Culpa
Aquele vento que vinha de frente
Camuflava o bafo da morte
Em meu encalço,
Era ela que tecia de toda a visão
Eu a vi tão real
Eu a vi
Era meu pai no paredão
E quantos fuzis em sua direção
Aquele homem e aquele momento
E quantas mãos inseridas em seu rosto
E eu precisei chorar no seu lugar
Ao tempo que morria
Eu vi
Meus doze irmãos no corredor
Esperando a hora abraçados despedindo-se
Desculpando-se
Notaram-me e perguntaram da mãe como passava,
Precisei mentir
Pois morrera pelos doze na prisão da pena só
Chorei por eles também
Homens recolhidos pendurados em gaiolas da consciência
Escorrem dor agora
Pois amanheceu, o homem que veio do barro
Não poderia participar da pedra.
Renato Cavalheiro
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