BUMECATI

OBRA 23 - BUMECATI



Voltando para Miracatu em final de outubro de 1989 com objetivo de estabelecimento na cidade, uma grande saudade invadia o meu ser, ao mesmo tempo muita apreensão. O momento da volta dirigindo o fuscão branco é inesquecível. Conseguiria reunir o passado e o presente da minha vida de forma positiva? Havia um diálogo mudo com minhas lembranças, mas também com a Natureza exuberante que se apresentava em torno da Rodovia. As minhas lembranças eram de coisas que não existiam mais, porém a Mataria do Vale do Ribeira estava ali, meio degradada é verdade, mas verdejante como dantes.
Estabelecido e acertados os detalhes da mudança comecei minhas atividades artísticas. Como meu suporte era pintura, iniciei com pintura. Tão logo iniciei o trabalho percebi a necessidade de incluir este mundo em minha volta nas pinturas de maneira Bumecati, isto é, duma vez, rapidamente, apressadamente, sem perda de tempo. Iniciei o que foi a minha primeira tentativa no processo artístico desenvolvido na região. Embora o suporte tenha sido pintura, acho que fui feliz ao misturar na pintura elementos e materiais locais. Foi em Bumecati que percebi que a Arte que desenvolveria dali em diante não teria necessidade de suporte. Eu teria opções, poderia usar qualquer suporte, individualmente ou em conjunto, ou simplesmente, não usar, inventar. A Arte estava ali em toda parte, bastava captar e expressar! Em Bumecati era possível sentir saudades de coisas inexistentes, viajar em universos desconhecidos, experimentar a vida eterna, fazer parte de um refúgio natural, e, no entanto, fazer arte contemporânea. Bumecati era a janela escancarada, a porta aberta para a nova década que viria. Bumecati era o meu sonho de fazer Arte no Vale do Ribeira, fazendo do Vale do Ribeira Arte!



(Miracatu, Outubro de 1989)

Texto extraído do livro: Arte Sobra de Resquício Natural e Adendo / Autor:Osvaldo Matsuda

Nenhum comentário:

Postar um comentário