MEU CANTO

Eu falo das terras de cá
como quem reconhece aruanda
Eu lembro Ivaporunduva
como um dia eu vi Palmares
Eu falo em Biguazinho
e danço em Morro Seco
como um dia eu dancei em Niger.

Eu choro em Nhunguara
como chorei no tombadilho
a música triste dos ventos nas velas
Meu tambor não fala e nem lamenta
mas cê sabe que nóis nunca deixô de ser preto
nem memo tocando viola
nem memo a rezá ladainha
nem memo a pagá romaria pra São gonçalo,

Os preto daqui é gente deferente
gente antiga, sem picuinha
nois nunca mais vorto pra lá
é por isso que eu alembro
e recordo das terras de lá
como Sapatu
como Abrobrá
e com uma réstia de luz
com sor de vaga-lume
eu canto os Cangume
e vejo no céu de Maria Rosa
Maria cráudia
Bombas,
pra quem se alembrá,

Agora ja vou me indo
canoa partindo
a juizo da água
do tempo que gira e gira e gira
vou lá pro Mandira
atrás de Inhá Arzira
uma nega de flô.
Assim eu canto Mandira
e canto Palmares
como o véio ganga cantô.

JULIO CESAR DA COSTA

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