Miracatu

o que te lembra é o que é vivido.
Incrustada no meio das montanhas,
bebendo as águas das minas,
escutando os gritos dos micos
na rua que sobe o morro
do outro lado da pista
perto da entrada da caixa d’água.
Noites de neblinas que botam a lua na sua cor
de gema amarela na rua do Faú à noite,
ali perto da Fazenda Rosária
em meio àquele sereninho frio
da madrugada de inverno,
que todo mundo lá conhece.
Miracatu , o que te lembra é o amor.
Amor dos jovens à procura.
Piscinas azuis e corpos.
A necessidade de ir ao Som.
Som de vaga-lumes cintilantes
na descida do morro.
Som de panela fervendo
com a feijoada na casa do Julhão:
-Traiz a caipirinha aí.
Aguardente de cana e limão.
Marimbondo da Paraíba
(essa pura...tempo da casa do norte).
Êh, Julhão, o tempo, irmão.
Nestor. Ah, se não fosse o boldo.
Miracatu o que te lembra são as brincadeiras
brincadeiras do tempo
bebida à noite pelos bares a fora.
Miracatu à noite quase é bar.
Farmácia, mistura, segredos.
Ê bebida brava.
Água e som.
Brincadeira de criança. Nóis lá do morrão...
quase tudo mineiro. Índio mineiro.
Uai, porque mineiro pobre se não é branco
quase tudo tem sangue de índio e de negro.
Né não ÍO ?
se te perguntarem de quem cê é filho,
você é filho do seu pai,da sua mãe
você é filho da terra
O que valia era a ida e a vinda
e o próprio sentir.

(do livro "Vento Caminhador")
déco - Araraquara 27-04-99

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