FRANCISCA JÚLIA EM CABREÚVA


Francisca Júlia da Silva.


Durante os anos em que viveu na cidade de Cabreúva (SP), junto com a família, Francisca Júlia publicou na imprensa algumas cartas anunciando que ajudava a sua mãe, ensinando versos às alunas, como preparação para o exame escolar. Na sua casa, era ela quem executava os serviços domésticos, inclusive a cozinha. Sua vida era simples e sem luxo. Tomava banho no rio, usava roupas simples, e, quando desejava coisa melhor, viajava até a cidade de Itu (SP) para adquiri-la.

A vida íntima da poetisa, antes de seu casamento, está envolta em névoas. Francisca Júlia era discreta e não consta que tenha deixado um diário onde anotasse suas intimidades amorosas. Mas é fato que, em 1906, teria se enamorado por um belo rapaz, em Cabreúva. A história adquire requintes de melodrama, levando-se em conta que diziam que o jovem, formado em Farmácia no Rio, não era muito certo das idéias. Conta-se que, certa ocasião, Francisca Júlia ouviu uma conversa no portão onde falavam que seu amado era doido. Ela ficou de sobreaviso. O rapaz jurou-lhe que tinha suas faculdades mentais em perfeita ordem. Mas não surtiu efeito. A poetisa preferiu evitá-lo e ficar sozinha, preterindo essa que teria sido a sua primeira paixão.

Há indícios de que Francisca Júlia teve um romance com um famoso intelectual. Mas não teria durado muito e ele lhe devolveu as cartas que ela escrevera, dentro de uma caixa de sapato, e, depois, casou-se no Rio. Aqui existe dúvida se o farmacêutico e o intelectual eram duas pessoas distintas ou, na verdade, seriam a mesma pessoa. Essa dúvida foi ressaltada pelo sobrinho de Francisca Júlia, Paulo César da Silva, filho do escritor Júlio César da Silva, irmão da poetisa, que uma vez ouviu seu pai comentar sobre o caso, mas não conseguiu se lembrar se eram a mesma pessoa ou não.

Já nesse mesmo ano, a família da poetisa manifestava vontade de deixar a cidade. O jornal “Correio de Salto”, em sua edição de 16 de dezembro de 1906, faz um apelo aos intelectuais daquela cidade, então vila, para que conseguissem a transferência de d. Cecília para uma das escolas locais. Francisca Júlia, por sua vez, tinha interesse em voltar a São Paulo.

Quando ainda morava em Cabreúva, Francisca Júlia foi convidada para ingressar na Academia Paulista de Letras, que alguns literatos tentavam fundar em São Paulo. A poetisa recusou, pois só aceitaria o convite se o seu irmão Júlio César da Silva também fosse convidado.

Em 3 de julho de 1908, realizou-se em Itu, no salão da Câmara Municipal, uma concorrida conferência literária. Francisca Júlia foi convidada para esse evento, que contou com um público seleto de, aproximadamente, oitenta pessoas. Escolheu o tema “A feitiçaria sob o ponto de vista científico”, destacando o ceticismo do mundo que torna os homens descrentes de tudo. Faz até mesmo citações da Cabala. Fala de lobisomem, bruxaria. Percebe-se que, nesse período, Francisca Júlia demonstrava estar envolvida pelo misticismo e sobrenatural.

Por decreto de 5 de outubro de 1908, sua mãe foi removida para a Escola de Lajeado, na Capital.

Em 1909, aos 37 anos, Francisca Júlia se casa com Filadelfo Edmundo Munster, telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil. Munster era natural de Barra Mansa (RJ), de poucas posses e limitada bagagem intelectual. A bela cerimônia, que teve Vicente de Carvalho como padrinho, realizou-se na capela de Lajeado, Capital (SP).

A partir desse ano, Francisca Júlia decide deixar a poesia de lado e se dedicar apenas ao esposo e ao lar. Sua casa era modesta, mas muito bem cuidada. O esposo era homem de poucas palavras, mas elogiava a sua “Chiquinha”, que ele considerava uma grande poetisa. Francisca Júlia sempre viveu bem com o marido, por quem tinha respeito e amor.

Outro dia, publicarei mais curiosidades sobre a filha ilustre do Vale do Ribeira.

(Crônica publicada no “Jornal Regional”, nº 621, de 10-6-2005).

3 comentários:

  1. maravilhoso este texto sobre Francisca Júlia da Silva Munster...

    Parabéns Roberto!!!!

    ResponderExcluir
  2. Francisca Julia,

    uma poesia viva,
    na alma
    dos poetas
    que escrevem
    a dor
    com cores fortes

    Fred Albano

    ResponderExcluir
  3. Muito interessante saber sobre Francisca Julia a poetisa,tantos talentos brasileiros do passado,que incrível!!!! Eu moro atualmente em Cabreúva e por não estar acostumada ainda com a idéia de ser uma das novas moradoras,encantei-me com este blog,parabéns!!!!

    ResponderExcluir