Em certa cidadezinha, cujo nome não vem ao caso, foi instituído o Dia do Político Honesto, uma brilhante proposta do edil Patápio Junqueira. Grande festa seria promovida na cidade, com a presença de famosos artistas e a participação de notáveis políticos. Todos os preparativos foram feitos com esmerado zelo e elevado senso cívico, afinal seria a data mais importante do lugar, maior até que a festa da Santa Padroeira.
O esforçado prefeito Benvindo Brigante mandara confeccionar até mesmo um reluzente troféu banhado a ouro, com o busto do senador Gervásio Bicão, ilustre varão da terra, que seria ofertado ao político que preenchesse todos os requisitos necessários: honestidade, dedicação aos interesses e respeito ao dinheiro públicos.
Bem se pode imaginar a repercussão que a instituição desse troféu causou nos meios políticos nacionais. Quem não gostaria de arrebanhar tão cobiçado troféu? Que político não desejaria ser escolhido o mais honesto do Brasil, com direito a comenda e tudo, instituída pela Venerável Ordem dos Cavaleiros Políticos Honestos?
E chegou a data tão esperada.
A cidadezinha foi invadida por gente de todo lado. Era jatinho do Congresso, era helicóptero da Assembléia, era automóvel de chapa branca. Nunca se vira tanto político junto, nem mesmo quando do enterro do senador Gervásio Bicão – esse venerando cavaleiro andante da moralidade nacional –, anos atrás.
Dentre os mais sérios concorrentes ao troféu e à comenda, uns acreditavam que seria escolhido o deputado Eslávio Creonte, que viera ao evento em vários helicópteros da Assembléia, acompanhado de cem amigos. Outros garantiam que o senador Prudêncio Dantas arrebataria o título, afinal tinha muitos amigos – trouxera quase duzentos em jatos do Congresso.
O governador Gusmélio Fonseca também era dos mais cotados, não obstante ter trazido ao evento somente cinqüenta amigos, que lotaram apenas quinze automóveis oficiais. As opiniões dividiam-se, os partidários desse ou daquele procuravam defender o retilíneo caráter e o elevado amor à causa pública de seu político preferido.
A missão do júri seria das mais espinhosas. As gorjetas e as promessas de emprego eram as táticas mais utilizadas pelos pretendentes, não que eles pretendessem comprar os jurados, isso não, apenas queriam demonstrar a sua admiração por esses homens tão sensatos, que tinham a incumbência de escolher o político mais honesto do país.
E chegou o final do dia.
A festa fora um espetáculo memorável; agora, era a vez de o júri decidir. As atenções todas se voltaram para o palanque da mesa julgadora. Os políticos continham a respiração, enxugavam o suor do rosto, a expectativa era geral. Finalmente, o presidente da mesa, após cumprimentar a todos os participantes, falou ao público. E, para o espanto geral, comunicou que o prêmio não seria concedido.
É que nenhum dos candidatos conseguira preencher os requisitos necessários...
(JORNAL REGIONAL, nº 811, de 6-2-2009).
GOSTEI POR DEMAIS, PESSOALMENTE DESCONHECIA ESSA SUA VEIA SATÍRICA, PARABENS E RIPA NA XULIPA.
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