Renato Cavalheiro o transgressor!


RENATO CAVALHEIRO


Renato Cavalheiro nasceu em Miracatu em 11 de julho de 1965,sendo o terceiro de uma família de 12 filhos. A partir dos 11 anos Renato passou a sofrer os efeitos de uma doença degenerativa que lhe custou 80% de sua visão, porém essa deficiência não empediou Renato de transformar-se num transgressor, um poeta sempre incomodado com as regras e limites, dono de versos fortes, porém refém do lirismo caiçara,da influência da soberania da natureza do Vale do Ribeira.
Renato foi um dos participantes do movimento " Dissipação visual" que culminou com a formação de vários poetas e artistas plásticos em Miracatu nos anos 90.Renato usa a musicalidade de palavras avessas em textos poéticos,neologismos,a crítica direta e a metafísica no uso do cosmo como um ponto de fuga.

ME DEIXA DORMIR

De alguma forma
voltei ao passado
queria saber do que era acusado

Se devi
já tinha pago
com uma adaga
decaptado

A canção para os mortos era um fado

Qual a origem dessa esfinge
seu ároma é todo gástrico
ver o ermo matamórfico
antagônico das sombras

Deixem-me dormir por mil anos
suplantar o silêncio da morte
muito além do sono dos justos

Seu cárcere seu sarcófago
eis o topo dessa hierarquia
mas a vida ainda é vazia

Alicia sua mãe
alucina sua pátria
meus pés esse pó
são um só
coadjuvante sou eu
e é tempo de matar!

RENATO CAVALHEIRO



O HOMEM ÉGO MASSA

Corpos explodem para um instante sem limite
o milagre da morte do tempo
como voltar para casa remando em gritos do nascer?
um sorriso nebuloso
sementes sequiosas
entre os focos salientes
viandantes do se negar
pedras da noite
o aroma do amor
cega sarauei escala em repouso
sobre uma esfera sem ossos
nossos ódios demolidos
semens sem ossos sobre folhas
cintilantes em chamas de carne
fusão em rostos de sombras
sentido do ser
o que vem após nós?
regeneração em marcas explode nossa deficiência,
Quando uivávamos na montanha
quanto toda água fervia na terra ainda criança
quando não havia carne
não havia lei para punir a gravidade
então toda a natureza chorou
após ter vencido ao homem
o rastro do sol sobre a solitária água
planeta morto arrastado pela cauda do cosmo,
Missão cumprida!

Renato Cavelheiro

MULHER


Ela me expôs seu plantel de dores
e retirou dentre elas a mais maléfica
arremessando-a em meu ser o pior inferno,
feito hálito das egípcias mumificadas.
Sim.Desossou-me de toda a paz
afogou-me em sorrisos desesperados
Fez-me ira cambaleante
O que há sobre mim agora?
busco esse fundo de verdade vendada
exponho meus últimos braços
dentre os hansenianicos desconvalescido
para que a razão venha
venha ricocheteando no desfiladeiro da memória
venha pousar em mim
arrastando-me daqui
seguro por essa navalha de múltiplos cortes,
e os dedos?
eu os perderei mendigando razões
encarcerando todo o líquido do globo ocular
dissolvido sobre a película da videira
o que faz separar a carne da madeira
sobre o fogo da dor
Mulher!

Renato Cavalheiro


Obs- Os poemas acima são da futura produção literária sobre o
poeta Renato Cavalheiro Chamada "Aurora e a Ira".







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