na hora da tua partida,
A chorar como a saudade,
O poema triste da vida.
Versos, farrapos de sonho
Nuvens perdidas no ar,
Mistério da noite triste,
Na noite sempre a vagar.
Versos que ensinam a gente,
As crianças e aos Briareus
A ciência triste e dorida
Que está toda num Adeus.
GODOFREDO RIBEIRO
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, domingo-15 de dezembro de 1935
ANO II – NUM. 45
O VERSO
O verso é mais do que
uma pincelada
um sulco,
um traço,
um eco,
um acorde,
um clamor
penetra pelo olhar numa alma
enamorada,
desperta o sonho,
a graça,
o riso,
a mágoa,
a dor;
e que nos deixa o forasteiro?
Quase nada:
Nos olhos um clarão,
nos lábios um tremor...
AFONSO SCHMIDT
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 12 de agosto de 1945
ANO I - NUM. 82
SONETO
Um aljofrado céu ridente em flor,
Debulhava-se em chuva colorida,
Sobre rósea nudez duma querida,
Que rolava incendiada pelo amor.
Momentos tinham que doce langor,
Ficava a cismar toda entristecida;
Outras vezes porem enfurecida,
Despedaçava tudo com rancor.
Por fim ficava como que dormindo,
Por sentir talvez um prazer infindo
Nessa nudez das deusas dos amores...
E as enconchadas pétalas no entanto,
Refloria esse flóreo corpo santo,
Transformando-o num montão de flores.
Xiririca, 12/03/1925
ANTONIO MATHEY
Jornal “O IGUAPE” - Iguape, 25 de abril de 1925
ANNO I - NUM. 33
TEU NINHO
Enquanto sonho com paixão, correm as horas...
A tua imagem não me sai mais da retina.
Tenho a impressão que sintetizas, ó menina,
em teu semblante belo, todas as auroras...
No bucolismo da paragem onde moras,
a tua habitação, simples e pequenina,
lembra-me, ao perpassar da brisa matutina,
um ninho máculo de todas as auroras
Entoando madrigais, roçando na deveza,
embevecido pela tua realeza,
de manhã o astro-rei vem humilde beijarte.
Pela tardinha, o sol, sanguíneo de emoção,
vem remirar saudoso a tua habitação
e, apaixonado por ti, chora, e depois...parte...
Prainha, Maio de 1943
X.P.T.O.
Jornal “O MUNICÍPIO” – Prainha, 16 de maio de 1943
ANO III – NUM..18
UM APELLO!
Este é o título de um soneto de autoria do distinto poeta Domingos Bauer
Leite, de Xiririca, recitado por ocasião de um banquete oferecido pelos
políticos daquela cidade ribeirinha, em 19 de agosto de 1925, ao nosso
homenageado de hoje.Reproduzamo-lo:
A zona em que o Ribeira serpenteia,
Saudando um dos seus filhos eminentes,
Diz, entre riso amigo dos presente:
-Salve o homem que aqui se homenageia!
Bem como, outrora, a luza patuleia
Nasceu de fracos, mas heróis e crentes...
-Combatamos, também, firmes e ardentes,
O mal que a inércia por aqui semeia:
Alma xiririquense, não te cales!
A indiferença é um dos grandes males
Que nos ataram do progresso as mãos...
Vamos!-Esforço para o bem comum,
Vamos!-Que o nosso fito seja um:
-Honrar a Pátria que nos faz irmãos!
Jornal “ O MUNICIPIO” – 11 de abril de 1943
ANO III – NUM.17
PRETENSÃO
Pretendi celebrar tuas formas divinas.
Eu quis cantar esse teu corpo de deidade.
Para satisfazer toda a tua vaidade,
Desfiei, ao luar, líricas sonatinas.
E, minha voz, numa seqüência de
[surdinas,
foi repetindo com gritante alacridade
os teus encantos...Satisfiz tua vaidade
pretendendo cantar tuas formas divinas.
Quão tolo fui eu, vejo agora arrependido,
e agora choro todo esse tempo perdido
em cantar tua voz, teu riso rosicler,
o encantamento enganador do corpo vazio,
deixando relegado a um plano secundário
teu puro coração, tua alma de mulher.
Prainha, março de 1943
X K W Y
Jornal “O MUNICÍPIO” – Prainha, Março de 1943
ANO III - NUM. 16
EXPIAÇÃO
Certamente eu já fui, em outras vidas,
bárbaro algoz de virgens indefesas;
de órfãos fui opressor, tive almas presas
no cárcere das ânsias desmedidas;
castiguei inocentes: mil torpezas
foram injustamente redimidas
por mim; em corpos sãos abri feridas;
dei aos ricos o pão das pobres mesas;
neguei amor a quem mais me queria;
fui perverso, fui mau; a dor sombria
e muda, fiz gritar clara e sonora...
Só deste modo explico o meu Destino,
tamanho azar me vem desde menino
acompanhado pela vida afora...
JOSÉ MINDELLO
Jornal “O IGUAPE” – Iguape, 30 de janeiro de 1927
ANNO III - NUM. 104
DESENCANTAMENTO
Por um país de enganos foste, um dia,
De olhos fechados, caminhando pelas
Regiões de ouro e de luz da fantasia,
Onde as flores brilhavam como estrelas.
Tantas surpresas no teu sonho havia,
Que tu ficavas deslumbrado ao vê-las!
E eis que de estrelas tua mão se enchia,
Tão fácil era a tua mão colhe-las...
Longe dos males das paixões terrenas,
Encantado e sonhando, te transportas
Nessas paragens claras e serenas...
Mas, de repente, as dores que suportas
Lembraste. E, abrindo os olhos, viste apenas,
Que essas estrelas eram flores mortas.
MARTINS FONTES
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 07 de agosto de 1949
ANO V - NUM.239
ANTES DE EMBARCAR...
Sei, amor, que está próxima a partida
E irei além em lágrimas banhando,
Sentindo o coração acabrunhado
No extremo adeus da amarga despedida.
Sei que me vou em mágoas lacerado,
A voz tremente, a face umedecida:
Nas também sei que hei de te ver querida,
Sempre, a fitar-me, tímida, ao meu lado.
E no final deste sofrer medonho.
Por alta noite, em ânsia de algum sonho,
Teu nome afável murmurando anseio.
Hei de sentir...e manso despertando
Debater-se minha alma, palpitando
Na tépida brancura do teu seio...
PRECILIANO CORREIA
Jornal “O MIRACATU” – 22 de Maio de 1949
ANO V - NUM. 227/228
SI...
( A Domingos Bauer Leite, retribuindo)
Si depois de um viver amargurado,
Pleno de angústia e de melancolia,
Pudesse a gente regressar um dia
Aos abismos esconsos do Passado:
E se a gente pudesse
Escolher o Destino que quisesse...
...............................................................................
Creio que toda a gente voltaria
Pelo mesmo caminho desgraçado!
HILÁRIO CORRÊA
(São Paulo)
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 12 de junho de 1949
ANO V - NUM. 231
FILOSOFIAS...
“Desinteresse...esse nome,
melhor fora e não haver.
Vês a terra que nos come?
-Primeiro nos mata a fome,
para depois nos comer...”
“Vês o mar? Não há tão rios
corações como o do mar.
Forma os rios, enche os rios...
-Mas, para que forma os rios?
Para depois os tragar...”
Vês o homem que festeja?
Louva-te a glória e o porvir,
Louva-te a ação bem fazeja...
Mas, para que te festeja,
Para depois te trair...”
“Desinteresse! Não creias,
seja de quem a quem for.
O sangue que tens nas veias,
Veia, de fontes alheias,
Por um interesse – o amor.”
HERMES FONTES
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 06 de julho de 1947
ANO III - NUM. 121
SONETO
Os filhos deles meu amor, tem tudo:
jóias, bonecas e brinquedos finos.
Envolvidos na renda e no veludo,
são belos, intangíveis e divinos.
E tu, meu filho, assim, quase desnudo,
ao léu, exposto a fúria dos destinos.
Não tens ao menos um sapato rudo
para os teus pés doridos e franzinos!
Dorme, me filho, neste duro braço
cheio de calos e de cicatrizes,
mas que nunca cedeu frente ao cansaço.
Espera, filho, espera um pouco mais.
Todos os lares hão de ser felizes,
todos os berços hão de ser iguais.
DJALMA DE ANDRADE
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 09 de Novembro de 1947
ANO III - NUM.149
A TI
Tens um olhar divino e feiticeiro
Em um sorriso ideal e traiçoeiro!
Tua boquinha, pura e virginal,
Tem um perfume suave que inebria,
No teu falar, um pouco de ironia;
No mais, és divinal!
A tua face branca e aveludada
Tem a ternura de mulher amada!
Das que conheço, és tu a mais formosa;
Em ti, eu vejo tudo que é beleza,
E para usar da máxima franqueza,
Tu és maravilhosa!
ALCEU FALLEIROS
Jornal ‘O MIRACATU” – Miracatu, 17 de julho de 1949
ANO V - NUM. 236
OLHOS BONITOS
Eu perdia a noção do tempo e do ambiente:
Olvidava o passado e transpunha o presente.
E vivia o futuro em seus olhos bonitos,
Enfeitiçantes, diabólicos!...
Hoje, se os olhos ponho em sósias dos seus olhos,
· Veludos com que sonho entre espinho e brolhos,-
· A saudade umidece os meus olhos aflitos,
· Tristemente melancólicos...
* * *
E fico a pensar querendo
Rever o seus olhos, sendo,
Apenas, e sem remédio
O horizonte indefinível!...
Isso acontece menina
A que nasceu com a sina
De, para fugir ao tédio,
Ir em busca do impossível!...
DOMINGOS BAUER LEITE
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 25 de fevereiro de 1951
ANO VII – NUM.320
CANÇÃO PRIMAVERIL
HILÁRIO CORREA ( Especial para o “Miracatu”)
Vês? É setembro. Meu jardim se anima.
Um ipê se antecipa na florada.
Passam aves chilrando lá por cima,
há borboletas colorindo a estrada.
É a primavera...Aos poucos se aproxima,
vem suave e lenta, num andar de fada...
Trás novo alento para a nossa rima
e esperança a toda alma apaixonada.
Nesta quadra de amores e alegrias,
seja enquadrado em flores e harmonias
o cenário feliz em que me vejo:
ir, sob a copa dos ipês floridos,
a mão na tua, os passos confundidos.
rumo ao santo mistério do teu beijo!
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 11 de setembro de 1949.
ANO V - NUM. 214
UM MENOS UM
Éramos dois,
querida.
Depois,
ficamos sendo três.
Em seguida,
golpe tremendo!
Ficamos sendo
dois outra vez.
Tempo adiante,
Partiste,
mar a fora.
Pungente instante!
Momento triste!
Agora,
separados,
afastados,
cada um de nós é um!
Um? – Nenhum.
Setembro de 1935
AFONSO LOPES DE ALMEIDA.
Jornal “O MIRACATU” - 08 de outubro de 1950
ANO VI - NUM.299
Poeminha escrito no carro bufete da Santos – Juquiá
(especial para “O Miracatu”)
De Pedro de Toledo a Itariri,,,
Foram quatro as palavras que ela disse,
quatro as palavras que eu lhe respondi.
Quatro gotas de sangue que saísse
ao golpe do punhal da despedida.
De nossos corações cada batida
ouviu-se de Registro a São Vicente
e fez ressoar no oceano tristemente;
envolvendo até o Vale do Ribeira
cobriu de espessa mágoa a zona inteira.
Tudo, tudo vibrou com nossos ais:
o trem...o mar...a serra...os bananais!
Enlutou, nossa trágica Odisséia,
Miracatu, Iguape e Cananéia.
Foram quatro as palavras que ela disse,
quatro foram aquelas que lhe disse,
a causa de tantos ais,
a causa de tanta dor.
Chorando ela falou: “Não nos veremos mais!”
Surpreso, eu falei: “Adeus, meu grande amor!”
HILÁRIO CORREA
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 05 de novembro de 1950
ANO VI - NUM. 303
ILUSÃO ÓPTICA
Aquele casarão assombrado
guarda, com avareza, uma menina,
cujo semblante belo e, a cristalina
voz, põe-me o coração apaixonado.
Uma janela, ao fundo do sobrado,
vem às vezes mostrar, muito em surdina,
o apaixonante vulto de menina.
Depois...vem o quintal todo plantando...
Uma palmeira lépida flabela
ao vento...Eu vejo apenas a janela!
E, quantas vezes, tenho esta ilusão:
Que o sol nasceu naquele casarão
Tão somente porque foi meu olhar,
com os olhos da menina se encontrar!
Prainha, Agosto de 1943 – ijl
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 20 de setembro de 1946
ANO II - NUM. 91
ENVELHECER SOZINHO
Em ânfora falaz, ele bebeu ávido
O néctar da ilusão,
Da mentira e do pecado,
Do orgulho e do desprezo!
Percorreu caminhos diferentes,
E estradas florescentes,
Mas não amou, nunca uma mulher!
Coração avaro, -no seu peito,
Jamais agasalhou um outro coração...
Partiu sozinho e volta só;
- A solidão já se tornou afeito.
Mas um dia, (vai bem longe esse dia...)
No ambivio da vida, ele ficou indeciso
E pertubado regressou.
- A sua fronte que um sonho vão manchou
Tem agora a marca da velhice!
E vem, lentamene regressando,
Voltando por esse mesmo caminho
Que de manhã ele percorreu sem ver,
Para chorar, agora, entristecido,
A dor de envelhecer sozinho.
Xirirrica, 1945 - João Mendes da Silva
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 20 de janeiro de 1946
ANO II - NUM. 55
PITONISA
Ciganinha,
Você não disse bem a verdade
Quando tirou a minha sorte.
Você pintou a minha vida
Com as cores da alegria:
Caminhos largos, cheios de flores,
por onde passaria a minha mocidade
espalhando risos, conduzindo amores!
E, sabendo que é humano o medo de morrer,
Quis ainda nisto me favorecer
E colocou bem longe a morte...
Ciganinha,
Você não disse bem a verdade
Quando tirou a minha sorte.
No quadro da minha vida,
Não aparecem aquelas tintas bonitas
Que eu vi na sua palheta mágica de predições!
E a minha mocidade, envelhecida,
Vem sangrando os péS por tortuosos caminhos
Onde, ao invés de flores, eu só vejo espinhos;
E, em cada encruzilhada, um amor se despede,
E, eu tenho que sorrir para fingir-me forte.
Ciganinha,
Você não disse bem a verdade
Quando tirou a minha sorte.
O que você predisse, não tem dado certo.
Por isso, eu temo que a morte,
Que a sua bondade colocou bem longe,
Venha vindo perto!...
DOMINGOS BAUER LEITE
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 22 de setembro de 1946
ANO II – NUM. 90
NO PARANAPANEMA
(Impressões de guerra. Escrito em 1932)
Aqui não canta o sabiá formoso,
Nem passarinhos de formoso canto.
O Paranapanema vai, choroso,
Rolando de um recanto a outro recanto.
O Sol não aparece luminoso
Porque tem medo que nos cause espanto.
E dorme, dorme, como um preguiçoso,
Todo coberto de lutuoso manto.
Não voa a alegre borboleta branca
Neste sangrento e desditoso campo,
Que só de luto e sangue está coberto.
A noite, nem sequer um pirilampo
Brilhando aqui e ali a treva espanca.
Tudo é deserto aqui neste deserto.
BENJAMIN CONSTANT NETO
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 14 de outubro de 1945
ANO I – NUM.41
DIANTE DE UMAS RUÍNAS
Uma Tapera...A vida já vivida,
Hoje em sombras e escombros sepultada!
-Esperança entre cânticos erguida.
-Saudade na poeira amortalhada.
Para construir-te, ó casa abandonada,
-Talvez o sonho todo de uma vida,
Quanta dor em segredo recalcada,
Quanta ventura apenas pressentida.
Mas conta-me, Tapera, o sonho extinto!
A história do casal, do imenso afeto
Que um dia floreceu em teu recinto...
Crianças vindo com estardalhaço,
Enquanto ao lado, no jardim discreto,
Alguém fremia no primeiro abraço.
GODOFREDO DE OLIVEIRA RIBEIRO
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 27 de maio de 1945
ANO I - NUM.21
BANDEIRANTE DO SONHO
( Para Godofredo)
Ele entrou na vida por arcos triunfais,
Coberto de flores, empunhando a lira,
E vibrando seus cantos eternais.
Nas lendárias pragas românticas do Sul,
Quanto amor lhe brotou do coração exul!
Quanto sonho sublime ele criou,
Ajaezando de esperanças imortais.
Ao partir, emplumado de ideais,
-Bandeirante do sonho, ave viajeira,
Pássaro azul do Vale do Ribeira,-
Não pensou sequer na tristeza do regresso...
Eu vejo agora do sonho o velho profitente,
Com o olhar perdido na distância
Fitando as cores fugitivas do poente.
E cansado e velho e desiludido,
Fica vivendo de recordação,
E escuta sozinho o nostálgico rumor
Da saudade a eterna romaria,
Que do coração vai subindo ao pensamento
De quem entrou na vida por arcos triunfais.
Xiririca, 1943 JOÃO MENDES SILVA
( Transcrição da “Folha Popular” de Capão Bonito)
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 03 de novembro de 1946
ANO II - NUM. 96
PESQUISA REALIZADA POR: LAERTE DE CAMARGO ARAÚJO
(À ALDA)
A graça infinda desse teu sorriso,
a infinda graça desse teu olhar,
vêm – magia sublime – em paraíso,
a minha triste vida transformar.
Começo a rir deixando de chorar,
se, repousando sobre mim, diviso
a graça infinda deste teu sorriso,
a infinda graça desse teu olhar.
Então minha alma deslumbrada canta...
Canta sedenta procurando achar
os ardores de amor, de que preciso.
tanto, nesse teu coração de santa,
na graça infinda desse teu olhar
na infinda graça desse teu sorriso.
IG NOTUS
Agosto de 1940
Jornal “O MUNICÍPIO” 01 de setembro de 1940
ANO I – Num. 4
ENQUANTO NÃO VENS.
À minha Musa
Por entre as notas de gentil descante,
meu coração apaixonado espera...
Debalde pede em súplica constante
que venhas despertar a primavera,
com o fulgor que teu sorriso gera,
com o esplendor de teu olhar brilhante,
no abotoamento de sonho e quimera
avolumado no meu peito amante!
E tu, mulher, indiferente passas
por mim, cheia de encantos e graças,
enquanto meu coração suplica e canta...
Mas, eu, na expectação de tua vida
vivo a pedir o teu sorriso, linda!
Suplico em vão o teu olhar, ó santa!
Prainha, 15 – 01 – 1941
BARDO PRAINHENSE
Jornal “O MUNICÍPIO” Prainha, 04 de março de 1941
ANO I – Num. 15
POEMA DE TEUS OLHOS TRISTES
O teu olhar castanho, assim dormente,
apagado e mortiço, faz lembrar,
contemplando-o, estrelas fracamente
tremeluzindo no espaço ao luar;
Teus olhos... na clausura desses cílios
se me assemelham aves prisioneiras
que anseiam pelo verde das palmeiras
no acesso dos mais íntimos idílios.
Teus olhos... são duas brasas mortas de topor.
veladas pela cinza da tristeza
mas, que incendeiam com viva rudeza
apenas sopra o vendaval do amor.
Teus olhos... são oceanos dominados
por eterna e perene calmaria
onde se perdem barcos arvorados
do amor em viagens sem valia.
Teus olhos tristes, baços, como em calma,
em seu falar traduzem tanta cousa.
que ninguém revolvê-los jamais ousa:
Eles são as feridas de tua alma.
Teus olhos...duas chagas...olhar triste...
Fogo de amor provocando loucura...
Duas covas profundas que abriste
Para meu coração ter sepultura...
VATE PRAINHENSE
Jornal “O MIRACATU” Prainha, 15 de março de 1942
ANO II – Num. 7-8
FELICIDADE
Quando há luar, em noites assim calmas,
Meu pensamento foge! Uma ansiedade,
um desejo de ser feliz me invade!...
Ser feliz...merecer milhões de palmas...
Quando há luar, em noites assim calmas,
fico pensando que a felicidade,
irei acha-la na perpetuidade,
da união íntima de nossas almas.
Quando há luar, em noites assim mansas,
tenho na mente um mundo de esperanças,
um desejo de ser feliz e amado,
Essa felicidade, eu bem o sei
meu Coração, tão só conseguirei
encontrá-la ao viver sempre a teu lado.
VATE PRAINHENSE
Jornal “O MIRACATU” Prainha, 10 de maio de 1942
ANO II – Num. 9
ENLEVO
Por entre as alas do capim cheiroso,
na estrada antiga cheia de luar,
nós dois...Meu coração cheiro de gozo,
a palpitar junto do teu...Amar...
Por entre as alas do capim cheiroso,
vazia e poeirenta: a estrada. A andar,
lado a lado, nós dois buscando pouso
onde possamos à vontade amar.
Por entre as alas do capim nós vamos.
Os nosso corações – dois gaturamos –
um par que apaixonadamente canta.
Por entre as alas de capim vou indo
a contemplar teu semblante lindo,
bebendo amor em teu olhar de santa.
VATE PRAINHENSE
Jornal “ O MIRACATU “ – Prainha, 14 de junho de 1942
ANO II – Num. 10
ACRÓSTICO
Ouve:- de há muito o teu olhar,
Luz que brilhou para mim na terra
prometida,
Guardou , não sei para que, meu
coração...
Alma feiticeira, guarda-o por toda a
vida,
Pois que ele é teu e sempre teu
será então.
Onde quer que vás, leva-o contigo,
Não o deixe nunca mendigar
felicidade.
Tudo então serei, homem e artista
e até feliz!...
E o teu sorriso será bonito porque
foi:-
Sol que iluminou a minha mocidade.
JOÃO MENDES DA SILVA
Xiririca, 1942
Jornal “ O MIRACATU “ – Prainha, 7 de setembro de 1942
ANO III – Num. 12
RAMALHETE
Trago-te flores. São flores singelas.
Tua vaidade irá menosprezá-las
porque só a simplicidade delas
não apresenta as requintadas salas do luxo que aprecias.
Contudo, elas em si encerram ardorosas falas
de ardente amor e são tanto mais belas
quanto mais simples, Vem, pois, escutá-las.
Vem escutá-las. Guardarás, espero,
uma recordação deste discreto símbolo que
minha alma ocultou nelas;
São simples como meu amor sincero,
brancas como a pureza deste afeto
que consagro a ti, bela entre as mais belas!!
VATE PRAINHENSE
Jornal “ O MUNICÍPIO “ Prainha, 7 de setembro de 1942
ANO III – Num. 12
NO DESERTO
Estamos no deserto. O sol dardeja a pino
Até aonde a vista alcança, ondula a areia.
O camelo cansado já falseia
a custo suportando o exausto beduíno.
Sedentos vão os dois. Em vão o peregrino
em busca d’água muito aflito olha...Tateia
com vista cansada a imensidão de areia
e só areia encontra o exausto beduíno.
Súbito emerge do horizonte, verdejante,
visão celeste de palmeiras e granito
o oásis, taça apresentada ao viajante
que traz no bojo a salvação ao caminheiro.
A vida nesse deserto; eu sou o pegureiro
feliz de achar abrigo em teu amor bendito.
VATE PRAINHENSE
Jornal “ O MIRACATU” – Prainha, Novembro-dezembro de 1942
ANO III – Num 13 e 14
DEVOÇÃO OCULTA
Você sabe que eu sei que você sabe,
Como eu sei que você sabe que eu sei,
Que no meu coração só você cabe
E que no seu, entre outros, eu fiquei...
Talvez não ache quem meu gosto gabe,
Ao ver que nada exijo e tudo dei;
Mas, que importa a um monarca se mas cabe
Seu trono e sua coroa é rei?...
No templo do seu culto, as romarias
Entram, em procissão, todos os dias
E ninguém, com certeza, ali, me vê.
É que apaguei as luzes da capela
Onde, minh’alma, com desvelo, vela
Eu coração, onde guardei você,,,
Prainha, outubro de 1943
DOMINGOS BAUER LEITE
SOCIAIS
Eu tendo o teu amor eu terei tudo, ó bela!
e sem o teu amor, eu nada tenho, ó linda!
É por isso que eu vivo a suplicar ainda
O teu afeto que minha alma moça à nela.
Para mim, tudo o mal que sinto se debela,
toda a amargura de meu peito. Já se finda;
pois, tendo o teu amor, eu nada tenho, ó linda!
E, sem o teu amor, eu nada tenho, ó bela!
À noite, quando pela terra o luar se espalma
em mancheias de luz, com paixão minha alma
suplica o teu afeto e esperançosa vela
Buscando o teu amor porque, sem ele, ainda
que tudo possuísse, eu nada tinha, ó linda!
com ele, nada tendo, eu terei tudo, ó bela!
VATE PRAINHENSE
Jornal “O MUNICÍPIO” Prainha, 02 de agosto de 1942
ANO II – Num. 11
A ORQUÍDEA QUE ME DESTE
(Especial para o “Ribeira de Iguape”)
Doce lembrança d’uma tarde leda.
Relíquia sacrossanta que eu venero;
Quanto mais beijo, mais beijar eu quero
Essa Orquídea que puro amor segreda!
Com que fim tu m’a deste anjo sincero?
Não sei...apenas queres que eu receba
Essa flôr que o vestido teu de seda
Ornou naquela tarde em reverbero!...
Mas, pobre orquídea1 O vento com inveja
De a ver nas minhas mãos, ao ir beija-la,
Roubou-m’a, encadeando-a em fortes laços1...
Ao carrega-la o vento rumoreja...
E a pobre flor, quse perdendo a fala,
Lá foi chorando, me estendendo os braços1...
Xiririca, agosto de 1934
JOÃO NINGUÉM
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” 26 de setembro de 1934
ANO I - Nº 18
O CARVALHO ANTIGO
Vivendo, de saudade, amargurado.
Nas selváticas sombras da floresta,
Onde já fora belo e bem tratado,
Ao lado de uma herdade sempre em festa,
Embora gigantesco, acobardado
Pela camada de eras que o infesta,
Os abraços vorazes do silvado
E muita praga estranha que o molesta...
O mesmo acontecera ao trovador
Que se vê mergulhado no negror
Das sombras da velhice, abandonado,
Vivendo amargurado de saudade,
Nas grandes Catedrais da mocidade
Nas densas nebulosas do passado...
Xiririca-outubro-1934
JOÃO RIBEIRO DE FREITAS
Jornal “ O RIBEIRA DE IGUAPÉ “ 01 de janeiro de 1935
ANO I - NUM. 23
SONETO
O meu amor deixou esta cidade
E, em paragens distantes, foi viver;
Levou minha alegria e meu prazer,
Deixando-me a tristeza e a soledade.
E nesse abatimento, nessa ansiedade,
Longos anos passei a padecer,
Mas sempre na esperança de rever
A bela flor da qual tenho saudade.
Um dia pela praia passeando,
Vi ao longe, no mar, uma barquinha
Sobre as ondas, de manso, deslizando.
E veio vindo, como uma avesinha,
O meu amor...mas fiquei triste, quando
Vi que era sonho...que ela ali não vinha.
Xiririca, 1934
JOÃO RIBEIRO DE FREITAS
Jornal “ O RIBEIRA DE IGUAPE “ – Prainha, Sexta-feira, 25 de janeiro de 1935
ANO I - NUM. 25
SOCIEDADE
Uma casinha à beira-mar e ao lado,
Todo perfumes, um jardim florido.
Pombos em festa em cima do telhado,
E em cada canto um ninho construído.
O mar em frente calmo, sossegado...
E no alto o céu sereno e colorido.
Como se fosse o olhar de Deus voltado
Sobre a ventura do meu lar querido.
A esposa e os filhos cheios de alegria
De quem tem sempre o pão de cada dia,
Embora ganho numa luta acesa.
Não sei, ó Deus! Se tanto bem mereço...
Mas creio em vós e eis tudo que vos peço
Para viver honesto na pobreza.
Bordo do S/S “PIRAHY” 1924
FRANCISCO LOPES
Jornal “ O IGUAPE “ – Iguape, Domingo, 30 de novembro de 1924
ANNO I - NUM. 14
AO FINDAR DA FESTA
Ao meu amigo Valle Ribeiro
O céu estava triste, e o sol tristemente
ia morrendo aos poucos, – lentamente...
-Naquele dia final de uma festa.
Um vento mais que brando, - docemente
Impelia às águas, - mansamente,
Que alheias à tudo, - distraidamente,
iam de encontro às pedras do cais...
-Naquele dia final de uma festa.
O sol desapareceu por trás dos montes
Que de mim e de você, -estavam defrontes...
-Naquele dia final de uma festa.
Ali, na rua do cais, quase deserta,
Naquele dia final de uma festa;
Você chorou por uma paixão inglória
Ao lembrar-se da sua história,
Em uns dias de uma grande festa!...
Iguape, junho de 1934
INAIGYRA
Jornal “ O RIBEIRA DE IGUAPE “ - Prainha, Domingo, 1º de julho de 1934
ANO I - NUM. 12
HYNNO AO SOL
(inédito)
Pôr do sol, quando te vejo
por cima da cordilheira,
Só me alimenta num desejo:
Poder ver-te a vida inteira.
Armei um castelo de ouro
Num outeiro, à beira mar,
Onde conservo um tesouro
Para quando me casar...
Meu amor, que anda comigo
Numa doce vibração,
Já reservou-te um abrigo
No meu pobre coração.
Sou como a ave solitária
Que não quer saber de festas,
Avesinha temerária,
Que se oculta nas florestas.
Quando a luz rubra se oculta
E por trás dos montes desce
De paixão minh’alma exulta,
Meu coração enternece.
Escuto um canto funéreo
De uma rolinha a gemer.
-Entre nos dois há um mistério
que eu não posso compreender.
Por de sol, canta comigo
A canção do nosso amor.
Somos livres, meu amigo,
Nas alegrias, na dor.
Partes para além da serra
Noutros mundos vais fulgir.
-Quando do meu peito encerra
por não te poder seguir.
PAULINO DE ALMEIDA
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” - Prainha, Domingo, 1 de julho de 1934
ANO I – NUM. 12
SONETO (A ALGUÉM)
(Especial para o “Ribeira de Iguape”)
As cordas desta lira acostumadas
Em vibrar com amor em todo o canto,
Não tem mais o verdadeiro encanto
Que tinha noutras épocas passadas!
Não vibram sonorosas e timbradas...
Mas, dedilhando-as, ouço, no entretanto,
Que me falam de um amor sublime e Santo
Em vozes tão melífluas e inspiradas!
Falam de amor...e de um amor deveras
Excepcional...deveras elouqüente,
Próprio talvez das vinte primaveras!
Mas não creio no amor...porque não creio
Que alguém possa gostar sinceramente
De um João Ninguém, desajeitado e feio!
São Paulo, agosto de 1934
JOÃO NIGUÉM
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, Domingo 12 de agosto de 1934
ANO I - NUM 15
VOCÊ É ASSIM MESMO...
Não faz mal. Você é assim mesmo:
Toda sorridente,
Sempre descrendo, que a gente,
Possa gostar de alguém, com sinceridade.
Não faz mal. Você é assim mesmo:
Vive, sempre insistindo
Para que a gente, esteja a toda hora, mentindo.
Não faz mal. Você é assim mesmo:
Fica com a gente zangada,
Quando a chamo de minha amada.
Mas ontem você ficou triste,
Quando eu sem querer disse:
-O meu maior prazer consiste,
em viver, enganando...
Tolinha...Você assim traiu-se.
Mas, não faz mal. Você pode ser assim mesmo:
Toda sorridente,
Toda descrente,
De que a gente;
-Possa te amar...
Iguape, Julho de 1934
INAIGYRA
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 12 de agosto de 1934
ANO I - NUM. 15
ELA... (Oferecido a Iolanda)
(Especial para “O Ribeira de Iguape”)
Ela é de um sorriso encantador que deixa
Qualquer rapaz cativo;
Seu sonhador olhar a luz do amor enfaixa
Tornado-se expressiva.
Ela é a moça ideal de uma tal graça de jeito
Que fascina o estudante de Direito
Que estes versos recita;
Seu coração cheiro de ardor, de anseio,
Vive, senha e palpita!...
Ela é das ninfas aquela que mais ama
E mais amor reclama;
De Deus Onipotente é a mais formosa filha,
Das estrelas é aquela que mais brilha,
E das flores a que mais perfuma...
E direi: (Antes que pergunteis como se chama)
Ela tem graça e encanto até no andar...e anda
Como as musas do Olimpo ou o Parnaso.
Que se chame Judit, Rosa, Iara Iolanda,
Que importa para o caso?
Ela é o santuário do amor em que ajoelho
Com todo entusiasmo, adoração, anseio,
Para pedirt a Deus, Nosso Senhor,
Que me prive de tudo o que quiser,
Mas não me prive do amor...
NÃO ME PRIVE DO AMOR DESTA MULHER.
São Paulo, 02de agosto de 1934
BENJAMIN C. NETO
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 12 de agosto de 34
ANO I - NUM 15
ESQUECES O PASSADO
(À um amiguinha;-)
(umas das páginas do meu passado)
Rasgue e queime às cartas que te enviei,
Para que no esplendor da tua felicidade,
Que tu ainda não advinhas...Que eu não sei,
Não traírem uma tão recente amizade...
Esquecestes o que por um engano falei,
No calor de uma imensa sinceridade...
As minhas promessas...O mesmo fazerei
-Não será tão grande, nossa infelicidade.
Esqueces ainda, aqueles nossos encontros...
-E nossos corações assim tão de prontos,
Saberão resistir outros embates incertos...
Esqueces tudo enfim, do nosso passado?...
O nome deste que foi teu namorado?...
Deste que ouviu teu coração bater de perto!...
Iguape, 12/06/1934
INAIGYRA
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 12 de outubro de 1934
ANO I - NUM. 19
NÃO ESQUEÇA O PASSADO!...
((à mesma amiguinha;
outra página do meu passado)
Mentira?!...E talvez quanta mentira
Escrevi sentindo, dor nesta saudade,
Não obedeça-me no que te pedira
Por medo, por incerteza, por maldade!
Mentira!...E eis como te ferira
Por inexperiência desta mocidade.
Foi pois, por ela, que caíra
Naquilo que classificas crueldade.
Tudo mentira?...Compreendo. Fui louco
Por querer exigir-te tanto, por tão pouco.
Por isso perdoe-me dando-me o perdão.
Esquecendo, não o passado, sim o soneto...
E este meu amor mais satisfeito
Te entregará para sempre o coração!...
Iguape, 16/06/1934
INAIGYRA (Ary de Moraes Giani)
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 28 de 0utubro de 1934
ANO I - NUM. 20
O TOCADOR DE BATERIA
Preto retinto de olhar tristonho
ha esclerótica,
caótica
parecem morar saudades lindas
infindas!
Lábios grossos, pendidos,
dedos finos, ressequidos,
corpo de cobra,
esquelético
frenético,
epilético,
Na valsa, de compassos dolentes,
frementes,
parece sonhar com uma sinhazinha,
dengosa,
cheirosa,
vaporosa,
Na valsa, a sua bateria,
intermitentemente,
mecanicamente,
Ritmicamente.
Some, volta, devagar, com força,
Vai para tornar a voltar.
E todo triste, como triste
É a valsa triste.
Porém, no samba...
Meu Deus! Que horror!
O preto remoça,
Destroça,
Troça,
E se transfigura.
Seus olhos despendem centelhas,
Que nem saci pererê.
Pula, saracoteia,
Sapateia,
Se enléia.
Os pares no salão revolteiam,
Gorgeiam,
Chilreiam,
Enquanto no coração do preto
Se desenrola um drama
Fenomenal, transcidental.
OTA DAS ANTAS
Jornal “CORREIO DO LITORAL” Itanhaém, 04 de dezembro de 1949
ANO I - NUM. 18
COMO SORRIR?
( A uma Ribeireide)
Como sorrir, se tudo fere a alma
Com punhal criminoso e assassino?
Como sorrir, se já não tenho a calma
E esse prazer de quando era menino?
Como sorrir, se a própria alma chora
Vendo-se exposta a todos os castigos?
Como sorrir o nauta em mar, lá fora,
Entregue as tempestades e perigos?
Como sorrir, se tudo é negro e triste
Aos olhos meus cansados de chorar?
Como sorrir, se dentro da alma existe
Mais tempestade do que há no mar?
Como sorrir, se a vida de repente
Nos arroja à mais dura condição?
Como sorrir, se vejo tanta gente (...)
A ferir e sangrar meu coração?
