TROVAS CAIPIRAS
Nos sertões do alto Juquiá, em um fandango onde eu me achava
Cantava um violeiro, quando a elle se chegou uma mulata e pediu-lhe
que respondesse em versos, e ao som da viola si beijar era crime, si o
beijo era peccado. O nosso emprovisador caipira, não pateteou e retemperando
o pinho, vociferou:
Um beijo não é crime
Nem nunca foi pecado
Pois um beijo inté ridime
Arrufado namorado.
O beijo puro e nobre
De lábios como os teus
É esmola dado á pobre
Empréstimo feito a Deus
Mesmo o beijo que arrebata
O que dá maió ventura
Que é beijo da mulata
Cum abraço p’ra sentura...
Sendo dado cum amo
Que nasceu no coração
Sendo assim num é peccado
Inté é vertude e sarvação.
Assim o beijo nem crime
e peccado nunca é
Pois o beijo inté redime
Os peccado das muié
Si beijo fosse crime
condenado pelo eterno
As muié da terra firme
tavam todas no inferno
Mas o beijo que é subrime
que encanta, quase mata
É aquelle que nos imprime
uns beicinhos da mulata
esse beijo, aqui lhe digo
põe a gente em boa paz;
de-me um desse por castigo
Pois nem posso cantá mais
Saruva (Jornal O Iguape 1940)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário