Mais crônica

Referências antigas e descobertas de outros caminhos

Osvaldo Matsuda

Neste mês quente de fim de outono de junho de 2005, num fim de semana fui ao Centro de São Paulo na minha caminhada rotineira. Estava no Viaduto Nove de Julho quando um fiapo de incômodo se iniciou, o fiapo de incômodo continuou aumentando ao passar na frente da Câmara Municipal de São Paulo no Viaduto Jacareí e ao chegar a Rua Maria Paula o incômodo (incômodo mesmo, não um fiapo de incômodo!) se transformou numa ansiedade de mudar o meu eterno trajeto da caminhada rotineira. As minhas referências antigas apontavam em direção a Praça João Mendes e o Bairro da Liberdade. Enquanto a ansiedade persistia, eu caminhava no rumo previsto sem saber que rumo seguir. Estava vencendo o Viaduto Dona Paulina, sobre a Avenida Vinte e Três de Maio, quando algo chamou a minha atenção. Um senhor idoso passou rapidamente por mim e enquanto seguia em frente, interpelava quem vinha em sentido contrário, pedindo ajuda monetária. Achei que conhecia aquela figura de outros tempos, quando era comum associar pedintes rotineiros como pedintes profissionais, desses que existem hoje nas esquinas, caminhando pelas calçadas... Lembro-me recentemente de uma senhora que pedia ajuda para passagem de ônibus (cheguei a ajudá-la, só percebi o engodo quando ela tentou novamente comigo, sem mudança de método e de destinatário). Os pedintes profissionais de outros tempos se tornaram ricos, donos de castelos ou similares. Era o que se ouvia dizer por aí. E os pedintes atuais quem são? Ouço dizer que algumas senhoras emprestam filhos pequenos para senhoras pedintes profissionais que pedem ajuda em esquinas... Será verdade? Parece que fazem isso como meio de vivência, ou melhor, já ouvi dizer até fazem parte do terceiro setor, são artistas conceituais no exercício de sua Arte ligada a uma ONG qualquer, defendendo o meio ambiente, tornando as ruas mais humanas... No ímpeto seguinte tentei seguir o senhor idoso para descobrir a verdade. Mas o senhor idoso sumiu entre os transeuntes, assim tive de desistir do intento.
Continuei meu caminho, andei pela Avenida Liberdade, desci pelo Viaduto Condessa de São Joaquim, continuei andando pela Rua Condessa de São Joaquim e atravessei a Rua Brigadeiro Luiz Antonio, ali bem próximo do Castelinho. Aquela ruazinha descendente era novidade para minhas antigas referências. Será que me levaria a um bom destino? Pelo menos não parecia ser uma rua sem saída. Ia descendo por ela, mais tarde descobri o nome, Rua Vicente Prado, quando cruzei com um táxi branco que vinha em sentido contrário bem lentamente. Olhei o motorista que sorria (acenava?). De repente reconheci o sujeito. Era o pedinte idoso! O que estaria fazendo naquele táxi? Havia roubado? Não parecia. Quando fiquei mais calmo, ponderei, deve ser a segunda atividade. Conheço muitos sujeitos que tem um trabalho qualquer, escriturário de uma empresa, por exemplo, que nas horas de folga trabalha como taxista, para engordar sua renda. Então, o atual pedinte profissional também precisa ter uma atividade extra? Acho que é a grande concorrência dos tempos atuais que nos força a manter as antigas referências e a descobrir outros caminhos.
Continuei a descer a estreita Rua Vicente Prado, depois intuitivamente segui à direita (minhas referências antigas reconheceram o local alguns momentos após), depois segui à esquerda. Caminhei pela Rua Major Diogo, depois Rua Major Quedinho até alcançar o Viaduto Nove de Julho novamente, continuando assim minha caminhada rotineira na descoberta de outros caminhos.
São Paulo, 13 de dezembro de 2005.

Um comentário:

  1. Pois dia desses estando na Brig. L. Antônio sentido Paulista, na altura do Castelinho, andando de moto, num canto de olho vejo que passei por uma rua estreitinha e diferente. Não deu outra, em raciocínios e conclusões rápidas (pilotando uma moto muitas coisas precisam serem rápidas) decidi explorar aquela estranha rua. Entrei na rua Maj. Diogo e vai daqui vai dali, consegui percorrer toda a diferenciada rua Vicente Prado. Estou há 4 anos morando em São Paulo e sempre que posso, mudo meus itinerários na descoberta de novas visualizações dessa imensa cidade. Gaucho!

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