Xiririca, agosto de 1934
BENJAMIN C.NETTO
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 26 de agosto de 1934
ANO I – NUM. 16
O TEU RETRATO
O teu retrato belo, colorido,
Atraí-me a contempla-lo a toda a hora;
O meu longo e sereno olhar demora
Sobre esse Bem estranho, mas querido!
És bela! Tens a perfeita cor da aurora!
Teu coração, entregue a Deus cupido,
Promete amar e fascinar...embora
Tenha sido partido e repartido...
Fascinas!Tens na frente o diadema
Da beleza divina, o anjo amado,
E tens no peito o amor que é meu poema!
Encantas! Teu olhar é terno e doce...
Tens um corpo franzino e delicado
Como se de anjo sublimado fosse!
São Paulo, agosto de 1934 JOÃO NINGUÉM
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” - Prainha, 26 de agosto de 1934
ANO I - NUM. 16
CRUZEIRO ABANDONADO
Fora plantado em divinal matiz
De flores em pomposas jardineiras,
A onde as borboletas tão sutis
Trançavam vôos como fiandeiras;
Adejavam alegres colibris
Balouçando suas vívidas roseiras,
Pousavam-lhe andorinhas tão gentis,
] E hoje é ninho das aves agoureiras;
E um fantasma que o desleixo fez
Coberto com camadas de urupês...
Do seu vigor passado nada resta.
Na soledade a sua tristeza é tanta,
Vivendo como um deus que a tudo espanta
Com seus braços abertos na floresta!...
Xiririca, 9/3/1934
JOÃO RIBEIRO DE FREITAS
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” - Prainha, 25 de Março de 1934
ANO I - NUM. 5
EFEITOS E CAUSA
Esta preocupação que tanto me consome,
Esta desilusão que punge, que entristece,
Esta eterna reserva em revelar teu nome,
Esta descrença atroz que em mim viceja e cresce,
Esta visão que, mal vislumbro, além se some,
Esta vida de mágoa e tédio que envelhece,
Esta espécie de sede, esta espécie de fome,
Esta espécie de pão de que esta alma carece,
-Vem desde aquele dia em que na encruzilhada
Do meu destino mal, a sós nos encontramos
E seguimos, depois, diferentes caminhos...
Trago no olhar insone e na fronte nevada
Os estigmas de um sonho inglório, que sonhamos
Feito de luz, de som, perfumes e carinhos...
Xiririca, 1932
DOMINGOS BAUER LEITE
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 17 de junho de 1934
ANO I - NUM.11
CASAL FELIZARDO
Numa alta região das margens do Ribeira,
Habitam uma choupana, em denso matagal,
Joãozinho e Carolina, o modesto casal,
Que a rir, cantarolar, alegra a selva inteira,
E que, ao nascer da aurora,o belo madrigal
Das Aves multicores, torna cancioneira
A vida solitária e cheia de canseira
Do pobre lavrador, que come e dorme mal.
Por isso é que Joãozinho os seus males espanta
Povoando sua fazenda apenas com a harmonia
Das cordas de um machete e a voz de uma canção.
E, enquanto Carolina alegremente canta
De pressa o tempo passa, e passa logo o dia,
Sem nunca se saber quando lhes falta o pão.
Xiririca, Janeiro de 1935
JOÃO RIBEIRO DE FREITAS
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” - Prainha, 24 de fevereiro de 1935
ANO II - NUM.26.
CONFISSÃO DE POETA
Para alguém...
Não devo mentir agora. Foi verdade,
Que gostei dessa amiguinha ausente,
Mais isso passou...Foi tão de repente...
Que nem sinto a menor saudade!...
Por Deus te juro, minha deidade...
Que passaste por mim tão sorridente,
Deixando meu coração, coitado, contente
A formar sonhos loucos, por felicidade!...
...Nunca amei ninguém até o dia
Em que vi quando passastes tendo ao lado
Um moço bonito com físico de atleta...
Desde esse tempo...E quem diria?!...
Fui aos poucos me tornando enamorado
Da tua alma que formei como poeta!...
Prainha, Maio de 35
IANIGYRA
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, 26 de maio de 1935
Ano II – NUM. 33
PARTIDA
(Para a senhorita Ivone Oliveira, na hora de sua
partida de Xiririca na manhã de 08 de julho de 35)
Versos escritos chorando
Na hora de sua partida,
Como tudo que se escreve
No momento triste da vida.
Versos que fiz numa noite,
Ivone, a pensar em ti.
Versos de amor e saudade
Que já ouviste e sempre ouvi.
Versos do peito arrancados
Quando o peito está em pedaços,
A procurar pela noite
O amparo de amigos braços.
Versos de angustia e tristeza,
Na hora em que tudo faliu.
A estrela que em vão buscamos,
A voz que ninguém ouvia.
Versos...Revôo perdidos
De aves cantando na treva
A esperança que nunca chega,
O sonho que tudo leva...
Versos que vão pelo espaço
Na hora da tua partida,
A chorar como a saudade,
O poema triste da vida.
Versos, farrapos de sonho
Nuvens perdidas no ar,
Mistério da noite triste,
Na noite sempre a vagar.
Versos que ensinam a gente,
As crianças e aos Briareus
A ciência triste e dorida
Que está toda num Adeus.
GODOFREDO RIBEIRO
Jornal “O RIBEIRA DE IGUAPE” – Prainha, domingo-15 de dezembro de 1935
ANO II – NUM. 45
O VERSO
O verso é mais do que
uma pincelada
um sulco,
um traço,
um eco,
um acorde,
um clamor
penetra pelo olhar numa alma
enamorada,
desperta o sonho,
a graça,
o riso,
a mágoa,
a dor;
e que nos deixa o forasteiro?
Quase nada:
Nos olhos um clarão,
nos lábios um tremor...
AFONSO SCHMIDT
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 12 de agosto de 1945
ANO I - NUM. 82
SONETO
Um aljofrado céu ridente em flor,
Debulhava-se em chuva colorida,
Sobre rósea nudez duma querida,
Que rolava incendiada pelo amor.
Momentos tinham que doce langor,
Ficava a cismar toda entristecida;
Outras vezes porem enfurecida,
Despedaçava tudo com rancor.
Por fim ficava como que dormindo,
Por sentir talvez um prazer infindo
Nessa nudez das deusas dos amores...
E as enconchadas pétalas no entanto,
Refloria esse flóreo corpo santo,
Transformando-o num montão de flores.
Xiririca, 12/03/1925
ANTONIO MATHEY
Jornal “O IGUAPE” - Iguape, 25 de abril de 1925
ANNO I - NUM. 33
TEU NINHO
Enquanto sonho com paixão, correm as horas...
A tua imagem não me sai mais da retina.
Tenho a impressão que sintetizas, ó menina,
em teu semblante belo, todas as auroras...
No bucolismo da paragem onde moras,
a tua habitação, simples e pequenina,
lembra-me, ao perpassar da brisa matutina,
um ninho máculo de todas as auroras
Entoando madrigais, roçando na deveza,
embevecido pela tua realeza,
de manhã o astro-rei vem humilde beijarte.
Pela tardinha, o sol, sanguíneo de emoção,
vem remirar saudoso a tua habitação
e, apaixonado por ti, chora, e depois...parte...
Prainha, Maio de 1943
X.P.T.O.
Jornal “O MUNICÍPIO” – Prainha, 16 de maio de 1943
ANO III – NUM..18
UM APELLO!
