Sejam fecundos e multipliquem-se!


Escrever é parir idéias. Os homens que me perdoem se a comparação não os alcança plenamente, mas é a mais pura verdade: o processo criativo da escrita está intimamente ligado a gestar, a dar a luz, na felicidade e na dor, e não necessariamente nessa ordem.
Para uns, depois de colocada a primeira “semente”- ai que metáfora ingênua!- a gestação é quase instintiva, rápida, uma tempestade mental que resulta naqueles partos que acontecem em casa porque não dá tempo de chegar ao hospital, mas mesmo depois da sensação de ter psicografado o texto, ainda é preciso cuidar dele, limpá-lo, tirar o que não é necessário, ver se está tudo bem, para então apresentá-lo a todos.
Para outros a gestação é mais lenta, as idéias vão surgindo aos poucos ou vamos buscado-as dentro de nós, nos outros, no mundo, ajeitando qual o melhor modo delas nascerem, de se organizarem. E nesse processo de criação, parto e gestação sempre se misturam, pensamos, escrevemos, pensamos sobre o que está escrito, arrumamos algo, tornamos a escrever e vamos ansiosamente vendo a carinha do bebê se formando, desejamos que ele nasça, que o texto fique pronto logo, prazerosamente angustiados entre a vontade de vê-lo e a preocupação com seu estado.
Depois então que “o bebê” nasce, que o texto está mansamente deitadinho sobre o papel (ou berrando sem parar) começamos a olhá-lo, a ver se parece conosco, se há alguma coisa a fazer por ele – e sempre há - nos orgulhamos de mostrá-lo a todos, alimentamos para fortalecê-lo, explicamos como foi difícil o parto, corremos ao médico para que veja se tudo está bem, pedimos a ajuda de quem já tem filhos para nos ensinar a cuidar, damos remédio para sanar alguma dificuldade...
À medida que nosso rebento cresce, é lido, interage com quem convive, como uma criança conhecendo e principalmente, no caso do texto, sendo conhecido, dialogando e contribuindo com o mundo. Como um filho ainda, carrega muito de nós, mas já não nos pertence, vai aprender e ensinar a cada encontro com o leitor, leva nossas marcas, mas tem vida própria.
Muitos têm medo ou preguiça de se entregar a essa experiência, por ser trabalhosa, exigir empenho, responsabilidade, por implicar uma certa exposição de quem somos e como pensamos, mas esquecem ou não conhecem o prazer de ver uma criação sua ganhando o mundo.O próprio processo nos faz experimentar o sentimento de superação, de que estamos nos relacionamos de forma criativa com o mundo a nossa volta.
Por isso, apesar da ordem que temos ser: parir com dor, (metafóricamente, é claro), sejamos fecundos, multipliquemos e enchamos essa terra de boas idéias e que elas não fiquem apenas no papel, porque não sei se vocês repararam, mas essa Terra anda muito precisada delas.

Paloma dos Santos

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