Crônica

Mala Preta


Noite chegando ao fim deste 21 de dezembro de 2004. Estou no auditório da Câmara dos Vereadores, da maior bancada da América Latina no dizer de um de seus membros. Então num momento de revolta e desabafo, um tão visitante quanto eu (pelo menos estávamos no mesmo auditório) gritou Mala Preta! Foi severamente admoestado pelo nobre presidente que presidia uma das muitas adiadas sessões para aprovar a desocupação da área onde hoje sita a E.E. Martim Francisco. Área nobre da cidade de São Paulo de grande valor comercial. Um filme passou pela minha mente, enquanto discutiam num debate de idéias, se votariam contra ou a favor da memória de sessenta e seis anos de história de uma velha escola que mantém a demanda com alunos vindo de mais de cem bairros deste município.
Nas primeiras cenas volto ao passado recentíssimo, quando a imortal Professorinha que vou denominar Marocas José muito ressentida, mal e parcamente paga pelo dinheiro do povo no dizer dela mesma, resolveu que pela primeira vez deveria ir ao plenário lutar por seus direitos e manter aquele espaço democrático e público, já que nem sempre os que são eleitos pelo voto popular agem a favor da população e da democracia, e, eles são muito bem pago pelo dinheiro do povo para assim fazerem. Indaguei a Professora Marocas José se suportaria todas e quaisquer represálias que adviriam deste ato e que naquele momento pareceu-me ser a tal Mala Preta. Ela disse que sim mesmo reconhecendo a sua pequenez frente ao poder dos poderosos que regem os nossos destinos e vidas. As cenas seguintes vieram de momentos atrás quando um nobre vereador desta Casa de Leis (no dizer deles mesmos) referiu-se àquele projeto de lei como um erro político do executivo. Seria a tal Mala Preta votar num erro político? Outras cenas em planos detalhes surgiam em debates feitos pelos representantes do Legislativo Paulistano, ora de grandes empreendedores privados envolvidos na permuta do terreno público, ora de interesses partidários, ora da apresentação de novos documentos que apresentavam dúvidas e mais dúvidas. Os planos detalhes apontavam para a tal Mala Preta? Na cena final (que alívio!) sonhei que a Mala Preta nada mais era que o tombamento da E.E. Martim Francisco, idealizado por um nobre representante da população no debate de idéias deste filme mental que assisti.
SP, Mala Preta, madrugada de 22 de dezembro de 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário