NO EU DO POETA de DANUBIO FIALHO

Por que, ao leitor,

Deveria interessar o que se passa

No pequeno eu do poeta?



Bagagens

Conduzidas há centenas de anos,

Ainda em lombos de camelos

E, nelas, poesias, quem sabe

Não reveladas,

A bem de preservar-lhes

[a pureza original?



Num precioso garimpo

Pelo eu do poeta,

Encontraria, talvez,

O que ainda não foi dito,

Contrapondo-se à máxima:

“Tudo já foi dito”,



Ou talvez um baú,

Qual tumba faraônica,

Onde estaria escondido

O sorridente esqueleto

De um antigo amor

[que nunca veio a lume?



Quem sabe interessaria

O próprio Egito,

Guardado em uma caixa de fósforos,

Displicentemente atirada a um canto,

Ainda com o palito que pôs fogo ao Sol,



Ou o legendário poeta e filósofo,

Omar El Khayyám,

Em uma taberna

Depois de fazer as pazes com Allah,

Longe das vistas de Marco Antônio,

Bebendo um vinho rosado

Na companhia de Cleópatra

E deste poeta?



Talvez encontre Abraão

[pedindo perdão a Sara

Por ter explorado sua beleza,

Entregando-a ao Faraó

Em troca de segurança e fortuna.



A grande novidade

Seria vê-lo desculpando-se

Com o Faraó

Por ter-lhe mentido

Que era irmão de Sara

E, arrependido,

Devolvia-lhe os bens que recebera

(bois, ovelhas, jumentos, camelos,

[escravos e servas);



Da mesma forma

O próprio Júpiter,

Deus de todos os Deuses,

Ajoelhado ante Juno

- arrependido em lágrimas –,

Desfiando todas as ninfas

E magníficas mulheres

Que possuiu, a bem

- ou não -,

De povoar a Terra.



Talvez estimule a imaginação do leitor,

A ponto de ver Jesus Cristo

Falando para o seu bordão

No Jardim das Oliveiras,



Ou o leve aos conflitantes

E jamais confessados

Pensamentos dos eunucos

Quando do exercício de suas veladas

E capengas funções.



Alguma novidade é possível...



Quem sabe,

Nesta sondagem,

Encontre, inesperadamente,

Uma misteriosa caixa de guardados,

Entre os quais

Lantejoulas e lança-perfumes

(desconhecidos por Freud),



Ou uma porta

Que conduza ao caminho

Dos segredos do cio

E seu calendário,



E, bem,

A um reservatório de lágrimas,

Ao lado,

O armazém das dores,

Ou ao desvio do inferno,

Onde, por um vintém,

É dispensada a confissão

E o arrependimento.



Quem sabe encontrasse,

Finalmente,

Os mistérios de Deus,

Esquecidos no bolso de um velho capote,

- Preto -

Pendurado em um cabide

Cheio de teias de aranha?



Ou a bíblia das bíblias

- carcomida por traças -,

Escrita de próprio punho

Revelando o dia do julgamento

E a prolatada verdade.



Por certo encontraria

No fantástico genoma do poeta,

Os eus que o precederam

- todos reunidos -,

Em torno de uma festa

Regada á champagne

- a verdadeira -,

E acompanhados, como sempre,

De encantadoras mulheres

- suas musas -,

Gritando um hip...hip...hurra,

Em homenagem ao eu do poeta

E à promissora genética.




Querido amigo Matsuda! O poema "No Eu do Poeta" é um daqueles que, como já disseste, valeu à pena escrever. Está inscrito no Concurso do Santander Cultural e Banco Real. Envio-te uma cópia ao mesmo tempo em que o dedico ao "Vale do Ribeira" para que os leitores paulistas divirtam-se e façam um comentário no site do Talentos da Maturidade, "No Eu do Poeta". Conto com teu pessoal e inestimável comentário. Um grande abraço, amigo Matsuda, do Danubio.

5 comentários:

  1. Obrigado! Nós do Vale do Ribeira agradecemos ao Eu do Poeta Danubio pela consideração!!!

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  2. "Tudo tem o seu tempo, e tudo o que se faz debaixo do céu tem sua hora." (Eclesistes, 3;1)
    Amigo e Colega Danubio: "No Eu do Poeta" não podemos entrar porque ali estão os mistérios da alma e somente Deus tem o conhecismento e a chave desse mistério que cada um carrega, mas podemos deliciar nossas almas com a essência que dali sai, como é o teu peoma. E como diz o versículo, tudo tem seu tempo, não o tempo do homem, mas o tempo de Deus. Por isso, o teu poema fluiu no tempo certo, que corresponde ao amadurecismento exemplar de tua veia poética e literária. Meus parabéns por este magnífico poema e pelos outros que de tua lavra eu já os li. Que Deus, sempre no tempo Dele, abra o teu "Eu poético" e assim seremos nós brindados com perólas como "No Eu do Poeta". Forte e saudoso abraço do amigo, Dalton

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  3. Danubio meu amigo, muito bom ,alias, como todos os que ja tive oportunidade de ler. Parabens
    Jussara

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  4. Parabéns, Sr Danubio ! é gratificante saber que ainda temos bons poetas num mundo entorpecido por coisas banais, e realmente, tudo não foi dito, pois só o poeta sabe com sua a sensibilidade de sempre, trazer a tona de dentro do seu eu algo novo que nunca foi dito.

    Abraço
    Felipe casser

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  5. Parabéns Danúbio - Eloiza Dias

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