Este é o título de um soneto de autoria do distinto poeta Domingos Bauer
Leite, de Xiririca, recitado por ocasião de um banquete oferecido pelos
políticos daquela cidade ribeirinha, em 19 de agosto de 1925, ao nosso
homenageado de hoje.Reproduzamo-lo:
A zona em que o Ribeira serpenteia,
Saudando um dos seus filhos eminentes,
Diz, entre riso amigo dos presente:
-Salve o homem que aqui se homenageia!
Bem como, outrora, a luza patuleia
Nasceu de fracos, mas heróis e crentes...
-Combatamos, também, firmes e ardentes,
O mal que a inércia por aqui semeia:
Alma xiririquense, não te cales!
A indiferença é um dos grandes males
Que nos ataram do progresso as mãos...
Vamos!-Esforço para o bem comum,
Vamos!-Que o nosso fito seja um:
-Honrar a Pátria que nos faz irmãos!
Jornal “ O MUNICIPIO” – 11 de abril de 1943
ANO III – NUM.17
PRETENSÃO
Pretendi celebrar tuas formas divinas.
Eu quis cantar esse teu corpo de deidade.
Para satisfazer toda a tua vaidade,
Desfiei, ao luar, líricas sonatinas.
E, minha voz, numa seqüência de
[surdinas,
foi repetindo com gritante alacridade
os teus encantos...Satisfiz tua vaidade
pretendendo cantar tuas formas divinas.
Quão tolo fui eu, vejo agora arrependido,
e agora choro todo esse tempo perdido
em cantar tua voz, teu riso rosicler,
o encantamento enganador do corpo vazio,
deixando relegado a um plano secundário
teu puro coração, tua alma de mulher.
Prainha, março de 1943
X K W Y
Jornal “O MUNICÍPIO” – Prainha, Março de 1943
ANO III - NUM. 16
EXPIAÇÃO
Certamente eu já fui, em outras vidas,
bárbaro algoz de virgens indefesas;
de órfãos fui opressor, tive almas presas
no cárcere das ânsias desmedidas;
castiguei inocentes: mil torpezas
foram injustamente redimidas
por mim; em corpos sãos abri feridas;
dei aos ricos o pão das pobres mesas;
neguei amor a quem mais me queria;
fui perverso, fui mau; a dor sombria
e muda, fiz gritar clara e sonora...
Só deste modo explico o meu Destino,
tamanho azar me vem desde menino
acompanhado pela vida afora...
JOSÉ MINDELLO
Jornal “O IGUAPE” – Iguape, 30 de janeiro de 1927
ANNO III - NUM. 104
DESENCANTAMENTO
Por um país de enganos foste, um dia,
De olhos fechados, caminhando pelas
Regiões de ouro e de luz da fantasia,
Onde as flores brilhavam como estrelas.
Tantas surpresas no teu sonho havia,
Que tu ficavas deslumbrado ao vê-las!
E eis que de estrelas tua mão se enchia,
Tão fácil era a tua mão colhe-las...
Longe dos males das paixões terrenas,
Encantado e sonhando, te transportas
Nessas paragens claras e serenas...
Mas, de repente, as dores que suportas
Lembraste. E, abrindo os olhos, viste apenas,
Que essas estrelas eram flores mortas.
MARTINS FONTES
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 07 de agosto de 1949
ANO V - NUM.239
ANTES DE EMBARCAR...
Sei, amor, que está próxima a partida
E irei além em lágrimas banhando,
Sentindo o coração acabrunhado
No extremo adeus da amarga despedida.
Sei que me vou em mágoas lacerado,
A voz tremente, a face umedecida:
Nas também sei que hei de te ver querida,
Sempre, a fitar-me, tímida, ao meu lado.
E no final deste sofrer medonho.
Por alta noite, em ânsia de algum sonho,
Teu nome afável murmurando anseio.
Hei de sentir...e manso despertando
Debater-se minha alma, palpitando
Na tépida brancura do teu seio...
PRECILIANO CORREIA
Jornal “O MIRACATU” – 22 de Maio de 1949
ANO V - NUM. 227/228
SI...
( A Domingos Bauer Leite, retribuindo)
Si depois de um viver amargurado,
Pleno de angústia e de melancolia,
Pudesse a gente regressar um dia
Aos abismos esconsos do Passado:
E se a gente pudesse
Escolher o Destino que quisesse...
...............................................................................
Creio que toda a gente voltaria
Pelo mesmo caminho desgraçado!
HILÁRIO CORRÊA
(São Paulo)
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 12 de junho de 1949
ANO V - NUM. 231
FILOSOFIAS...
“Desinteresse...esse nome,
melhor fora e não haver.
Vês a terra que nos come?
-Primeiro nos mata a fome,
para depois nos comer...”
“Vês o mar? Não há tão rios
corações como o do mar.
Forma os rios, enche os rios...
-Mas, para que forma os rios?
Para depois os tragar...”
Vês o homem que festeja?
Louva-te a glória e o porvir,
Louva-te a ação bem fazeja...
Mas, para que te festeja,
Para depois te trair...”
“Desinteresse! Não creias,
seja de quem a quem for.
O sangue que tens nas veias,
Veia, de fontes alheias,
Por um interesse – o amor.”
HERMES FONTES
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 06 de julho de 1947
ANO III - NUM. 121
SONETO
Os filhos deles meu amor, tem tudo:
jóias, bonecas e brinquedos finos.
Envolvidos na renda e no veludo,
são belos, intangíveis e divinos.
E tu, meu filho, assim, quase desnudo,
ao léu, exposto a fúria dos destinos.
Não tens ao menos um sapato rudo
para os teus pés doridos e franzinos!
Dorme, me filho, neste duro braço
cheio de calos e de cicatrizes,
mas que nunca cedeu frente ao cansaço.
Espera, filho, espera um pouco mais.
Todos os lares hão de ser felizes,
todos os berços hão de ser iguais.
DJALMA DE ANDRADE
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 09 de Novembro de 1947
ANO III - NUM.149
A TI
Tens um olhar divino e feiticeiro
Em um sorriso ideal e traiçoeiro!
Tua boquinha, pura e virginal,
Tem um perfume suave que inebria,
No teu falar, um pouco de ironia;
No mais, és divinal!
A tua face branca e aveludada
Tem a ternura de mulher amada!
Das que conheço, és tu a mais formosa;
Em ti, eu vejo tudo que é beleza,
E para usar da máxima franqueza,
Tu és maravilhosa!
ALCEU FALLEIROS
Jornal ‘O MIRACATU” – Miracatu, 17 de julho de 1949
ANO V - NUM. 236
OLHOS BONITOS
Eu perdia a noção do tempo e do ambiente:
Olvidava o passado e transpunha o presente.
E vivia o futuro em seus olhos bonitos,
Enfeitiçantes, diabólicos!...
Hoje, se os olhos ponho em sósias dos seus olhos,
· Veludos com que sonho entre espinho e brolhos,-
· A saudade umidece os meus olhos aflitos,
· Tristemente melancólicos...
* * *
E fico a pensar querendo
Rever o seus olhos, sendo,
Apenas, e sem remédio
O horizonte indefinível!...
Isso acontece menina
A que nasceu com a sina
De, para fugir ao tédio,
Ir em busca do impossível!...
DOMINGOS BAUER LEITE
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 25 de fevereiro de 1951
ANO VII – NUM.320
CANÇÃO PRIMAVERIL
HILÁRIO CORREA ( Especial para o “Miracatu”)
Vês? É setembro. Meu jardim se anima.
Um ipê se antecipa na florada.
Passam aves chilrando lá por cima,
há borboletas colorindo a estrada.
É a primavera...Aos poucos se aproxima,
vem suave e lenta, num andar de fada...
Trás novo alento para a nossa rima
e esperança a toda alma apaixonada.
Nesta quadra de amores e alegrias,
seja enquadrado em flores e harmonias
o cenário feliz em que me vejo:
ir, sob a copa dos ipês floridos,
a mão na tua, os passos confundidos.
rumo ao santo mistério do teu beijo!
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 11 de setembro de 1949.
ANO V - NUM. 214
UM MENOS UM
Éramos dois,
querida.
Depois,
ficamos sendo três.
Em seguida,
golpe tremendo!
Ficamos sendo
dois outra vez.
Tempo adiante,
Partiste,
mar a fora.
Pungente instante!
Momento triste!
Agora,
separados,
afastados,
cada um de nós é um!
Um? – Nenhum.
Setembro de 1935
AFONSO LOPES DE ALMEIDA.
Jornal “O MIRACATU” - 08 de outubro de 1950
ANO VI - NUM.299
Poeminha escrito no carro bufete da Santos – Juquiá
(especial para “O Miracatu”)
De Pedro de Toledo a Itariri,,,
Foram quatro as palavras que ela disse,
quatro as palavras que eu lhe respondi.
Quatro gotas de sangue que saísse
ao golpe do punhal da despedida.
De nossos corações cada batida
ouviu-se de Registro a São Vicente
e fez ressoar no oceano tristemente;
envolvendo até o Vale do Ribeira
cobriu de espessa mágoa a zona inteira.
Tudo, tudo vibrou com nossos ais:
o trem...o mar...a serra...os bananais!
Enlutou, nossa trágica Odisséia,
Miracatu, Iguape e Cananéia.
Foram quatro as palavras que ela disse,
quatro foram aquelas que lhe disse,
a causa de tantos ais,
a causa de tanta dor.
Chorando ela falou: “Não nos veremos mais!”
Surpreso, eu falei: “Adeus, meu grande amor!”
HILÁRIO CORREA
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 05 de novembro de 1950
ANO VI - NUM. 303
ILUSÃO ÓPTICA
Aquele casarão assombrado
guarda, com avareza, uma menina,
cujo semblante belo e, a cristalina
voz, põe-me o coração apaixonado.
Uma janela, ao fundo do sobrado,
vem às vezes mostrar, muito em surdina,
o apaixonante vulto de menina.
Depois...vem o quintal todo plantando...
Uma palmeira lépida flabela
ao vento...Eu vejo apenas a janela!
E, quantas vezes, tenho esta ilusão:
Que o sol nasceu naquele casarão
Tão somente porque foi meu olhar,
com os olhos da menina se encontrar!
Prainha, Agosto de 1943 – ijl
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 20 de setembro de 1946
ANO II - NUM. 91
ENVELHECER SOZINHO
Em ânfora falaz, ele bebeu ávido
O néctar da ilusão,
Da mentira e do pecado,
Do orgulho e do desprezo!
Percorreu caminhos diferentes,
E estradas florescentes,
Mas não amou, nunca uma mulher!
Coração avaro, -no seu peito,
Jamais agasalhou um outro coração...
Partiu sozinho e volta só;
- A solidão já se tornou afeito.
Mas um dia, (vai bem longe esse dia...)
No ambivio da vida, ele ficou indeciso
E pertubado regressou.
- A sua fronte que um sonho vão manchou
Tem agora a marca da velhice!
E vem, lentamene regressando,
Voltando por esse mesmo caminho
Que de manhã ele percorreu sem ver,
Para chorar, agora, entristecido,
A dor de envelhecer sozinho.
Xirirrica, 1945 - João Mendes da Silva
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 20 de janeiro de 1946
ANO II - NUM. 55
PITONISA
Ciganinha,
Você não disse bem a verdade
Quando tirou a minha sorte.
Você pintou a minha vida
Com as cores da alegria:
Caminhos largos, cheios de flores,
por onde passaria a minha mocidade
espalhando risos, conduzindo amores!
E, sabendo que é humano o medo de morrer,
Quis ainda nisto me favorecer
E colocou bem longe a morte...
Ciganinha,
Você não disse bem a verdade
Quando tirou a minha sorte.
No quadro da minha vida,
Não aparecem aquelas tintas bonitas
Que eu vi na sua palheta mágica de predições!
E a minha mocidade, envelhecida,
Vem sangrando os péS por tortuosos caminhos
Onde, ao invés de flores, eu só vejo espinhos;
E, em cada encruzilhada, um amor se despede,
E, eu tenho que sorrir para fingir-me forte.
Ciganinha,
Você não disse bem a verdade
Quando tirou a minha sorte.
O que você predisse, não tem dado certo.
Por isso, eu temo que a morte,
Que a sua bondade colocou bem longe,
Venha vindo perto!...
DOMINGOS BAUER LEITE
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 22 de setembro de 1946
ANO II – NUM. 90
NO PARANAPANEMA
(Impressões de guerra. Escrito em 1932)
Aqui não canta o sabiá formoso,
Nem passarinhos de formoso canto.
O Paranapanema vai, choroso,
Rolando de um recanto a outro recanto.
O Sol não aparece luminoso
Porque tem medo que nos cause espanto.
E dorme, dorme, como um preguiçoso,
Todo coberto de lutuoso manto.
Não voa a alegre borboleta branca
Neste sangrento e desditoso campo,
Que só de luto e sangue está coberto.
A noite, nem sequer um pirilampo
Brilhando aqui e ali a treva espanca.
Tudo é deserto aqui neste deserto.
BENJAMIN CONSTANT NETO
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 14 de outubro de 1945
ANO I – NUM.41
DIANTE DE UMAS RUÍNAS
Uma Tapera...A vida já vivida,
Hoje em sombras e escombros sepultada!
-Esperança entre cânticos erguida.
-Saudade na poeira amortalhada.
Para construir-te, ó casa abandonada,
-Talvez o sonho todo de uma vida,
Quanta dor em segredo recalcada,
Quanta ventura apenas pressentida.
Mas conta-me, Tapera, o sonho extinto!
A história do casal, do imenso afeto
Que um dia floreceu em teu recinto...
Crianças vindo com estardalhaço,
Enquanto ao lado, no jardim discreto,
Alguém fremia no primeiro abraço.
GODOFREDO DE OLIVEIRA RIBEIRO
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 27 de maio de 1945
ANO I - NUM.21
BANDEIRANTE DO SONHO
( Para Godofredo)
Ele entrou na vida por arcos triunfais,
Coberto de flores, empunhando a lira,
E vibrando seus cantos eternais.
Nas lendárias pragas românticas do Sul,
Quanto amor lhe brotou do coração exul!
Quanto sonho sublime ele criou,
Ajaezando de esperanças imortais.
Ao partir, emplumado de ideais,
-Bandeirante do sonho, ave viajeira,
Pássaro azul do Vale do Ribeira,-
Não pensou sequer na tristeza do regresso...
Eu vejo agora do sonho o velho profitente,
Com o olhar perdido na distância
Fitando as cores fugitivas do poente.
E cansado e velho e desiludido,
Fica vivendo de recordação,
E escuta sozinho o nostálgico rumor
Da saudade a eterna romaria,
Que do coração vai subindo ao pensamento
De quem entrou na vida por arcos triunfais.
Xiririca, 1943 JOÃO MENDES SILVA
( Transcrição da “Folha Popular” de Capão Bonito)
Jornal “O MIRACATU” – Miracatu, 03 de novembro de 1946
ANO II - NUM. 96
PESQUISA REALIZADA POR: LAERTE DE CAMARGO ARAÚJO
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